'Fogo na Floresta': 1o. documentário em realidade virtual, feito no Xingu, alerta para impacto das mudanças climáticas

Conexão Planeta - http://conexaoplaneta.com.br/blog - 26/04/2017
'Fogo na Floresta': 1o. documentário em realidade virtual, feito no Xingu, alerta para impacto das mudanças climáticas

26 de abril de 2017 Mônica Nunes

Se você ainda não conhece uma aldeia indígena, esta é uma super oportunidade! E sem sair de sua cidade. O primeiro documentário em realidade virtual, realizado no Xingu - que apresenta o cotidiano de uma aldeia dos índios Waurá - foi lançado em 27/4 pelo Instituto Socioambiental (ISA) no Festival Internacional de Documentários É tudo Verdade, com a presença de duas lideranças da etnia: Atakaho Waurá (cacique da aldeia Piyulaga) e seu tradutor, Arikutua Waurá.
Depois, o filme segue para uma série de eventos promovidos pelo ISA (é só acompanhar pelo site e pelas redes sociais: Facebook, Twitter, Instagram, Google+, Pinterest e Linkedin) e pela Academia de Filmes. Também participará da Mostra Ecofalante, em junho. E, a partir desse mês, também estará disponível no You Tube - no canal do ISA - e por meio de aplicativos - Fogo na Floresta, em português, e Fire in the Forest, em inglês - na Apple Store e na Google Play Store, para exibição gratuita no seu smartphone, tablet ou pela TV.
Sobre a participação no festival É Tudo Verdade, o diretor do documentário, Tadeu Jungle, artista multimídia e diretor da Academia Filmes diz: "Esta foi a primeira vez que um documentário feito com essa tecnologia participou do festival. Na próxima edição, certamente, terá vários inscritos". A primeira vez em que ele uniu realidade virtual e uma causa socioambiental foi em abril do ano passado, quando mostrou os sobreviventes da maior tragédia ambiental do país em Bento Rodrigues e Mariana, provocada pela Samarco, BP e Vale: o documentário Rio de Lama.
Agora, ele volta ao tema ambiental, a convite do ISA, para apresentar um dos dramas vividos pelos índios do Xingu - representados pelos Waurá - com as queimadas que se alastram pela floresta e destroem tudo por causa das mudanças climáticas.
As filmagens aconteceram em agosto do ano passado, logo após a passagem de Tadeu e de sua equipe por outra aldeia, de outra etnia no Xingu, para registrar cenas para um documentário sobre lutas brasileiras. Mas não foi preciso chegar à aldeia dos Waurá para ver o que está acontecendo por lá. No caminho, eles já foram surpreendidos:
"Era o inferno na Torre", disse Tadeu em alusão a famoso filme dos anos 80 sobre incêndios em arranha-céus de Nova York. "Havia vários focos de incêndio e muita fumaça. O céu estava branco. Tava difícil de respirar. Então, paramos e já fizemos o primeiro take do documentário. Sentimos muito medo". A foto abaixo ilustra o momento.
Apresentar o tema das queimadas para a sociedade era preciso para dissipar a falta de conhecimento e buscar o engajamento. "Os índios colocam fogo nas roças desde sempre. É uma técnica primitiva. Além disso, eles usam fogo pra tudo: além de tratar o solo para a roça para o plantio, fazem cerâmica, limpam o campo... Quando se fala em 'sinal de fumaça', não é mito, é fato. Quando alguém é convidado para um ritual, manda sinais de fumaça para avisar que está chegando", conta Paulo Junqueira, consultor adjunto do ISA na Terra Indígena do Xingu. E completa: "Os índios não têm culpa das queimadas! E isso precisa ser dito. Antes, a floresta era úmida e impedia que o fogo se alastrasse. Agora, não. Com o tempo cada vez mais quente, a seca se prolonga e se transforma em combustível para que o fogo se espalhe. E não dá pra dizer para os índios não tocarem fogo na roça. Seria o mesmo que dizer para nós não usarmos fogão e geladeira".
O ISA faz um trabalho lindo junto aos índios da região norte do Xingu - entre eles os Waurá - e está empenhada em ajuda-los a evitar que esses incêndios aconteçam, trocando saberes e indicando métodos. Sempre respeitando suas práticas, claro! Por isso, o ISA resolveu investir numa campanha inovadora para conscientizar os brasileiros da gravidade desse fato.

Realidade virtual, empatia e engajamento
Assisti ao documentário com óculos especiais na sede do ISA e fiquei apaixonada pela experiência! Já visitei uma aldeia indígena, por isso, várias situações que ali estão não são novidade pra mim, mas foi impossível não me deixar levar por tudo que vi e pelas possibilidades de engajamento e de empatia do público que essa tecnologia pode provocar.
Me senti dentro de cada cena, participando de cada conversa, na escola com as crianças, ao lado da índia que ralava a mandioca, dançando com eles, feliz, mas também fiquei muito tensa quando vi o fogo alto na mata e o desespero dos Waurá.
Foi bacana ver os índios e as índias em suas vestes ritualísticas e também usando calção ou vestido como nós - ou, ainda, andando de moto -, bem de acordo com o que defende a campanha #MenosPreconceitoMaisÍndio, lançada pelo ISA, recentemente. Mas também foi impossível ficar quieta na cadeira. E essa é a grande sacada da realidade virtual. Mais interessante ainda quando se tem uma causa a defender como esta.
Depois de assistir ao documentário, vai ser impossível para o espectador não se envolver com esse drama. No mínimo, ele há de gerar empatia em cada um, o que já é um grande avanço no cenário atual, em que os índios são tão desrespeitados e massacrados pela ganância e o desenvolvimento a qualquer custo, neste caso, principalmente pelo agronegócio. (Para entender um pouco mais, assista ao documentário Martírio, de Vincent Carelli, que entrou em circuito comercial e acompanhe as mobilizações do Acampamento Terra Livre, em Brasília).
Para Tadeu, um entusiasta da realidade virtual e sempre atento às tendências, essa tecnologia "é a maior máquina de empatia já inventada, que tem um alcance extraordinário. Isso já está provado. Vi apresentações nos Estados Unidos e é incrível como as pessoas entram na história e se colocam no lugar do outro. E o potencial de transformação pela forma empática é muito maior do que qualquer outra. As crianças entendem tudo melhor. E ainda dá pra assistir no celular! Em Cannes, um dos filmes premiados sobre refugiados foi feito em RV". E acrescenta: "Claro que nem todo filme vai ser feito com essa técnica. Mas ela é disruptiva, coloca a pessoa na cena. É uma nova gramática, uma nova forma de narrar a história. No Brasil, ainda não está forte, mas este momento faz parte do processo".
E a iniciativa do ISA, com certeza vai ajudar a mudar isso: com Fogo na Floresta, inova na comunicação para conquistar o engajamento dos brasileiros e pode ajudar a inaugurar um novo tempo para o ativismo ambiental. Tomara!

Mônica Nunes
Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na Claudia e Boa Forma, no site feminino Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, considerado o maior portal no tema pela UNF. Integra a Rede de Mulheres Líderes em Sustentabilidade.


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