Escola de samba carioca traz enredo sobre os povos do Xingu

Metro Jornal- http://www.metrojornal.com.br - 16/01/2017
Com seis alegorias, 32 alas e 3,2 mil componentes, a Imperatriz Leopoldinense será a terceira escola a desfilar no domingo de Carnaval, no dia 26 de fevereiro, quando levará para a Avenida um "projeto mais ousado", como diz o carnavalesco Cahê Rodrigues, que está desde 2013 na agremiação. Com o enredo "Xingu, o Clamor da Floresta", a escola do bairro de Ramos promete fazer o público não esquecer do que foi apresentado na Sapucaí. A carga emocional, os efeitos visuais e movimentos são apostas da Imperatriz para chegar ao 9o título - o último foi em 2001.

Como surgiu este enredo?

Eu venho guardando esse desejo de falar sobre o tema indígena faz um bom tempo. Este ano pintou a oportunidade e todos gostaram da ideia. O tema foi desenvolvido e baseado nas histórias de conquistas e de lutas dos índios de Xingu. É um momento bacana e oportuno e é um enredo bem atual. O índio não tem voz. Todas as vezes que ele quer falar, é calado.

Vocês visitaram a região do Xingu?

Em dezembro do ano passado, fui à comunidade do Xingu, conviver de perto com esse povo. Conversei e escutei deles as angústias e as histórias que mais assustam e rondam o parque. Voltei de lá com outra cabeça e com uma responsabilidade ainda maior de falar dos índios. Fiquei impressionado. É difícil termos uma dimensão real do quanto o índio depende da terra para sobreviver e estar lá me fez ter essa percepção.

A região amazônica na qual o Xingu se localiza sofre muito com o desmatamento. Como foi ver isso?

O único coração verde que ainda dá para ver na região é o Xingu. Uma nuvem verde ao redor de uma devastação, provocada por plantações e uso indevido da terra. É muito assustador. Os índios dormem e acordam preocupados. É um fantasma que assola aquele povo.

O enredo não foi bem visto por agricultores e pecuaristas. Eles acusaram a escola de agredir o agronegócio. Como se deu a polêmica?

Eles deram um tiro no pé. O problema começou faz duas semanas. Usaram uma carapuça que não era para eles. O enredo em momento algum agride o agronegócio e essa nunca foi nossa intenção. Temos uma ala que fala dos "fazendeiros e seus agrotóxicos", numa alusão ao uso indevido desse defensivo agrícola. A Imperatriz não está falando mentira. Outra interpretação errada foi o trecho do samba que diz: "O belo monstro rouba as terras dos seus filhos, devora a mata e seca os rios", no qual relacionaram "monstro" ao agronegócio, quando, na verdade, o "belo monstro" citado no samba está ligado à usina hidrelétrica de Belo Monte (PA). Não tem nada a ver com agronegócio! Agrediram a escola de uma forma absurda, sem ao menos procurarem pesquisar sobre o que o samba queria dizer. Não faz sentido as acusações que estão caindo sobre nosso enredo tão rico.

Como a escola vai se desenvolver na Avenida?

A escola está dividida em seis setores. Vamos abrir falando do lado místico do índio. O segundo setor vai falar das riquezas da fauna e da flora xinguana. Já o terceiro é a chegada dos invasores, que transformaram a vida dos índios em um caos. Depois, vamos falar das angústias que atingem Xingu: as queimadas, os madeireiros, o uso indevido do agrotóxico e a construção de Belo Monte. O quinto setor vai mostrar homens brancos que se levantaram para ajudar os índios brasileiros. E o último é um "Clamor que vem da floresta", como diz o enredo. Clamamos e exaltamos o verde, mostrando ao Brasil e ao mundo a riqueza que é o Parque Indígena de Xingu.

O que a escola vê como diferencial para este ano?

As verdadeiras estrelas desse Carnaval são os índios. Pretendemos trazer as principais lideranças de Xingu para o desfile. Queremos fazer um enredo vivo na Avenida. Carnaval é magia e cultura.



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