Aldeia Piraí lança documentário sobre cultura indígena e convida comunidade para assistir

OCP News (https://ocp.news/) - 18/01/2019
"Aprendi mais sobre a nossa história da nossa cultura, percebi que é importante registrar o que eles dizem, o que eles ensinam. Porque algumas pessoas não sabem do nosso passado e é importante que eles saibam, conheçam, respeitem".

A fala da jovem Tainara Veríssimo resume o objetivo de toda uma produção que levou cerca de 11 meses para ser concluída e está prestes a ser lançada.
O documentário "Yvymbyte - A sabedoria dos Mbya Kuery" foi contemplado pelo edital Elisabete Anderle em 2017 e desenvolvido em uma co-produção que envolveu diretamente o Núcleo Audiovisual da Aldeia Piraí.
Escrito pela jornalista Bárbara Elice, o projeto foi produzido em 2018 e o lançamento está marcado para o dia 26 de janeiro, na própria aldeia.
Para o cacique Ronaldo Costa, a mensagem mais importante do documentário se resume a: conhecimento, respeito e história.
Ele enfatiza o quanto é necessário que todos conheçam a história dos guaranis e o quanto é importante valorizar e respeitar as tradições indígenas que os mantém diretamente ligados à natureza e à terra como o centro de tudo.
"Nosso criador fez a Terra para ninguém ser dono dela e a missão do guarani é cuidar para que isso não acabe. Tudo vem da terra e isso tem que ter muita importância", afirma.
O cacique ressalta ainda o valor devido aos mais velhos. A ancestralidade e a tradição são a essência do povo guarani, que tem nos mais velhos sua fonte de sabedoria.
"Nossa educação está baseada no respeito à natureza, à terra e aos mais velhos. É assim que funciona aqui, é importante dar valor a eles e a toda sua sabedoria. São eles que passam, aos mais jovens, tudo o que sabem, nossa história, tudo", salienta.
sse respeito à história e aos costumes guaranis é a base do documentário. O filme de 27 minutos foi gravado tendo como personagens principais aqueles responsáveis por todo o conhecimento do povo, aqueles que guardam os ensinamentos que são repassados geração após geração, mantendo forte o laço dos guaranis com a terra e a natureza.
Se na frente das câmeras o foco era a história, o respeito aos mais velhos, a cultura e a tradição guarani, atrás delas os responsáveis por documentar aquilo que é vivido foram justamente aqueles que aprendem diariamente com os personagens: os jovens.
A dedicação foi proporcional ao respeito e ao valor dado à história. Tainara Veríssimo, Alicia Costa e Kleber Ramirez participaram ativamente de todo o processo de produção, que iniciou com oficinas de captação de áudio, vídeo, técnicas de entrevista, decupagem, entre outras.
Para Tainara, para além da novidade de operar uma câmera e produzir, efetivamente, um filme que conta a história do seu povo, o mais importante é pensar na forma como o trabalho a fez crescer e nas consequências que ele pode trazer para aqueles que se dispuserem a conhecer a tradição guarani.
"Tem pessoas, governantes, que falam mal da gente porque não conhecem a nossa história, nunca pisaram na nossa aldeia. Falam que usamos roupa, que deixamos de ser índios, mas usamos porque nos obrigaram a usar. Nunca vamos perder a nossa cultura e esse documentário é importante porque essas pessoas podem conhecer a nossa história", ressalta.
O aprendizado foi também o ponto alto para Alicia que, assim como Tainara, destaca a importância de divulgar a verdadeira história e cultura guarani.
"Eu aprendi muita coisa com a fala dos mais velhos, sobre a nossa cultura e é isso que pode ser repassado para os não indígenas, a verdadeira história", diz. "Aqui os mais velhos são os mestres, a biblioteca, o conhecimento", complementa Bárbara.

Conhecimento e integração
A história se funde na produção do documentário. O povo guarani é o responsável pela tradição, mas também foi o responsável por toda a produção do filme, por meio do Núcleo Audiovisual da Aldeia Piraí, e este é o diferencial entre o documentário e os demais filmes já produzidos a respeito da cultura indígena em Santa Catarina, analisa Bárbara Elice.
"O que há de diferente é que teve uma co-produção. Todo mundo fez tudo e acho que essa construção é o diferencial do filme", diz.
O processo de produção iniciado ainda nas oficinas e aprimorado ao longo das captações permitiu, conta Bárbara, integração, troca de conhecimento, aprendizagem e uma conexão ainda maior entre os envolvidos.
A jornalista teve que abdicar do trabalho para se dedicar integralmente às gravações e lembra que a decisão de romper o vínculo empregatício veio depois de uma pequena bronca do cacique.
Ele me deu uma chamada porque o trabalho não estava rendendo, o tempo era limitado e aqui as coisas são diferentes, existe um tempo diferente, precisa haver um vínculo mais profundo. Então ele disse: aqui é o seu trabalho. Então, eu senti isso, veio do coração e eu passei a escutar mais, o ouvido estava mais aberto para aprender. A própria equipe ganhou mais segurança e o trabalho fluiu melhor", conta.
O processo foi de descoberta também para Bárbara que, embora já fosse uma estudiosa da cultura e da história guarani, aprendeu ao longo do caminho, tanto que o desenho inicial do documentário se limitava a aldeia e, por fim, foram captadas cenas em Garuva e em São Paulo. "Não teve como manter aqui porque a aldeia não vive sozinha", diz.

Cacique ressalta a importância de tornar a história e a cultura guarani conhecidas
A motivação, conta a jornalista, surgiu após a produção de reportagens que escancararam todo o problema de demarcação de terras indígenas, especialmente as da região.
"Foram reportagens longas que escancaram o problema e foi então que minha vontade e a do Ronaldo porque quando comentei que queria fazer um documentário, ele disse: eu também", lembra.
Entre os envolvidos no processo de produção estão quatro jovens da aldeia que fazem parte do Núcleo Audiovisual, além de profissionais que foram responsáveis pelas oficinas e por parte da produção.


Comunidade convidada
O lançamento do documentário será na própria Aldeia Piraí, no dia 26 de janeiro, a partir das 19h.
Além da exibição, o evento contará ainda com apresentação de coral e dança, venda de artesanato, exposição fotográfica do making of da produção, roda de conversa e também comida tradicional.
O cacique ressalta que estão todos convidados para a exibição. "Estão todos convidados porque essa é nossa intenção, divulgar nossa história e quem assistir vai sentir alguma coisa", destaca.
Ao final, será realizada uma partilha, portanto, os convidados podem levar frutas para o momento.

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