O líder Guarani-Kaiowá Silvio Paulo denunciou em entrevista à Amazônia Real um novo ataque de pistoleiros à Terra Indígena Dourados-Amambaipeguá 1, no Mato Grosso do Sul. Segundo ele, na noite de segunda-feira (11) três indígenas, entre dois adolescentes, foram atingidos por tiros de armas de fogo disparados por homens não identificados no acampamento do Tekoha Guapoy Guassu, que é uma retomada do território tradicional invadido por um sítio de produção rural, a 25 quilômetros de distância de Caarapó. Não há registro de mortes no conflito.
Procurada pela reportagem, a presidência da Fundação Nacional do Índio (Funai) confirmou este segundo ataque aos índios Guarani-Kaiowá em menos de um mês. No último dia 14 de junho, o índio Clodiodi Souza foi morto a tiros, e outras seis pessoas ficaram feridas na Fazenda Yvu em um ataque de cerca de 70 pessoas, entre elas produtores rurais e homens encapuzados. Ninguém foi preso até o momento pela morte de Clodiodi. A Polícia Federal investiga o caso.
Por causa da tensão entre produtores rurais e índios, a região da TI Dourados-Amambaipeguá 1 está sob a vigilância da Força Nacional de Segurança e da Polícia Federal.
"O pessoal estava cantando e dançando Guaxiré no Tekoha Guapoy. Eles [os homens armados] vieram no escuro dentro de um trator. Eram uns quatro ou cinco homens. Quando chegaram próximo a mangueira, acenderam as luzes do trator e começaram a atirar. Foram três pessoas feridas, uma criança e dois rapazes. Eles foram atendidos no hospital e liberados depois", contou como foi o novo ataque o líder Sílvio Paulo, à Amazônia Real.
Ele disse que os índios Guarani-Kaiowá estão sem proteção. "A Força Nacional de Segurança chega aqui e fica até as 16 horas, e vai embora. A gente não tem segurança de hora em hora", disse a liderança Sílvio Paulo.
Segundo a Funai, no novo ataque foram feridos: Elison Sanches, de 17 anos, que tomou um tiro no antebraço, que ficou alojado no tórax; Nilson Escobar de Souza, de 32 anos, que tomou um tiro no braço esquerdo; e Ernesto Araújo, de 15 anos, que tomou um tiro no joelho esquerdo.
Os três indígenas feridos foram atendidos no Pólo base da Sesai em Caarapó, e estão fora de perigo, diz a Funai.
O novo ataque de pistoleiros ao acampamento Tekoha Guapoy Guassu aconteceu no momento em que os índios Guarani-Kaiowá deram uma trégua na retomada das fazendas e sítios que estão dentro do território Dourados-Amambaipeguá 1, reconhecido pela Funai e em processo de demarcação. A trégua aconteceu depois que os índios fizeram um acordo no Ministério Público Federal. Eles, que tinham retomado três fazendas e seis sítios anteriormente, disseram que não fariam novas ocupações.
Segundo o procurador da República em Dourados (MS), Marco Delfino de Almeida, em entrevista recente à Amazônia Real, os fazendeiros firmaram acordo de negociação para não haver mais conflitos na região. Moradores das fazendas Yvu e de outros seis sítios deixaram esses locais sob escolta da Força Nacional.
Para o líder Silvio Paulo, o novo ataque de pistoleiros ao sítio onde está a retomada Tekoha Guapoy é um descumprimento do acordo feito com o MPF por parte dos fazendeiros. "Nós fizemos um acordo para não fazer mais retomadas do nosso território. Eles [os fazendeiros] estão descumprindo. Esse acordo foi feito com o procurador para eles não atacarem mais a gente. Nós retomamos nove [propriedades], entre fazendas e sítios. Eles furaram", disse Sílvio Paulo.
Entre as fazendas retomadas estão Yvu e Novilho. A reportagem procurou o MPF para repercutir a denúncia do novo ataque aos Guarani-Kaiowá, mas nenhuma autoridade comentou o caso. O Sindicato Rural de Caarapó declarou desconhecer o ataque.
A Funai disse que está levantando as informações sobre a extensão do novo conflito e enviou a seguinte nota: "Nesse momento, uma equipe formada por servidores da Funai, da Força Nacional de Segurança, da Polícia Federal e o procurador do Ministério Público Federal estão no local. Teremos mais informações no retorno da equipe."
O conflito com os Guarani-Kaiowá explodiu um mês depois que a Fundação Nacional do Índio (Funai) reconheceu a TI Dourados-Amambaipeguá 1, com 55.590 hectares, em 12 de maio, dia em que a presidente Dilma Rousseff (PT) foi afastada do cargo para responder o processo de impeachment que tramita no Senado Federal.
No processo de demarcação de terras indígenas há mais duas fases: a declaração dos limites (a cargo do ministro da Justiça) e a homologação da demarcação, a cargo da Presidência da República. Mas os indígenas estão temerosos com uma possível revisão dos atos no governo do presidente interino Michel Temer (PMDB), daí a tensão em todo o país.
http://amazoniareal.com.br/indios-guarani-kaiowa-denunciam-novo-ataque-de-pistoleiros-em-caarapo-ms/
PIB:Mato Grosso do Sul
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