Reunião aconteceu em clima tenso nas dependências da Funai na manhã de ontem
A substituição do tuxaua da maloca do Boqueirão, Município de Alto Alegre, tem gerado conflito entre os membros da comunidade. O fato é que o ex-tuxaua, Cosmo da Silva Viriato, quer reassumir o cargo e grande parte dos índios não aceita e está tumultuando o processo.
Na manhã de ontem, índios contrários à mudança estiveram reunidos na presença do atual tuxaua, Jesus Firmino da Silva, do pretendente ao cargo, Cosmo da Silva Viriato, e do administrador substituto da Funai (Fundação Nacional do Índio), José Raimundo Batista, para discutirem sobre o assunto. Durante toda a reunião houve ataques por parte da oposição.
A alegação dos indígenas contrários à posse de Cosmo da Silva Viriato é que ele não deu continuidade aos projetos de criação de gado encabeçados pela Funai e Diocese de Roraima, bem como ferramentas utilizadas para produção agrícola. "Ele acabou com tudo e agora quer voltar a ser tuxaua. Não vamos permitir isso", disse a índia Macuxi Rosilda da Silva.
Os índios contrários vão mais além. Recentemente eles encaminharam um abaixo-assinado contendo cerca de 80 assinaturas ao Ministério Público Federal. Junto com as assinaturas, uma carta de protesto denunciando os atos do ex-tuxaua.
Ocorre que, para ser tuxaua, o candidato deve passar pelo crivo da comunidade. Para isso, Cosmo da Silva Viriato convocou uma reunião no dia 28 de janeiro com participação de 64 índios favoráveis ao seu retorno ao cargo. Esses indígenas assinaram a ata da reunião que foi apresentada na manhã de ontem durante o encontro na Funai.
Toda essa manobra tem causado desconforto no atual tuxaua da comunidade, Jesus Firmino da Silva. Ontem ele declarou estar disposto a entregar o cargo e deixar a critério dos indígenas a escolha de um novo nome.
Depois de uma hora de negociação, Jesus Firmino da Silva entregou a José Raimundo Batista a declaração de tuxaua emitida pela Funai em 23 de março de 2005. Com isso, ficou como tuxaua temporário, Amarildo da Silva Viriato, o qual está determinado a convocar toda a comunidade para uma reunião no dia 5 de fevereiro para votação dos nomes para assumir o cargo.
"Há 10 meses que estou no cargo de tuxaua e tenho enfrentado muita perseguição. Não consigo trabalhar dessa forma. Tínhamos uma reunião na agenda para falar dos festejos da nossa comunidade e quando eu cheguei tratava-se da troca de tuxaua", lamentou José Raimundo.
OUTRO LADO - Cosmo da Silva Viriato disse que os índios são contrários ao seu retorno pelo fato de ele ser ligado ao CIR (Conselho Indígena de Roraima) e muitos não aceitam essa situação.
Sobre os projetos que não tiveram continuidade, Cosmo da Silva disse que os membros da comunidade não contribuíram para o andamento das atividades e, por esse motivo, ele abandou o trabalho e parte dos gados morreu e os que sobraram foram divididos entre os que trabalhavam anteriormente.
Quanto à mudança de tuxaua, Cosmo da Silva afirmou que já estava tudo acertado para que ele assumisse o cargo. Disse que houve uma votação, a qual ele obteve 56 votos contra 42. Segundo ele, era para ter recebido a declaração de tuxaua na terça-feira passada, mas por ter tido outra ação no Alto Alegre, ele não compareceu.
Foi ele quem agendou a nova reunião para que seja feita a votação e escolha do nome para assumir o cargo de tuxaua da comunidade do Boqueirão.
FUNAI - Durante toda a reunião, o administrador substituto da Funai, José Raimundo Batista, afirmou que não é de competência da Funai interferir na escolha do tuxaua das comunidades. "É contra nosso regimento e estatuto", disse, ao afirmar que a comunidade tem que entrar num consenso para ser emitida a declaração de tuxaua.
PIB:Roraima/Lavrado
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