Povo Tapeba do Ceará está entre as 10 comunidades indígenas com maior vulnerabilidade à Covid-19 no país
Monitoramento da Apoinme revela que o Ceará é o segundo estado com maior contaminação do novo coronavírus entre indígenas.
Por G1 CE
18/05/2020
O povo Tapeba, concentrado em Caucaia, no Ceará, está ente os 10 povos indígenas com maior vulnerabilidade ao Covid-19 no Brasil. O levantamento é do Instituto Socioambiental, com base nos dados das Secretarias Estaduais de Saúde e da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai).
Conforme a atualização desta segunda-feira (18), o povo Tapeba tem 0.51 de índice de vulnerabilidade ao novo coronavírus. Valores mais próximos de 1 indicam maior risco. O estudo leva em conta a disponibilidade de leitos hospitalares, números de casos por município, números de óbitos, perfil etário da população indígena e fatores de atendimento médico.
De acordo com Weber Tapeba, advogado, líder Tapeba e vereador de Caucaia, município que concentra a maioria das aldeias tapebas, o número reduzido de profissionais de saúde é umas das principais dificuldade no enfrentamento ao novo coronavírus. Ele afirma que os agentes de saúde reclamam da falta equipamentos de proteção individual (EPIS).
"Antes da Covid-19 as equipes já eram limitadas, e agora com a pandemia, os profissionais que estão sendo infectados não estão contaminados não estão sendo substituídos", relata o líder tapeba,
Na última semana, houve o registro de dois óbitos por Covid-19 entre os tapeba de Caucaia e há ainda outras 2 mortes em investigação. Uma das vítimas tinha 35 anos e era motorista do Distrito Sanitário Especial Indígena. A outra morte foi de um idoso, um dos mais velhos da Comunidade Remanescente Quilombolas Caetanos Capuan de Caucaia. Conforme as lideranças indígenas, entretanto, já são quatro as mortes na comunidade.
O boletim de saúde indígena dos povos de Caucaia, divulgado na última quinta-feira (14), indicou que já houve 54 notificações por Covid-19 somente no município, com 21 confirmações e 22 casos em investigação. Há 6 casos confirmados de profissionais de saúde contaminados.
Além da falta de produtos de higiene, as atividades produtivas essenciais aos indígenas, como pesca, agricultura e extrativismo, contribuíram com a disseminação do vírus, de acordo com Weber.
"Nas primeiras semanas em que o isolamento social foi recomendado, a principal dificuldade era exatamente a subsistência das famílias", afirmou Weber. Ele relata que as necessidades diminuíram com Auxílio Emergencial, mas a aglomeração em agências bancárias também foi propícia a contaminação.
A Prefeitura de Caucaia informou que que possui 5 (cinco) equipes da Saúde da Família Indígena levam orientações em saúde voltadas para a atenção primária e informações de campanhas às Unidades de Saúde Indígenas do município, que possuem administração independente. O órgão foi questionado sobre a quantidade de indígenas diagnosticados com Covid-19, mas não respondeu as perguntas até a publicação desta matéria.
"Os povos indígenas possuem uma política em saúde diferenciada e que serve de intermediadora entre Ministério da Saúde e Secretaria da Saúde do Estado (SESA) do Ceará no repasse de materiais em saúde, como vacinas, por exemplo", afirmou o órgão, em nota.
A Secretaria de Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos (SPS), do Estado do Ceará, foi questionada sobre as ações de enfrentamento ao novo coronavírus nas comunidades indígenas, mas não respondeu até a publicação desta matéria.
Ceará
Os dados oficiais da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) indicam que o Distrito Sanitário Especial Indígena do Ceará tem 30 casos confirmados da Covid-19 entre indígenas, com 2 óbitos pela doença. Os registros apontam 17 infectados atualmente e 11 indígenas já recuperados.
O monitoramento da Apoinme (Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste Minas Gerais e Espirito Santo) revela que o Ceará é o segundo estado com maior contaminação do novo coronavírus entre indígenas. Para Cassimiro Tapeba, coordenador executivo da APOINME, há subnotificação nos dados oficiais.
"Muitos tiveram a doença, todos os sintomas. Alguns fizeram testes rápidos, e outros não, por conta da falta desses testes. A gente tem a ideia que chegou até as comunidades indígenas do estado do Ceará 120 testes rápidos", afirmou Cassimiro.
Ele revela preocupação com o avanço da epidemia nas aldeias indígenas, sobretudo por uma questão cultural. "É um povo que vive em comunidade, com o compartilhamento de objetos, são questões ritualísticas", afirmou.
Cassimiro ressaltou que a APOINME e a Federação dos Povos Indígenas do Ceará estão realizando campanhas para incentivar que os indígenas fiquem em casa. A falta de equipamentos de proteção individual, para os indígenas e para os profissionais de saúde, ainda é uma barreira, segundo o Tapeba.
"A máscara N95 está em falta nos polos-base, nas unidades básicas de saúde e no próprio no DSEI", afirmou Cassimiro.
O G1 entrou em contato com a Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI), do Ministério da Saúde, sobre a falta de EPIs nas aldeias indígenas do Ceará, mas não recebeu resposta até a publicação desta matéria.
O levantamento do Instituto Socioambiental também classificou outros povos indígenas como vulneráveis aos novo coronavírus. As aldeias Pitaguary (0.50), Lagoa encantada (0.50 de risco), Reserva Indígena Taba dos Anacés (0.50 de risco), Córrego João Pereira (0.50 de risco), Tremembé da Barra do Mundaú (0.49 de risco) Tremembé da Almofala (0.49 de risco) foram destacadas pela organização no Ceará.
Para o Cacique Roberto Anacé a falta de demarcação é uma dificuldade para restringir o acesso à aldeia. "Temos muitas pessoas não indígenas morando na aldeia. Fica quase impossível criar essas barreiras sanitárias', explica o cacique.
https://g1.globo.com/ce/ceara/noticia/2020/05/18/povo-tapeba-do-ceara-esta-entre-as-10-comunidades-indigenas-com-maior-vulnerabilidade-a-covid-19-no-pais.ghtml
PIB:Nordeste
Áreas Protegidas Relacionadas
- TI Tapeba
As notícias publicadas neste site são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.