Grupo de 150 índios derruba árvores da Veracel. Reclamam dos prejuízos ambientais e afirmam ter direito sobre a área
Cento e cinqüenta índios da Frente de Resistência e Luta Pataxó, da Aldeia Guaxuma, em Porto Seguro, na margem da BR-101, invadiram ontem uma área da empresa Veracel Celulose e derrubaram eucaliptos, utilizando motosserras e machados.
O movimento ocorreu um dia antes da chegada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que estará presente na inauguração da fábrica de celulose da Veracel.
Os pataxós estão reivindicando o fim do plantio de eucalipto e a suspensão das atividades de empresas ligadas à atividade nas áreas onde a Fundação Nacional do Índio (Funai) realiza estudos técnicos para ampliação do território indígena.
A retomada da Fazenda Água Vermelha, que tem área total de 157 hectares, iniciou por volta das 4 horas da manhã de ontem. Até o final da manhã, já haviam sido derrubadas mais de duas mil árvores. "Não vamos queimar, só queremos destruir os eucaliptos, não queremos isso em nossas terras", disse o índio Fura Mata, um dos líderes da Aldeia.
A Fazenda Água Vermelha é vizinha à aldeia, e em alguns locais, a plantação do eucalipto não fica distante nem dois metros da cerca da aldeia. "Eles não estão respeitando nosso território e nem nosso povo", contou Curupixá, outro líder indígena.
Ontem pela manhã, o clima era tranqüilo na área ocupada. Enquanto mulheres e crianças se protegiam à sombra das árvores, cozinhando, tomando banho e iniciando a construção de abrigos com os galhos das árvores derrubadas, os homens faziam vigília na cerca de acesso à fazenda, permitindo a entrada apenas da imprensa e de pessoas ligadas ao movimento, que continuava a derrubada.
"Estou derrubando porque está secando os rios", disse o pequeno Aricrim, de 11 anos, com um facão nas mãos, limpando galhos de eucalipto para construir uma cabana. A aldeia de Gaxuma foi criada há cinco anos, possui uma área de 20 hectares, abrigando 35 famílias indígenas, cerca de 150 índios.
A assessoria de imprensa da Veracel Celulose afirmou que já estava ciente da invasão, mas no momento não iria se posicionar em relação ao caso, pois não havia sido procurada pelos índios.
Meio Ambiente - Ambientalistas apontam a dimensão da monocultura de eucalipto na região, mais de 400 mil hectares, segundo dados do Ibama, e o secamento dos rios, devido à grande quantidade de água consumida nas plantações, como principais danos ao meio ambiente na região.
"Não sou contra um eucalipto, o problema é a dimensão da monocultura, que espanta toda a biodiversidade da região", disse o engenheiro Renato Cunha, do Grupo Ambientalista da Bahia - Gambá. Segundo ele, o plantio está afetando o lençol freático. "A expansão da área plantada está sendo feita sem nenhum controle", lamenta.
Saiba mais
Em outubro de 2004, cerca de 250 índios interditaram a BR-101, nas proximidades da cidade de Itamaraju, também para protestar contra o impacto da monocultura de eucalipto no extremo sul do Estado.
Na ocasião, os pataxós de Guaxuma contaram com o apoio dos índios, xacirabá, maxakali, tupinambá, pataxó hã-hã-hãe, karajá e apinajé, representando etnias da Bahia, Minas Gerais, Mato Grosso, Tocantins e Espírito Santo.
Na Dança do Toré, os índios ocuparam a BR-101 por cerca de 19 horas, descarregaram na pista toras de eucalipto que estavam sendo transportadas por carretas da Veracel Celulose e fizeram fogueiras.
PIB:Leste
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