Contrários ao pagamento de indenizações aos fazendeiros - etapa que obriga a desocupação das terras dentro da reserva indígena Raposa Serra do Sol -, índios ligados à Sodiur (Sociedade dos Povos Indígenas Unidos do Norte de Roraima) estão firmando parcerias com arrozeiros para tentar fortalecer a permanência desses investidores na terra indígena. A informação foi confirmada ontem pelo vice-presidente da entidade, Abel Barbosa.
Ele disse ser "totalmente contra ao isolamento dos índios" após a homologação das terras. Um grupo ligado à Sodiur montou acampamento próximo da fazenda Viseu, onde estão criando uma nova comunidade. Como no local já existem índios ligados ao Conselho Indígena de Roraima (CIR), para pressionar a saída dos fazendeiros, foi feito um acordo para que não haja conflitos entre as duas facções indígenas.
A confirmação do acordo foi firmada em reunião que aconteceu na tarde de quinta-feira, na comunidade Brilho do Sol, oito quilômetros da fazenda Viseu. Participaram integrantes da Funai (Fundação Nacional do Índio), CIR e moradores da região. A fazenda Viseu é causa de várias ações judiciais que tramitam na Justiça Federal.
A partir do acordo, cerca de 10 famílias ligadas à Sodiur fundaram a comunidade Viseu, que já tem até tuxaua, e estão construindo casas de palha desde sexta-feira, dia 10 de fevereiro. "Não queremos ficar isolados. Somos agricultores e a parceria permite que usemos os maquinários dos fazendeiros para arar a terra e plantar nossos alimentos", complementou Barbosa.
Na fazenda Viseu há um retiro mantido por índios ligados ao CIR. Recentemente, o proprietário da benfeitoria conseguiu parecer favorável na Justiça Federal de Roraima para a retirada desses indígenas. Dias depois a liminar foi derrubada por força do Supremo Tribunal Federal (STF).
O fato é que índios ligados ao CIR e à Sodiur vivem em pleno conflito de opinião quanto à homologação da Raposa Serra do Sol. "Procuramos os índios do CIR para não ter problemas. Eles [indígenas do CIR] participaram da reunião. O que queremos neste momento é produzir", enfatizou o vice-presidente da Sodiur, ao defender que as comunidades ligadas a sua representação indígena não tiveram participação nos incêndios de casas em novembro de 2004.
Sobre as indenizações pagas pelo Governo Federal para retirar os fazendeiros que vivem dentro de terras indígenas, Barbosa informou que quando isso acontece os índios ficam abandonados pelo governo e não têm como desenvolver projetos de auto-sustentabilidade. Acrescentou que até hoje não receberam qualquer tipo de benefício do Governo Federal, por isso buscam parcerias com quem tem maquinário que permita a efetivação de plantações em geral.
"Se o Governo Federal arcar com os maquinários, não precisaremos fazer acordos com arrozeiros para manter a sustentabilidade das nossas comunidades", disse Barbosa, ao complementar que enquanto isso não acontecer, os indígenas estarão buscando os fazendeiros para utilizar os equipamentos que eles mantêm na terra indígena.
FISCALIZAÇÃO - A partir da criação da comunidade Viseu, os índios da Sodiur foram taxativos ao afirmar que proibirão entrada de brancos, em especial, missionários da Igreja Católica, na região. Eles são totalmente contrários à presença de padres entre os índios. "Vamos fiscalizar as estradas e a entrada da fazenda. Não permitiremos que os padres se introduzam na nossa comunidade", afirmou Barbosa.
CIR - O vice-presidente do CIR, Jairo Pereira da Silva, que participou da reunião com os membros ligados à Sodiur, disse que a intenção é evitar os conflitos entre os índios de várias etnias e ligações institucionais. "A reunião foi para ter um consenso entre as entidades representativas dos índios para evitar conflitos", enfatizou.
Foi a Funai que intermediou o encontro entre os dois representantes das entidades indígenas. A partir da reunião, ficou acertada a elaboração de um documento oficializando o acordo entre ambas as partes. "O nosso objetivo como organização indígena é unir os povos indígenas", disse Jairo Pereira.
PIB:Roraima/Lavrado
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