O Ibama - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, Polícia Federal e Exército voltarão a realizar novas operações para impedir madeireiros peruanos de retirar mogno das terras dos índios Ashaninca, na fronteira do Brasil com o Peru. A decisão foi tomada em reunião na aldeia indígena entre autoridades federais e lideranças dos Ashaninca.
Ano passado, 37 pessoas contratadas por madeireiros - a maioria peruanos - chegaram a ser presas e o Ibama destruiu mais de 6 mil metros cúbicos de madeira serrada. A implosão da madeira, segundo o integrante da Diretoria de Florestas do Ibama, Kleber Alves, foi estratégica. Seria impossível remover as toras, naquele momento. Destruí-las significou evitar que o madeireiro tivesse a chance de vender o produto e se capitalizar para nova safra.
Apesar das operações do ano passado, lideranças dos Ashaninca contaram que ainda recebem ameaças de morte por denunciarem a ação ilegal dos madeireiros e que é possível ouvir o barulho das motos-serra, muito próximo da aldeia.
O pajé Isak Piyãko informou que subindo o rio Amônia por dez minutos a bordo de uma voadeira (embarcação com motor) se chega ao local onde mais de 100 árvores estão marcadas para o corte. Em cada uma, há nome do trabalhador que a irá derrubar.
A extração ilegal de mogno na terra dos Ashaninca vem se arrastando há anos, mas se intensificou ultimamente. Para traçar novas ações de combate a tais ilícitos ambientais, realizou-se, no fim de semana, reunião na aldeia com a presença de representantes de três órgãos públicos e do Ministério Público Federal, de políticos locais, do governador do Acre, Jorge Viana, e do comandante Militar da Amazônia, general Cláudio Barbosa Figueiredo, além de outros três generais.
O governador fez apelo para que os índios não revidassem com violência. "O pior que pode acontecer é alguém morrer. Seria criar problemas para filhos e netos." Informou que terá audiência com o presidente do Peru, Alejandro Toledo, no início de março e negociará a adoção de medidas que garantam a "paz na fronteira".
O Brasil está financiando boa parte da estrada de saída para Oceano Pacífico ligando a cidade de Assis Brasil (AC) ao porto Illo, a ser construída basicamente em território peruano. Em contrapartida, Viana quer que o governo do Peru garanta proteção ambiental numa faixa entre 30 a 40 quilômetros na fronteira. A atual política do país vizinho na área florestal é condenada por Viana. "O Peru vende a US$ 50 o metro cúbico de mogno que vale US$ 1.300 no mercado internacional. Ele está pegando ouro e vendendo por areia."
O Peru tem autorizado exploração madeireira justamente na fronteira. Em reunião reservada, Kleber Alves, do Ibama, mostrou ao presidente da Associação Ashaninka do Rio Amônia (Apiwtxa), Benki Piyãko, e ao pajé Moises Piyãko o mapa das concessões dadas pelo governo peruano. As empresas avançam em território brasileiro, apesar de marcos visíveis indicando a divisa dos países.
O ashaninca Benki contou ter feito contato com uma das empresas peruanas atuantes na área. Benki ouviu um gerente dizer que estava acompanhando plano do governo peruano e não deixaria de "fazer o trabalho" porque outros assumiriam o seu lugar. Para ele, apenas a união de forças de dentro e de fora do Brasil poderão mudar esta situação.
Pelo menos do lado brasileiro, a tarefa está sendo cumprida. O Ibama planeja monitoramento aéreo mensal na região, paralelo às operações conjuntas de fiscalização com a PF e o Exército. O governo do Acre ofereceu ajuda da Polícia Militar e gestões com autoridades peruanas. Mais dois pelotões do Exército serão instalados na fronteira para aumentar a presença do Exército na região. Segundo o general Figueredo, a força militar passará de 15 para 66 homens.
Por sua vez, os Ashaninca não se limitam a denúncias contra madeireiros peruanos. Eles têm guiado fiscais dentro da floresta, colaborado nas operações e também esclarecido ashanincas que moram no lado peruano sobre os impactos negativos da exploração de mogno sobre a caça, a água e a cultura indígena.
PIB:Acre
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