Índios e produtores rurais temem novos conflitos em Caarapó, MS

G1- http://g1.globo.com - 13/07/2016
O clima é de aparente tranquilidade na área indígena Dourados-Amambaipeguá 1 dois dias depois do confronto entre índios e produtores rurais, na última segunda-feira (11), quando três indígenas ficaram feridos. O G1 esteve na região nesta quarta-feira (13), durante patrulha de rotina da Força Nacional. Apesar da calmaria, tanto indígenas quanto fazendeiros estão com medo de novos conflitos.

As equipes estão na região há quase um mês, desde que o agente de saúde indígena Clodiode Aquileu Rodrigues de Souza, de 26 anos, foi morto a tiros durante a retomada da fazenda Yvu por produtores rurais. O local havia sido ocupado por indígenas dias antes.

O confronto mais recente aconteceu na noite de segunda-feira. Indígenas dizem que dançavam quando um trator com uma pá carregadeira e uma caminhonete se aproximaram e os ocupantes atiraram. Dois adolescentes e um jovem foram baleados.

Na mesma noite, um sítio foi atacado por indígenas, segundo os moradores da propriedade. As janelas foram apedrejadas e os vidros quebrados. "Era 22h. Nem eu sei o que aconteceu, para falar a verdade. Eu estava dormindo e acordei com o barulho dos tiros. Quando nós abrimos a janela para olhar tinha um trator passando e dois carros, olhamos para trás e vinham os índios passando. Pegamos as crianças dormindo, meu sogro e saímos", contou Adriana Pateis França Marques. Ela e o marido moram no local há 17 anos e dizem que nunca tiveram problema com indígenas vizinhos.

"Eles tentaram entrar na minha casa uma vez e registrei boletim de ocorrência, mas fora isso nunca tive problema, eles apenas roubaram minha casa. E quando a Força Nacional chegou aqui a gente voltou e não tinha mais ninguém", contou Adriana.

O G1 também esteve na aldeia Teyí Kuê e conversou com Silvio Paulo Matos, uma das lideranças mais antigas da região. Ele diz que a comunidade está preocupada com a situação de conflito por terras, principalmente por conta dos últimos ataques.

"Quase 6 mil pessoas moram aqui na área indígena e a gente está muito preocupado porque fizemos acordo com o ruralista em frente à Justiça de que não iríamos retomar mais áreas, paramos em 8 áreas retomadas e vamos esperar a lei, mas os ruralistas estão furando esse acordo e estão começando a atacar a gente. Estamos nervosos e estamos discutindo para ver o que fazer, porque se eles não pararem de atacar vamos ter que fazer alguma coisa", afirmou.

Ele acredita que o problema de conflito por terras na região só será resolvido quando o Governo Federal indenizar os produtores rurais de forma justa. "Na minha opinião, o governo deve agilizar isso logo, porque o fazendeiro não está errado em querer a terra, o índio também não está errado, eles não têm culpa, nós não temos culpa, mas o governo na época escriturou nossas terras que eram dos nossos tataravôs e deu para eles [fazendeiros], e eles falam que compraram, mas nossos antepassados já moravam aqui antes, há 500 anos", ressaltou.

Sobre o ataque ao sítio na segunda-feira, Silvio reconhece que foi uma forma de revidar o ataque aos indígenas baleados e afirma que a ação foi isolada, movida pela emoção do momento, assim como o caso dos policiais militares feitos reféns em junho, quando o indígena foi morto.

"A gente entende que não deveria ter acontecido essas coisas, mas foram casos isolados e quem fez não é e não representa a maioria dos indígenas. Nós queremos ir até a cidade, falar com a Polícia Militar e mostrar que não concordamos com isso, que precisamos deles e queremos ter um bom contato", explicou.

A aldeia fica em uma área indígena demarcada em 1915, segundo Silvio. O indígena Avaí Ramires estava com outros indígenas na fazenda Novilho, depois da aldeia. Ele disse que o grupo não vai abrir mão da terra.

"Para nós, parece que não acaba nunca esse problema, estamos aqui para resolver algumas coisas. A todo momento estamos recebendo notícia de que os fazendeiros se juntando para atacar a gente de novo, mas se isso acontecer estamos preparados", afirmou Avaí.



http://g1.globo.com/mato-grosso-do-sul/noticia/2016/07/indios-e-produtores-rurais-temem-novos-conflitos-em-caarapo-ms.html
PIB:Mato Grosso do Sul

Áreas Protegidas Relacionadas

  • TI Dourados-Amambaipeguá I
  •  

    As notícias publicadas neste site são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.