Mortes: Matriarca do Xingu, protegeu a família e as tradições

FSP, Obituário, p. B4 - 27/02/2020
Mortes: Matriarca do Xingu, protegeu a família e as tradições

Tepori Kamaiurá cuidou da família e ensinou as tradições aos netos, bisnetos e tataranetos

Patrícia Pasquini
SÃO PAULO
Coragem, determinação, generosidade e amor pela família são algumas das características marcantes que Tepori Kamaiurá cultivou ao longo de sua vida, que durou 95 anos.

Nascida na aldeia Kamaiurá, no território indígena do Xingu (MT), Tepori era séria e discreta. Primeira das três esposas do cacique Yawalapiti, casou-se entre o final da década de 1940 e início da de 1950. Tinha como responsabilidade organizar a família e acompanhar o marido em eventos.

Tepori falava baixo e só se importava com assuntos relacionados à casa, à alimentação e ao conforto dos muitos filhos, netos, bisnetos e tataranetos: 97 pessoas no total, segundo a neta Watatakalu Yawalapiti, 40, uma das coordenadoras da Associação Terra Indígena Xingu Mulher.

Enérgica, falava com os olhos, mas abria os braços e o coração a todos que precisassem de conselhos. O cuidado com o próximo era sua especialidade.

"Ela sempre cuidou da família. Ajudou a reconstruir a aldeia do nosso povo e nos manteve vivos. Ensinou a importância da família unida, que não existe casa sem a nossa floresta. Nos mostrou a tradição, o valor da cultura e nos ensinou a fazer artesanatos", diz Watatakalu.

Dormiu a vida inteira numa rede, ao lado da fogueira. Nos últimos anos, a fumaça começou a prejudicar sua saúde, então virou adepta do cobertor.

Acordava às 3h30 para ajudar a preparar o café da manhã "mingau de mandioca" e se recolhia às 20h30, no máximo. Nada nas grandes cidades a atraía.

Documento achado pela neta registra sua data de nascimento em 1925, mas a família, que não tem certeza do ano, acredita que ela tenha mais de 100 anos.

Viúva, ela seguiu protegendo a vida de todos que amou durante a vida, até o dia 18 de fevereiro, quando seu coração parou.

FSP, 27/02/2020, Obituário, p. B4

https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2020/02/mortes-matriarca-do-xingu-protegeu-a-familia-e-as-tradicoes.shtml
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