A aldeia Fazenda Canto recebeu o I Encontro de Jovens Indígenas do Estado de Alagoas e o IV Encontro da Juventude Xukuru-Kariri.
Por Cimi Regional Nordeste
A aldeia Fazenda Canto, Terra Indígena Xukuru-Kariri, em Palmeira dos Índios (AL), recebeu entre dos dias 8 e 11 de outubro o I Encontro de Jovens Indígenas do Estado de Alagoas e o IV Encontro da Juventude Xukuru-Kariri. Jovens dos povos Xukuru-Kariri, Wassu-Cocal, Jiripankó, Kaotkinn, Karuazú e Xokó, do Sergipe, participaram do encontro ao lado da Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme) e entidades aliadas, caso do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Regional Nordeste.
"Há um evidente alinhamento entre os tres poderes e o capital financeiro, nacional e internacional, cujo principal objetivo é o exterminio dos povos indigenas e a tomada de seus territorios", declaram os jovens na carta final divulgada ao término do encontro. Para os jovens indígenas, "o governo federal vem abertamente promovendo ações que buscam desmobilizar os povos indigenas e suas organizações sociais". Se manifestaram ainda contra o marco temporal e a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 187.
Partindo da análise da conjuntura, os jovens traçaram estratégias de luta: "precisamos ampliar o leque de alianças e ocupar os espaços de representaça~o para o efetivo enfrentamento da investida na~o indigena, que visa aniquilar sociocultural e fisicamente nossos povos". Espaços como o Sínodo da Amazônia foram lembrados como momentos importantes dos povos falarem ao mundo sobre o que se passa no Brasil.
Leia a carta na íntegra:
Carta do IV Encontro da Juventude Xukuru-Kariri e I Encontro de Jovens Indigenas do Estado de Alagoas: Resistencia frente ataques aos nossos direitos
Reunidos de 8 a 11 de outubro de 2019 na Aldeia Fazenda Canto, Terra Indigena Xukuru-Kariri, Palmeira dos Indios - AL, nos dos povos Xukuru-Kariri, Wassu-Cocal, Jiripanko, Katokinn, Karuazu, Xoko (SE) e os seguintes aliados: IFAL, UFAL, UNEAL, NAFRI/CESMAC, IRPAA, SINDIPREV, PJMP, CIMI, AAGRA, APOINME, MPDC e MNU, apos refletirmos sobre temas referentes à atual conjuntura, marcada pela retirada massiva de direitos, viemos manifestar nosso repudio à forma como o Estado brasileiro se mostra omisso na aplicaça~o de politicas publicas e na efetivaça~o dos direitos dos povos indigenas. Em comunha~o com o Sinodo da Amazonia, celebramos juntamente com o Bispo Dom Manoel Filho, da Diocese de Palmeira dos Indios. O Sinodo simboliza e trás para os povos o Bem- Viver, o respeito e cuidado com a casa comum - a biodiversidade - e a funça~o da Igreja missionária na construça~o de uma ecologia integral.
Nos ultimos tempos o governo federal vem abertamente promovendo ações que buscam desmobilizar os povos indigenas e suas organizações sociais. Citamos como exemplo as tentativas de deslegitimar e criminalizar lideranças tradicionais, como o recente caso envolvendo o cacique Raoni Kayapo, ao mesmo tempo em que fomenta e legitima supostas lideranças alinhadas aos interesses de grupos anti-indigenas, mas que na~o sa~o reconhecidas pelos povos , essas ações esta~o provocando agudos e dramáticos conflitos internos nas comunidades, na completa contrama~o do que preve a Constituiça~o Federal de 1988.
Há um evidente alinhamento entre os tres poderes e o capital financeiro, nacional e internacional, cujo principal objetivo é o exterminio dos povos indigenas e a tomada de seus territorios, cujos recursos naturais tem sido, historicamente, objeto de cobiça das elites politicas e economicas do Pais. E o que expressa com muita clareza a tese juridica do Marco Temporal e a PEC 187, que autoriza a exploraça~o e arrendamento das Terras Indigenas, o aparelhamento e desmonte da FUNAI e da SESAI, os quais repudiamos veementemente.
Diante desse cenário, reiteramos a necessidade de articular os conhecimentos e a atuaça~o das lideranças tradicionais com a formaça~o, organizaça~o e luta politica da juventude indigena. Nesse sentido, o encontro permitiu compreender com mais clareza o que está posto e como podemos lidar com tais ataques. Além disso, saimos comprometidos com a tarefa de difundir o que construimos e aprendemos ao longo desses dias em nossas respectivas bases e dar continuidade a um projeto de articulaça~o da juventude indigena de Alagoas e Sergipe.
Reiteramos que é preciso defender a educaça~o escolar e a saude indigena, especificas e diferenciadas, bem como a demarcaça~o e a regularizaça~o dos nossos territorios, aos quais temos direito originário. O Estado deve garantir o Bem Viver, que passa pela execuça~o de concursos publicos para o magistério e saude indigenas, assim como pela conquista territorial e fomento aos modos tradicionais de produça~o. Entendemos que a luta extrapola a análise politica. Precisamos ampliar o leque de alianças e ocupar os espaços de representaça~o para o efetivo enfrentamento da investida na~o indigena, que visa aniquilar sociocultural e fisicamente nossos povos. Nesse processo, a juventude deve desempenhar um papel fundamental. Organizada, ela conseguirá levar adiante o legado, as experiencias e as historias de luta herdadas das gerações passadas, que na~o cessam de nos ensinar. Saimos daqui com esse espirito.
Palmeira dos Indios - AL, 11 de outubro de 2019
https://cimi.org.br/2019/10/juventude-indigena-de-alagoas-realiza-encontro-para-organizar-resistencia-em-defesa-dos-direitos-indigenas/
PIB:Nordeste
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