Carta aberta em defesa da vida dos Povos Indígenas "Isolados"
Publicada em: 02/12/2021
Nós, povos, lideranças, organizações indígenas e parceiros, presentes no "II Encontro sobre Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato: Situações e desafios na proteção dos nossos parentes isolados", que ocorreu entre os dias 28 e 30 de novembro de 2021, em Santarém, no Pará. Durante o evento, promovido pela COIAB, discutimos questões importantes sobre nossos parentes que vivem de forma autônoma em seus territórios. E como resultado desse debate, nos manifestamos frente às diversas ameaças às vidas dessas populações nesta carta.
Primeiramente, denunciamos os crescentes ataques e pressões sobre os territórios dos nossos parentes "isolados" em diversas regiões da Amazônia. Na TI Yanomami, por exemplo, a invasão ilegal descontrolada de mais de 20 mil garimpeiros ocasinou recentemente a morte de duas pessoas Moxihatëtëa. Em outras terras indígenas, temos outros cenários trágicos ocasionados pelas invasões ilegais em seus territórios.
Sabemos que, nas cinco terras indígenas mais desmatadas (TIs Munduruku, Apyterewa, Ituna-Itatá, Trincheira Bacajá e Cachoeira Seca) em 2020, há presença dos povos "isolados" ou de "recente contato". Em 2021, também foram registradas altas taxas de desmatamento nas TIs Piripkura e Uru Eu Wau Wau, áreas onde também vivem nossos parentes "isolados". Por isso, cobramos que essas ilegalidades sejam investigadas, e os seus responsáveis punidos.
Também queremos relembrar que o novo coronavírus entrou de forma avassaladora em nossas aldeias. Mas nós, povos indígenas, nos organizamos de diversas formas para impedir que o vírus também chegasse aos nossos parentes "isolados". Ao mesmo tempo, o governo não implementou medidas efetivas de prevenção e tratamento em nossos territórios.
Destacamos ainda que, diante do gradual enfraquecimento da política indigenista da FUNAI, e do fortalecimento da pauta governamental contra nossos direitos, estamos aperfeiçoando cada vez mais nossas iniciativas autônomas e nossas estratégias para a proteção de nossos territórios, e para o bem viver dos povos indígenas isolados.
Dessa forma, reforçamos que continuaremos vigilantes em defesa de nossos direitos. Juntos, vamos continuar lutando pela vida daqueles que decidiram viver de forma autônoma em seus territórios. Como os nossos parentes "isolados", seguiremos resistindo, sem nos intimidar com esse governo genocida!
Santarém, 30 de novembro de 2021.
COIAB (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira)
Associação dos Povos das aldeia de ASTXUIRÍ (APAT)
Associação AYMARA
Associação do Povo Indígena Amondawa (APIA)
Associação Indígena Kaxuyana, Tunayana e Kahyana (AIKATUK)
Associação dos Povos Indígenas do Mapuera (APIM)
Federação das Organizações Indígenas do Médio Purus (FOCIMP)
Federação dos Povos Indígenas do Pará (FEPIPA)
Guardiões da Floresta de Araribóia (KA'A IWAR)
Hutukara Associação Yanomami (HAY)
União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (UNIVAJA)
OIS (Organisatie van Inheemse Volken in Suriname)
Land is Life
Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (Opi)
Conselho Indigenista Missionário (CIMI)
Instituto de Pesquisa e Formação Indígena (IEPÉ)
ISA (Instituto Socioambiental)
Operação Amazônia Nativa (OPAN)
https://coiab.org.br/conteudo/carta-aberta-em-defesa-da-vida-dos-povos-ind%C3%ADgenas-%E2%80%9Cisolados%E2%80%9D--1638458340358x664563711358533600
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