Técnica, conferência do clima deixa decisões mais difíceis para 2018

O Globo, Sociedade, p. 29 - 18/11/2017
Técnica, conferência do clima deixa decisões mais difíceis para 2018

Cesar Baima

RIO - Como costuma acontecer em cada edição da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, representantes de quase 200 países ainda discutiam na noite de ontem, prazo para o encerramento do evento, alguns pontos da declaração final do encontro. Mas, à diferença do que já ocorreu em diversos anos, a expectativa era de que desta vez as questões pendentes fossem logo resolvidas, sem a necessidade de as negociações adentrarem a madrugada ou, pior, se estenderem ao longo do fim de semana. Isto porque, como destacaram ao GLOBO diversos observadores, esta 23ª reunião teve um caráter eminentemente "técnico", cujo principal objetivo era começar a esboçar as regras para implementação do Acordo de Paris, fechado há dois anos na capital francesa.
E foi exata e basicamente isto que os diplomatas na chamada COP23, realizada em Bonn, Alemanha, fizeram. Depois de duas semanas de discussões, a conferência produziu um rascunho inicial de como será a estrutura do "livro de regras" do Acordo de Paris que vai guiar, e fiscalizar, o cumprimento das metas de redução das emissões de gases causadores do efeito estufa autoimpostas por cada nação de forma a limitar o aquecimento global até o fim do século em 2 graus Celsius, e se possível em 1,5o C, na comparação com o período pré-industrial. As decisões mais difíceis, como o "corpo" destas regras, foram deixadas para a próxima reunião, marcada para o fim do ano que vem em Katowice, Polônia.
- O mandato atual é entregar o livro de regras do Acordo de Paris até o fim da reunião do ano que vem, então este resultado era esperado - comentou Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima, rede que reúne instituições da sociedade civil brasileira para discutir as mudanças climáticas. - Previa-se uma COP técnica, desinteressante, e foi exatamente isso que aconteceu. Bonn cumpriu a sua promessa, mas não atendeu às necessidades do planeta. Nos preocupa que passou-se mais um ano e a janela para resolver o desafio das mudanças climáticas está se estreitando.
A opinião de Rittl é compartilhada por Karen Oliveira, coordenadora de Conservação e Desenvolvimento da ONG The Nature Conservancy (TNC).
- Sem dúvida, considerando o cenário que atravessamos, o fato de termos começado as discussões para implementação do Acordo de Paris é em si um aspecto positivo - ressaltou. - Mas temos que reconhecer que ainda estamos distantes dos cortes nas emissões necessários para a meta de limitar o aquecimento em 1,5o C, então é preciso uma posição mais agressiva dos países neste sentido, um compromisso real e efetivo, e não ficar só nas discussões.
Na mesma linha seguiu Fabiana Alves, especialista em mudanças climáticas do Greenpeace:
- Houve avanço, sai-se da COP23 com um esqueleto, porém muitos detalhes e conteúdo desse esqueleto ainda precisam ser resolvidos. O que se espera é que os países voltem para casa para poderem organizar-se domesticamente para que estejam prontos para ter regras ambiciosas em 2018.
Outro ponto positivo destacado ao GLOBO pelos observadores em Bonn foi o fato de que mesmo sendo esta a primeira conferência após o anúncio do presidente dos EUA, Donald Trump, de que seu país abandonaria o Acordo de Paris, as demais nações do planeta continuaram alinhadas na luta contra as mudanças climáticas.
- O lema da COP 23 era "'mais longe, mais rápido, juntos". Mantivemos o "juntos", mas o "mais longe, mais rápido" ainda temos que trabalhar bastante para alcançar - resumiu Karen.

O Globo, 18/11/2017, Sociedade, p. 29

https://oglobo.globo.com/sociedade/sustentabilidade/conferencia-do-clima-tecnica-deixa-decisoes-mais-dificeis-para-2018-22083916

Clima:Tratados e Convenções

 

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