Potencial hidrelétrico ameaça a Amazônia

FSP, Especial, p. 2 - 26/08/2016
Potencial hidrelétrico ameaça a Amazônia

NÁDIA PONTES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Ademir Kaba Munduruku prefere não falar em vitória. A resistência de seu povo, que vive às margens do rio Tapajós, no Pará, levou ao arquivamento do projeto de construção da hidrelétrica São Luiz do Tapajós, planejada para gerar até 8 mil MW.
"É uma conquista parcial. A gente não acredita que essa decisão signifique o fim das hidrelétricas no Tapajós. Há outras previstas", disse. O Ibama arquivou o processo no início de agosto alegando que a usina traria impactos irreversíveis e removeria indígenas de suas terras tradicionais.
Na visão de Kaba, a proposta jamais deveria ter sido mencionada porque a Constituição proíbe a exploração das terras ocupadas por índios. Com outras lideranças, ele ainda aguarda a demarcação oficial da Terra Indígena Sawré Muybu, área de 178 mil hectares que teria 8% do território alagado pela usina.
Os Mundurukus e pelo menos outros 300 mil indígenas habitam uma das áreas mais cobiçadas pelo setor elétrico no país: a região Amazônica.
Detentora da maior floresta tropical do mundo, suas águas ainda pouco exploradas guardam um enorme potencial hidrelétrico. São cerca de 96 mil MW, cerca de 10 usinas de Belo Monte. Segundo o SIPOT (Sistema de Informações do Potencial Hidrelétrico Brasileiro), gerido pela Eletrobrás, 10 mil MW estão sendo explorados até agora.
É por isso que existem 92 represas planejadas, afirma José Galizia Tundisi, professor da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) e autor de diversos estudos.
Thiago Almeida, do Greenpeace, afirma que o país não precisa de usinas na Amazônia. Um estudo lançado pela ONG aponta que toda a demanda por energia no país pode ser suprida pelas fontes solar, eólica e biomassa.
"Somos contra hidrelétricas na Amazônia por causa dos impactos socioambientais que geram. Já é uma região que sofre com a pressão do desmatamento, agropecuária e mineração", afirma.
O desmatamento direto e indireto também precisa ser considerado, como mostram estudos do pesquisador Evandro Albiach Branco, do INPE. Belo Monte foi um caso emblemático. "A mera expectativa gerada pela emissão da licença de instalação fez com que os índices de desmatamento na área disparassem."

FSP, 26/08/2016, Especial, p. 2

http://arte.folha.uol.com.br/especiais/2016/08/26/o-fim-da-era-fossil/index.html
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