Trabalho para reconquistar lugar do índio

OCP Online- http://ocponline.com.br - 04/01/2017
No Brasil, falar o termo "índio" é considerado pelos estudiosos algo extremamente genérico. Isso porque são mais de 300 povos diferentes, com mais de 200 línguas, distribuídos em todo o território brasileiro. Segundo o levantamento do IBGE de 2010, metade da população indígena do país vive dentro da Amazônia e a outra metade se localiza principalmente no Sul e Sudeste, algumas regiões do Centro-Oeste e no Nordeste, mas está presente em quase todo o território nacional.

De acordo com o mestre em antropologia social Diogo de Oliveira, jaraguaense que hoje atua diretamente na Funai (Fundação Nacional do Índio), em Brasília, há uma discrepância em relação às terras destinadas aos índios e os locais onde habitam. Embora metade da população indígena brasileira esteja fora da Amazônia, é lá que estão 95% das terras a ela destinadas, explica. Isso quer dizer, segundo ele, que a maior parte desta população que está fora daquela área não possui território regularizado e demarcado.

Indigenista especializado, Oliveira conta que seu departamento faz os estudos de demarcação da terras indígenas em todo o país. É competência de sua equipe a elaboração dos estudos, responder as contestações e atender diligências do Ministério da Justiça e da presidência da República, dentro do processo de demarcação das terras indígenas. "O meu papel é de participação, orientação das equipes, avaliação dos relatórios apresentados para ver se atendem os requisitos legais para caracterizar uma terra indígena", observa.

Oliveira destaca que as dificuldades que cercam os povos indígenas variam muito de região para região. Em algumas áreas se enfrentam problemas muito graves por dificuldade de vigilância e monitoramento, como garimpo, madeiragem, utilização das terras indígenas como rota de ilícitos, entre outros", salienta. Em outros locais, o coordenador explica que eles enfrentam justamente a falta de terras, que impõe uma dificuldade de sobrevivência e, sobretudo, de manutenção dos costumes e da forma de ser. "Índio sem terra não consegue continuar sendo índio", diz.

Uma questão negativa e que, de acordo com o especialista, é generalizada, é o racismo. Isso acontece em praticamente todo o país. É um racismo motivado pela falta de conhecimento. As pessoas não conhecem os índios, têm uma imagem de que o indígena é aquele ser pintado no livro de história e os imaginam como pessoas do passado. Não conseguem entender que eles são nossos contemporâneos, aponta. Oliveira expõe que as dificuldades são muitas, seja para geração de renda ou para conseguir emprego.

Quando o indígena não tem suas terras regularizadas, ou mesmo quando tem, há dificuldade tanto para permanecer com o modo de vida próprio - porque há invasões, não tem trabalho, não consegue mais viver exatamente como era antigamente - como também por não conseguirem sair, pois geralmente possuem pouca escolaridade, alfabetização frágil, enfrentam um preconceito enorme e geralmente as aldeias são afastadas da cidade", enfatiza.


Invisíveis para a sociedade


Em Santa Catarina, na Região Norte do Estado, o coordenador começou o trabalho com os indígenas em 2005. "Eu cresci aqui e quando iniciei as atividades, a primeira coisa que pensei foi como vivi tanto tempo na região e nunca soube que tinha índios no local. De alguma forma, eles se tornaram invisíveis para as pessoas. Se pararmos para refletir, temos diversas referências deles. Por exemplo, Jaraguá é um termo indígena; Rio Itapocu, cujo nome significa pedra comprida, também. Portanto, as nossas referências de nomes na nossa própria cidade são indígenas. Eles não são reconhecidos, mas sempre estiveram aqui", afirma.

Mesmo com todas essas dificuldades, os povos indígenas continuam tentando preservar sua cultura e costumes. O coordenador revela que a língua é bastante trabalhada e as crianças já aprendem desde cedo. "Eles são bilíngues, pois aprendem a ler e escrever na própria língua e depois, na escola, aprendem o português.

Eles também possuem a própria religião, conseguem manter vários costumes do dia a dia, como viver em volta do fogo, tomar chimarrão, a agricultura, o artesanato - mecanismo de geração de renda mais comum. As coisas que eles usavam, cocares, colares, pulseiras, chocalhos, hoje são feitas para comercialização", observa.

Esta é uma realidade que atinge as quase 20 famílias vivem na aldeia guarani Piraí, em Araquari, às margens da BR-280, no sentido Guaramirim à BR-101. A aldeia, visitada por Oliveira em passagem pelo município, leva artesanato para as calçadas de Jaraguá do Sul.

"Atualmente, a população indígena vem aumentando exponencialmente, ao mesmo tempo em que vem conseguindo manter a cultura. Costumo dizer que uma cultura que não muda é uma cultura que morreu. Portanto, é isso que eles estão fazendo, continuam sendo indígenas em contato permanente com um mundo não-indígena em torno deles", conclui.



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