Devir índio

Revista Cult n. 222, abr., 2017, p. 12-16 - 06/04/2017
Devir índio
Entre sua comunidade e o ativismo internacional, Davi Kopenawa, xamã e militante, é uma das mais importantes lideranças indígenas do país

Paulo Henrique Pompermaier
6 de abril de 2017

São 9 horas da manhã e São Paulo já vive seu caos voraz. A terra remexe com a passagem dos trens do metrô, multidões de pernas e braços se atropelam, olhos vibram cheios de cores e velocidade. Nos cruzamentos, nas filas de carros, em semáforos acéfalos e na eletricidade líquida a cidade desabrocha em seu ímpeto de movimento.
Entre imensos prédios, por trás de uma dessas portas fugazes, no Hotel Atlântica, na Bela Vista, encontra-se Davi Kopenawa, liderança indígena yanomami. Sua presença é ambígua naquele lugar, resiste ao fluxo da cidade com o porte profundo da floresta. No primeiro cumprimento, sentem-se suas mãos robustas, ásperas e atentas. Mataram sozinhas uma anta, ainda na adolescência. Uma caça muito valorizada por seu povo.
Quando ele pronuncia algumas palavras, percebe-se uma voz atravessada por gerações. São palavras que vieram de Omama, demiurgo da cosmogonia yanomami. De um tempo em que "nossos maiores amavam suas próprias palavras", como explica. São transmitidas oralmente através dos séculos, ao se tomar yãkoana. Essa substância ritualística consiste em um pó feito com cascas de árvore secas e pulverizadas. Ao ser inalado, inicia o indígena no conhecimento xamânico de seu povo.
"Nossa aula magna é tomar yãkoana durante o dia, para se preparar. Assim que estudamos para buscar mais sabedoria, a sabedoria da árvore, que percorre a floresta, a montanha, o rio".

Revista Cult n. 222, abr., 2017, p. 12-16

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PIB:Roraima/Mata

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