Pimenta Jiquitaia Baniwa para corpo e alma

ISA- https://medium.com/@socioambiental - 11/10/2016
A valorização de ingredientes da agrobiodiversidade indígena brasileira e sua incorporação ao circuito gastronômico é recente. A pimenta jiquitaia Baniwa é um desses casos. Cultivada exclusivamente por mulheres, que todos os dias colhem em suas roças e quintais uma pequena porção, a pimenta vem despertando crescente interesse e contribuindo na expansão de nossa cultura gastronômica. Restaurantes estrelados de São Paulo e de outras capitais brasileiras como Belém e Manaus já utilizam em suas receitas a pimenta vinda do Rio Içana, Alto Rio Negro, no noroeste amazônico.

A história dessa pimenta-utilizada nas cozinhas dos índios Baniwa e em seus rituais de iniciação-está contada no livro Pimenta Jiquitaia Baniwa, lançado pelo ISA, pela Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn) e pela Organização Indígena da Bacia do Içana (Oibi).

No formato de livro de bolso, a publicação leva o leitor a percorrer, através de 63 páginas, as roças e jardins de pimenta da Bacia do Rio Içana, guiado pelas mãos das mulheres, as guardiãs das roças, que cultivam, cuidam das plantas e entoam cânticos de iluminação para que elas cresçam saudáveis e a colheita seja farta. Fotos e ilustrações, explicações e muitas histórias revelam um mundo de 78 variedades, encontradas em território Baniwa, na Terra Indígena Alto Rio Negro. Receitas com jiquitaia desenvolvidas por chefs como Alex Atala, Felipe Schaedler e Bela Gil, incentivam o leitor a experimentar e se deliciar.


De corpo e alma


O fruto tem papel fundamental na cosmologia desses povos. Nos ritos de passagem (da adolescência para a vida adulta), meninos e meninas experimentam pimentas para a purificação e proteção de seus corpos. O ecólogo Adeilson Lopes da Silva, do ISA, explica que ela funciona como um escudo-espada, um adorno-poder, invisível, para proteger contra a agressividade dos espíritos causadores de doenças. E destaca a relação imaterial dos Baniwa com o fruto, desde sua domesticação até a conservação desse importante patrimônio genético amazônico. Adeilson é coordenador da pesquisa desenvolvida pelos Baniwa e acompanha de perto o projeto da Rede de Casas da Pimenta.

O poder das pimentas em melhorar a saúde e bem-estar das pessoas é reconhecido no mundo inteiro. As elas são atribuídas uma série de efeitos, tais como: atividade redutora de doenças cardiovasculares, potencial antioxidante, propriedades anticâncer, ação analgésica, anti-úlcera, influência sobre o sistema nervoso, melhora do aparelho respiratório, ação anti-inflamatória, antidepressiva e ainda a propriedade de aceleração do metabolismo, beneficiando processos de emagrecimento. Em 2015, causou grande impacto a divulgação de um estudo chinês alegando que pessoas que consomem alimentos condimentados quase todos os dias têm 14% menos possibilidades de morrer que aqueles que comem alimentos picantes menos de uma vez por semana.

Em termos de importância regional, a pimenta só fica atrás da mandioca, base do Sistema Agrícola Tradicional do Rio Negro, reconhecido em 2010 como patrimônio cultural do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Os detalhes sobre esse sistema agrícola também são um item específico do livro.


Tradição milenar


A ideia de reciclar a tradição milenar para transformar as pimentas em pó em uma alternativa para o desenvolvimento sustentável das comunidades, valorizando o trabalho das mulheres, começou a ser discutida em abril de 2005, a partir do I Encontro de Mulheres do Içana, que contou com a participação de técnicos do ISA. E a proposta de comercializá-la no sudeste ganhou fôlego.

Assim, a Organização Indígena da Bacia do Içana (Oibi), em parceria com o ISA, passou a monitorar dados sobre produtividade e diversidade das pimentas cultivadas e a indicar as melhores estratégias para acessar o mercado. A ideia é que a pimenta fosse um produto da marca Arte Baniwa, lançada em 1999, com o projeto de cestaria de arumã, e poderia, assim, aproveitar a experiência de produção e comercialização já desenvolvida pela Oibi.

Um ano depois, em novo encontro na Comunidade Tucumã-rupitá, promovido pela Oibi, as mulheres mostraram os experimentos que vinham realizando em suas roças para tentar conquistar os mercados do sudeste agregando aos frutos cultivados valor cultural e ambiental.


As Casas da Pimenta


Em janeiro de 2013 foi inaugurada a primeira Casa da Pimenta Baniwa, na comunidade de Tunuí Cachoeira. A segunda a entrar em funcionamento, em 2014, foi a da comunidade de Ucuqui Cachoeira e as duas últimas, inauguradas em 2015, foram respectivamente na Escola Pamaáli, e na comunidade Yamado, na margem direita do Rio Negro, defronte à cidade de São Gabriel da Cachoeira.

À exceção desta última, as outras distam cerca de 400 km da cidade por rio. Uma quinta unidade está em fase de acabamento.

Além se serem espaços que agregam a produção das roças e quintais familiares Baniwa, as Casas da Pimenta cuidam do processamento, envase e estocagem, e realizam o controle de qualidade e de fluxo de informações. De acordo com o plano de negócios, a expansão da produção é projetada afim de não gerar pressões de demanda que alterem a rotina das comunidades.

Hoje, a pimenta Jiquitaia Baniwa é vendida em lojas especializadas e espaços de destaque no circuito gastronômico de várias cidades brasileiras.

Com o lançamento do Pimenta Jiquitaia Baniwa, também estão sendo reeditados dois livros: Arte Baniwa, Cestaria de Arumã e Kumurô Banco Tukano. Todos estão à venda na lojinha do site do ISA por R$ 20,00 cada exemplar.

O projeto das Casas da Pimenta contou com o apoio do Instituto Bacuri, do Instituto ATA, da Tides e a impressão do livro teve suporte da Fundação Rainforest da Noruega.



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PIB:Noroeste Amazônico

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