A situação territorial dos Tenharim: ameaças e resistências

Amazônia Real (Manaus - AM) - www.amazoniareal.com.br - 13/07/2015
A demarcação de Terra por si só não parece garantir a segurança do povo e do território Tenharim, localizado no Estado Amazonas. Primeiro, porque a estrada Transamazônica atravessa no meio do território, que está diretamente interferindo e modificando as aldeias, a economia, a política e a vida social do povo. Segundo, pelas fronteiras que fazem com vilas agrícolas, fazendas, atividades agropecuárias, garimpos, assentamentos do Incra, serrarias e barragem Tabajara. Situação que cria apreensão, tensão e atenção permanente do povo.

Essa situação coloca o território Tenharim em zonas frágeis e vulneráveis diante de invasões de madeireiros, mineradores, pescadores, caçadores, fazendeiros e pressão pelos quais passam diante dos processos de transformação. Estes avançam sobre áreas de concentração de recursos naturais como castanhais, seringais, lagos, barreiros, campos naturais. Banalizam os lugares sagrados, as antigas aldeias e cemitérios e os ambientes considerados como casas de espíritos da mata e dos animais. Os relatos dos indígenas dão conta de que nos últimos anos, são cada vez mais escassas a caça e a pesca, de forma que os obriga a comprar alimentos industrializados.

Na qualidade de antropólogo convidado pelos Tenharim, estive na aldeia Marmelos três vezes em 2015, quando acompanhei e presenciei a situação deste povo. É com base nestas visitas, nas conversas com os indígenas Tenharim e em estudos que faço este relato.

Recentemente, o território passou por conflito intenso devido, entre outras causas, a cobrança de compensação pelo uso do trecho da estrada Transamazônica no território. Os órgão governamentais foram mobilizados, de modo que promoveram reunião para dar uma solução ao caso. Até presente momento, os Tenharim esperam pela ação do governo para mitigar seus problemas.

Como não bastasse isso, a pressão sobre território continua e os conflitos iminentes que configuram nesse momento são: Usina Hidrelétrica Tabajara e assentamento do Incra, na Gleba B.

O presidente da APITEM (Associação dos Povos Indígenas Tenharim), Antônio Tenharim, informou que, desde o ano de 2010, o trabalho de construção de barragem vem sendo desenvolvido pela empresa Tabajara. A apreensão dos caciques recai sobre a margem de erro de 20% nas estimativas de alagamento a ser causado pela barragem. Márcio Tenharim, vice-presidente da APITEM, disse que a margem de erro é suficiente para o povo ficar apreensivo, pois o alagamento atingirá a cabeceira do igarapé Preto, que compõe a bacia do rio Machado e atingirá os castanhais que ficarão encharcados e consequentemente, poderão morrer, além de alagar os cemitérios antigos. O território está localizado a menos de 70 km do empreendimento.

O assentamento do Incra também põe em risco o povo Tenharim. Deste modo, os caciques consideram o governo como principal invasor, na medida em que é o maior incentivador e financiador de invasões de terras indígenas, como foi na construção da Transamazônica, empresas de mineração, exploradores de madeira, militares, missionários e agora, através do Incra, está incentivando outra invasão. Está até financiando.

Os dois modelos põem em risco diretamente os indígenas sem contatos. Todos os Tenharim falam sobre a existência de índios isolados em seu Território. Relatam que sempre encontram vestígios quando coletam castanha e acham que sejam seus parentes, pois quando se sentem ameaçados, eles gritam com algumas palavras e de repente os barulhos cessam. Às vezes se comunicam com os assobios, quando são correspondidos da mesma forma. Com isso, os caciques acreditam que o desejo de contato deles deve partir de sua inciativa. Enquanto isso não ocorre, eles vão se comunicando com os assobios e com pequenos sinais na mata.

Apesar de toda pressão, os Tenharim têm sua Festa de Mboatava, que funciona como centro dinamizador de relações sociais e ápice da expressão cultural como identidade Tenharim. Representa um símbolo de resistência dentro do universo globalizante. Além de ser uma prática cultural de afirmação de identidade Tenharim, a festa opera para atualização de saberes e seus conhecimentos, é um espaço social de casamentos de jovens Tenharim. A festa também é um espaço de consolidação de alianças entre os grupos e com outros povos de seu entorno. No contexto atual, a festa é um espaço de construção de parcerias e aglutinação de aliados, isto é, com os órgãos governamentais e não governamentais e simpatizantes pela causa Tenharim.



João Paulo Barreto é indígena da etnia tukano, nascido na aldeia São Domingos em São Gabriel da Cachoeira (AM). É graduado em Filosofia e mestre em Antropologia pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam).

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PIB:Tapajós/Madeira

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