Terras indígenas de RO com presença de povos isolados estão entre as mais desmatadas em 2021, diz instituto
Na terra indígena Massaco, o aumento do desmatamento foi de 263%. Ambientalistas consideram invasões como causadoras do risco iminente de genocídio.
Por Jaíne Quele Cruz, g1 RO
27/01/2022
Em 2021, desmatamentos e invasões afetaram as Terras Indígenas (TI) de Rondônia onde vivem povos isolados. A TI Uru-Eu-Wau-Wau está entre as que mais apresentaram alerta, totalizando uma área de 340 hectares de floresta derrubada.
Os índices são do boletim anual do Sistema de Alerta de Desmatamento em Terras Indígenas com Registros de Povos Isolados (Sirad), realizado através do Instituto Socioambiental (ISA).
Outro dado apontado no relatório, é o crescimento da destruição na TI Massaco, localizada entre Alta Floresta D'Oeste e São Francisco do Guaporé. Se comparado ao ano anterior, o desmatamento na área cresceu 263%.
A Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé, que acompanha as denúncias dos povos indígenas, aponta que nos últimos anos houve um "enfraquecimento dos órgãos públicos de fiscalização" que faz com que os desmatadores e grileiros se sintam "protegidos e empoderados". A ONG ressalta ainda que a invasão das terras onde vivem os povos isolados é gravíssima.
"Certamente coloca em risco a vida dos indígenas com risco de genocídio", aponta Ivaneide Bandeira, indigenista que lidera a Kanindé.
TI Uru-Eu-Wau-Wau
A Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau é a que apresentou mais focos de incêndio em 2021. Junho e julho foram os meses mais marcantes, tanto em focos de calor quanto no desmatamento geral. Conforme o Sirad, a maior parte da área desmatada é transformada em pastagem ou destinada à grilagem.
No fim de 2021, a Polícia Federal deflagrou uma operação na Terra Indígena que durou cerca de uma semana. O objetivo principal era combater a grilagem de terras, desmatamento e comércio ilegal de madeira.
A ação resultou na prisão em flagrante de pessoas por crimes ambientais, inutilização de dois garimpos ilegais e apreensão de um caminhão carregado de madeira.
Atualmente vivem povos de nove etnias na TI Uru-Eu-Wau-Wau, sendo que pelo menos cinco são de povos chamados de isolados, por terem contato mínimo com os demais. A área da TI se expande por 12 municípios rondonienses e a maior parte está localizada em Guajará-Mirim.
Um dos povos indígenas que vivem na TI Uru-Eu-Wau-Wau são os Isolados do Cautário. Eles têm a migração como forma de sobrevivência. Em setembro de 2020, ao se encontrarem com o coordenador da Fundação Nacional do Índio (Funai), Rieli Franciscato, aconteceu um acidente: Rieli foi atingido no tórax por uma flecha. Ele tinha 56 anos e dedicou 30 anos ao cuidado e proteção dos povos isolados.
Sobre esse caso, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) apontou em relatório que em Rondônia as invasões constantes, as presenças de garimpeiros e grileiros têm provocado a mudança de comportamento dos grupos de indígenas isolados da região do Rio Cautário, assustados com a presença cada vez mais próxima de criminosos.
TI Massaco
O Sirad calculou um desmatamento total de 12 hectares na TI Massaco, causado sobretudo pela presença de grileiros, posseiros e garimpeiros. De acordo com o relatório, a região leste do território está "totalmente tomada pelo desmatamento".
Outubro de 2021 foi marcado com quase todo o desmatamento registrado. Segundo o documento, este foi o período em que a área foi invadida na borda. Além disso, existem cerca de cinco requerimentos em tramitação para exploração de ouro e cassiterita nos arredores da TI.
Atualmente existe apenas uma etnia conhecida vivendo na TI Massaco, os "Massaco Isolados". No entanto, o ISA não possui informações da quantidade populacional desse povo. A área total da TI possui 422 mil hectares.
https://g1.globo.com/ro/rondonia/noticia/2022/01/27/terras-indigenas-de-ro-com-presenca-de-povos-isolados-estao-entre-as-mais-desmatadas-em-2021-diz-instituto.ghtml
PIB:Rondônia
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