Roubo de madeira de terras indígenas é outro crime em ascensão

FSP, Cotidiano, p. B4 - 12/03/2017
Roubo de madeira de terras indígenas é outro crime em ascensão

Além do narcotráfico, o contrabando de madeira é outro crime em ascensão na tríplice fronteira amazônica. Nas últimas semanas, houve duas grandes apreensões, num total de 1.632 toras, que geraram atrito entre autoridades brasileiras e peruanas.
No rumo contrário ao da cocaína, a madeira tem sido roubada da Terra Indígena Vale do Javari e levada ao Peru, segundo o Ibama, com base em informações de inteligência da Funai e do Exército. O potencial é imenso: com 8,5 milhões de hectares, é o segundo maior território indígena do Brasil.
A Amazônia peruana tem sofrido com o aumento da atividade madeireira ilegal: 78% da madeira inspecionada durante uma megaoperação em 2015 tinha origem ilícita, segundo o Osinfor (Organismo de Supervisão de Recursos Florestais do Peru).
Na avaliação do Ibama, o fim dos estoques de madeira na região levou as quadrilhas peruanas a atravessar a fronteira. Auxiliadas por brasileiros, ameaçam os índios, derrubam as árvores e, em seguida, as transportam através dos rios até o Peru, afirmam as autoridades brasileiras.
A fiscalização é dificultada pelo fato de os madeireiros usarem o rio Javari, que separa os dois países, e de terem à mão guias florestais, que comprovariam a origem legal da madeira e a extração do lado peruano.
Em fevereiro, o Exército apreendeu 432 toras no rio junto com quatro peruanos -dois escaparam. Acionado, o Ibama deslocou uma equipe do seu escritório mais próximo, em Manaus, a 1.108 km, para ajudar na autuação.
Os fiscais do Ibama concluíram que a documentação peruana apresentada era inconsistente com a carga. Além disso, encontraram cedro, árvore protegida pela Convenção Internacional sobre Comércio de Espécies Ameaçadas de Fauna e Floresta e que, por isso, requer uma licença especial para o transporte internacional.
Ao passar pelo vilarejo peruano de Islândia, em 15 de fevereiro, a equipe do Ibama que transportava a balsa com as toras foi abordada em pleno rio Javari pelo subprefeito do local, Juan Carlos Gonzales, nomeado pelo governo federal, e dois policiais.
Vestindo uma faixa com as cores da bandeira peruana sobre a camisa branca, Gonzales tentou demonstrar que a madeira havia sido retirada do lado peruano.
Após uma conversa tensa, os peruanos se retiraram, e as toras foram levadas até a cidade brasileira de Benjamin Constant (AM) -o Ibama fez a doação da carga para a Funai e o Exército.
Na semana seguinte, o Exército realizou uma apreensão ainda maior, com 1.200 toras. Novamente abordados pelos peruanos ao passarem por Islândia, desta vez eles entregaram a apreensão às autoridades do país vizinho.
O subprefeito Gonzales afirma que a madeira foi extraída de uma concessão no lado peruano, às margens de um afluente do Javari.

FSP, 12/03/2017, Cotidiano, p. B4
PIB:Javari

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