Unidos pela paz

O Globo, Revista O Globo, p. 50 - 05/02/2017
Unidos pela paz

Marcos Palmeira/
"Mexeu com o índio, mexeu com o clima. As Terras Indígenas (TIs) são fundamentais para garantir o equilíbrio climático, pois são áreas que apresentam as menores taxas de desmatamento"


"Não entendi o enredo desse samba, amor", diz a canção de Jorge Aragão. O verso explica a confusão armada entre ruralistas e a Imperatriz Leopoldinense. A reação desproporcional de representantes do setor ao enredo "Xingu, o clamor que vem da floresta" demonstra falta de atenção e preconceito, já que o samba da escola de Ramos não faz nenhuma menção ao agronegócio. Além disso, revela uma tremenda falta de visão estratégica: o grande produtor vê o índio como inimigo quando, na verdade, devia tratá-lo como aliado.
O homem do campo sabe que a produção agrícola depende diretamente de fatores climáticos, como temperatura, umidade do solo e luz solar. O desmatamento altera a temperatura e os ciclos de água, tendo como consequência a redução da produtividade agrícola. Segundo o estudo "Economia da mudança do clima no Brasil" (Margulis, Dubeux e Marcovitch, 2011), a perda da produção média de soja no país por causa de impactos das mudanças climáticas pode chegar a 20% até 2050. Em dinheiro, o prejuízo fica em cerca de US$ 1,9 bilhão por ano.
Mexeu com o índio, mexeu com o clima. As Terras Indígenas (TIs) são fundamentais para garantir o equilíbrio climático, pois são áreas que apresentam as menores taxas de desmatamento - dez vezes menos do que as não demarcadas. Os povos indígenas resguardam 1/3 da área total da Amazônia, protegendo ecossistemas inteiros e ajudando a armazenar um estoque de 13 bilhões de toneladas de carbono - reserva fundamental para que o país cumpra as metas brasileiras do Acordo de Paris.
De acordo com estudos do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) e da Universidade de Brasília, a região da Bacia do Xingu teve um aumento de 5oC de temperatura média entre 2002 a 2010, por causa do desmatamento. Apenas nas áreas que mantiveram a floresta, no Parque Indígena do Xingu e entorno, o clima permaneceu estável.
Fora isso, a agricultura na Amazônia é uma atividade de baixa produtividade, praticamente insustentável. O produto agrícola bruto da Amazônia representa 14,5% do PIB do setor agropecuário brasileiro, usando uma área desmatada de cerca de 750.000 km². O Estado de São Paulo, por outro lado, responde por 11,3%, em uma área de aproximadamente 193.000km².
Ou seja, a demarcação de TIs não beneficia somente aos povos que nelas vivem, mas também a quem vive da terra. Povos indígenas e povo do campo devem entrar juntos com a Imperatriz na Avenida.

O Globo, 05/02/2017, Revista O Globo, p. 50
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