Manifestação ocorre no município de Iguape (SP), onde indígenas mobilizam-se contra ataques do governo federal à demarcação da TI Ka'aguy Hovy
O povo Guarani Mbya do Vale do Ribeira realiza, na manhã desta segunda-feira (30), uma manifestação em defesa de seus direitos territoriais e contra os ataques à demarcação de suas terras no município de Iguape (SP). Os indígenas divulgaram um documento, no qual denunciam o governo federal de atuar para inviabilizar a demarcação da sua terra tradicional, a Terra Indígena (TI) Ka'aguy Hovy.
A manifestação segue pela avenida principal até a praça da Matriz de Iguape. Os Mbya Guarani também denunciam a atuação da recém-nomeada Diretora de Proteção Territorial (DPT) da Fundação Nacional do Índio (Funai), Silmara Veiga de Souza. Atualmente responsável pela diretoria que cuida das demarcações de terras indígenas, Silmara é advogada e atuou contra a demarcação da TI Ka'aguy Hovy.
Além disso, os indígenas denunciam que ela "esteve na aldeia no dia 28 de agosto deste ano, sem avisar previamente, causando preocupação por parte das nossas lideranças Guarani e incitando conflito de interesse entre nossas comunidades caiçaras e indígenas".
Em agosto, Silmara participou, junto ao ruralista e anti-indígena declarado Nabhan Garcia, secretário de Assuntos Fundiários do Ministério da Agricultura e do presidente da Funai, Marcelo Xavier da Silva, de uma audiência pública no município de Miracatu (SP), também no Vale do Ribeira, voltada a questionar as demarcações de terras indígenas na região.
"Ocorre uma estratégia do governo e de pessoas que pensam como ele, como os latifundiários, para tentar confundir nossas comunidades"
"Ocorre sim, uma estratégia do governo e de pessoas que pensam como ele, como os latifundiários, para tentar confundir nossas comunidades, colocar umas contra outras, e criar uma cortina de fumaça sobre os ataques aos quais são submetidas nosso povo Guarani e comunidades tradicionais da região", afirma a nota do povo Guarani.
Confira o documento na íntegra abaixo:
Pavē' in, xondaria e xondaro kuery, xeirum kuery
O povo Guarani do Sudeste do Brasil em sua luta pelo reconhecimento de seus direitos territoriais, convoca os parentes, amigos e amigas, para nos manifestarmos contra as ameaças que nós e nossos parentes vem sofrendo!
Nosso povo Guarani, parentes quilombolas, caiçaras, caboclos, no Vale do Ribeira, somos marcados por um longo e violento contexto de retirada forçada de nossas terras originárias e tradicionais, por isso vivemos processos de retomadas ou de lutas para nos mantermos nelas. Somos os povos da Mata Atlântica e também os principais responsáveis pela convivência, manejo e cuidado de séculos das florestas, águas e animais da região, embora estes sejam alvo de diversos interesses de agentes de fora que querem roubar e transformar parte da nossa vida em recursos a serem explorados. O contexto de fragilização de conquistas sociais intensifica a situação de ataques e ameaças que já enfrentamos desde sempre.
Não derrubamos a mata em nome do "desenvolvimento" para fazer a mineração, o latifúndio, a monocultura, não expulsamos as pessoas nem envenenamos as águas para fazer as barragens, não expulsamos ninguém do seu território de origem para viver em constante risco de perder o pouco que ainda temos.
É a sociedade dos brancos, do dinheiro e da ganância que é a ameaça para a Terra e todos os seres que nela vivem. O Estado viola nossos direitos originários e constitucionais, ao impedir a permanência de nosso povo e dos parentes das comunidades tradicionais em seu território; criminaliza as atividades dos mais velhos e mais velhas, (roça, pesca, coleta e extrativismo); não provê acesso à saúde, educação, infraestrutura básica etc., discriminam nosso povo e parentes dizendo que seriamos incapazes de garantir o meio ambiente do qual fazemos parte. Além de não respeitar e cumprir a legislação vigente e tratados internacionais que conquistamos historicamente e que garantem os direitos da existência dos nossos diversos modos de vida.
Há muitos anos nosso povo retomou área de ocupação tradicional, a A TI Ka'aguy Hovy, localizada no município de Iguape, no litoral sul de São Paulo, teve sua área reconhecida pela Funai como ocupação tradicional do povo Guarani Mbya. As conclusões dos estudos de identificação e delimitação da terra indígena e a aprovação de seu relatório pelo Funai ocorreram em maio de 2017. Contudo, por ocasião de uma ação da advogada Silmara Veiga de Souza, a comunidade enfrentou a contestação do procedimento administrativo de identificação e delimitação da Terra Indígena. Silmara, recentemente nomeada como diretora de proteção territorial da Funai, esteve na aldeia no dia 28 de agosto deste ano, sem avisar previamente, causando preocupação por parte das nossas lideranças Guarani e incitando conflito de interesse entre nossas comunidades caiçaras e indígenas.
Nesse sentido, afirmamos que pelo contrário, compartilhamos o sentimento de pertencimento ao nosso território ancestral como parentes, bem como a luta pela defesa dos nossos direitos. Além disso, identificamos muitos pontos em comum no que se refere a relação harmoniosa e respeitosa com a mata atlântica e nossos modos de vida.
Ocorre sim, uma estratégia do governo e de pessoas que pensam como ele, como os latifundiários, para tentar confundir nossas comunidades, colocar umas contra outras, e criar uma cortina de fumaça sobre os ataques aos quais são submetidas nosso povo Guarani e comunidades tradicionais da região.
Por esses motivos, convocamos todos e todas para nos manifestarmos em Iguape, dia 30/09/2019 às 8h - Porto da Ribeira/Iguape-SP.
Vamos lutar PELA DEMARCAÇÃO IMEDIATA DE NOSSAS TERRAS E PELA GARANTIA DOS DIREITOS CONSTITUCIONAIS! DEMARCAÇÃO JÁ!
Aguyjevete a todo povo de luta! Neike xondario, xondaria kuery!!
Setembro de 2019
https://cimi.org.br/2019/09/guarani-mbya-vale-do-ribeira-manifestam-se-defesa-direitos-territoriais/
PIB:Sul
Áreas Protegidas Relacionadas
- TI Ka'aguy Hovy
As notícias publicadas neste site são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.