Terra Indígena do Xingu completa 60 anos cercada pelo avanço do desmatamento

G1, Jornal Nacional - https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2 - 21/04/2021
Terra Indígena do Xingu completa 60 anos cercada pelo avanço do desmatamento
Estudos mostram que a Bacia do Xingu já perdeu 32% da vegetação nativa.

21/04/2021

A primeira grande área indígena reconhecida pelo governo brasileiro completa este mês 60 anos: o Parque do Xingu.

São 2,8 milhões de hectares que abrigam 16 povos indígenas de diferentes idiomas.

A demarcação foi feita na década de 60 no governo Jânio Quadros depois de uma longa campanha da qual participaram o antropólogo Darcy Ribeiro e os irmãos indigenistas Cláudio, Orlando e Leonardo Vilas Boas. O indigenista André Vilas Boas, que há 40 anos trabalha com povos do Xingu, diz que o Parque Nacional, hoje Terra Indígena, enfrentou resistência:

"Na época foi muito contestada, sobretudo pelo estado de Mato Grosso. O estado de Mato Grosso fez uma pressão imensa para que essa área não fosse criada e, paralelamente ao processo de criação, loteou toda aquela região. Loteou, vendeu e doou esta área para pessoas da elite regional. Esses títulos todos foram anulados posteriormente. Mas foi uma demonstração de contestação por parte do governo do estado à iniciativa do governo federal", conta André Vilas Boas.
Além de facilitar o atendimento à saúde de cerca de 7 mil indígenas, a demarcação também ajudou a proteger a biodiversidade numa área de transição entre o Cerrado e a Floresta Amazônia: 99% da vegetação nativa dentro do Parque estão preservados.

"Hoje completou 60 anos, 60 anos. Xingu. É importante para nós. A gente luta muito. Para gente é importante, água, os peixes, as matas", diz o cacique Jacalo Kuikuro.

Seis décadas depois da demarcação, uma ameaça tira o sono dos povos do Xingu, o desmatamento no entorno da terra indígena. Estudos mostram que a Bacia do Xingu já perdeu 32% da vegetação nativa.

O Instituto Centro de Vida, uma ONG ambiental, fez uma animação com base nos dados do MapBiomas. Ela revela como desde 1984 o desmatamento avança em direção à terra indígena.

O coordenador do Instituto Centro de Vida. Vinícius Silgueiro, afirma: "São centenas de nascentes que hoje e cada vez mais estão ameaçadas pelas ações de desmatamento e degradação que ocorrem nestes municípios. É importante que essas áreas que estão degradadas sejam recuperadas e aquele remanescente de vegetação nativa que ainda existe na bacia seja mantido."

Quem vive na terra indígena lamenta já não poder mais tomar a água de alguns rios. A água que atende à aldeia Kuikuro vem de um poço.

"E hoje continuamos nossa luta dentro da nossa comunidade, dentro do nosso território indígena do Xingu, sabendo que hoje a luta não vai parar por aqui. O mais importante para todos nós é o meio ambiente. Rio, peixes e matas", diz Jair Kuikuro, morador da aldeia.
A Secretaria de Meio Ambiente de Mato Grosso declarou que a Terra Indígena do Xingu é de competência federal e que a política estadual de tolerância zero contra crimes ambientais, que resultou na queda dos alertas de desmatamento.

O ICMBio, vinculado ao Ministério do Meio Ambiente, afirmou que os conflitos na região do Xingu estão sendo agravados pela falta de regularização fundiária.

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