Indígenas ajudam a monitorar o clima

A Crítica, Cidades, p. C1 - 23/10/2017
Indígenas ajudam a monitorar o clima
Projeto desenvolvido na região do Alto Rio Negro está capacitando índios para contribuir com pesquisadores

ISABELLE VALOIS
isabelle@acritica.com

Os estudos sobre os impactos das queimadas, grandes cheias e vazantes recordes ocorridas nos últimos 12 anos na região do Alto Rio Negro, no Norte do Amazonas, ganharam um reforço de peso: um grupo de mais de 50 indígenas de diferentes etnias de comunidades localizadas nos municípios de São Gabriel da Cachoeira, Santa Izabel do Rio Negro e Barcelos (850, 620 e 450 quilômetros de Manaus, respectivamente).
O grupo, conhecido como Agentes Indígenas de Manejo Ambiental (Aimas), integra o Projeto de Monitoramento Ambiental e Climático (Pmac) mantido pelo Instituto Socioambiental (ISA) na região. Além de contribuir com o conhecimento tradicional, os indígenas estão aprendendo desde como fazer anotações científicas sobre questões cotidianas -regime de chuvas, nível do rio, roça, pesca, caça, ciclos de vida e reprodução de plantas e animais - até conhecimentos mais técnicos, como treinamentos com uso de tablets e um aplicativo de monitoramento diário do clima.
E, de acordo com o presidente da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), Marivelton Barroso, parceiro do projeto, desde 2015, ano em que foi registrado o maior número de focos de queimada no Alto Rio Negro pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) desde 1998, os Aimas de Barcelos vêm registrando processos ambientais e climáticos nunca vistos, como a expansão dos casos de queimada para áreas onde, normalmente, as chamas não atingem. Foram pelo menos 80 novos pontos de focos identificados pelos Aimas, todos com impacto nas comunidades próximas.
"Desde o início desse monitoramento temos visto queimadas em regiões novas e, de perto, fica mais fácil monitorar o impacto nos peixes, na roça e na vida das pessoas que vivem na floresta, por exemplo. Sem colheita e sem pesca, a comunidade não tem alimento. Tudo isso consta nos relatórios do projeto e esse é nosso objetivo: contribuir para que as pessoas saibam e o Estado possa buscar alternativas a partir desse nosso diagnóstico", detalhou Barroso.
OFICINAS
Os indígenas envolvidos nas pesquisas participam de um programa de formação e intercâmbio de conhecimentos através de oficinas coordenadas pelo ISA. Além dos Aimas, outros moradores das comunidades também se envolvem em projetos de pesquisa de alguma forma.
Os que integram o projeto recebem uma bolsa de apoio, instrumentos de trabalho e combustível para deslocamento.
RESULTADOS
Os resultados das pesquisas de monitoramento serão divulgados em novembro, na primeira edição da revista científica do projeto, denominada "Aru", que vai contemplar o conhecimento tradicional e os saberes indígenas. O ISA e a Foirn estão buscando meios de transformar o projeto em política pública para que esse modelo seja replicado em outras regiões, com o emprego da mão de obra indígena.

"É uma iniciativa ímpar de pesquisa colaborativa sobre processos ambientais e climáticos a partir do conhecimento indígena"
Aloísio Cabalzar
antropólogo

A Crítica, 23/10/2017, Cidades, p. C1

PIB:Noroeste Amazônico

Áreas Protegidas Relacionadas

  • TI Alto Rio Negro
  •  

    As notícias publicadas neste site são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.