outubro 11, 2023
O Núcleo da Juventude Indígena do Conselho Indígena de Roraima(CIR), iniciou nesta terça-feira( 10), no malocão tradicional "José Farias", a Assembleia Estadual da Juventude Indígena, na comunidade indígena Pium, região Serra da Lua, na terra indígena Manoá-Pium, município de Bonfim. O evento segue até sexta-feira, 13.
Com o tema, " Os desafios de lideranças jovens - vidas escuras podem ganhar brilho", durante quatro dias, os jovens indígenas debatem o histórico, fortalecimento, políticas públicas, informes regionais e planejamento das ações. Segundo a coordenadora estadual da juventude, Raquel Wapichana, o tema foi pensado com base na saúde mental dos jovens indígenas, onde muitos enfrentam a depressão e como consequência, o próprio suícidio.
"Cada um de nós temos o brilho. Cada jovem só quer uma oportunidade", refletiu Raquel, no primeiro dia de assembleia que reúne mais de mil jovens de dez regiões: Amajari, Murupu, Alto Cauamé, Tabaio, Serra da Lua, Serras, Surumu, Raposa, e Wai-Wai.
Na abertura houve a defumação do maruwai com a pajé Mariana Macuxi, anciã da terra indígena Raposa Serra do Sol. Um momento sagrado e de renovação de forças, coragem, sabedoria e ancestralidade.
Os coordenadores de juventude apresentaram suas informações de atividades regionais, como trabalho comunitário, execução de projetos, eventos culturais e participação nas mobilizações no âmbito local e nacional.
O vice-coordenador do Conselho Indígena de Roraima (CIR), Enock Taurepang, que tem como principal pauta de atuação o movimento da juventude, refletiu sobre a ausência da relação afetiva, solidariedade e do companheirismo. " Muito se fala em políticas públicas, mas, muitos esquecem do abraço, do sorriso. Estamos aqui para falar de nós, e esse momento é para nos conhecermos, nos fortalecermos. E, então, viver bem em nossos territórios", refletiu Taurepang.
No primeiro dia teve a pauta do histórico de luta da juventude indígena de Roraima desde 2011 a 2017 com o tema " reafirmação da juventude ". Foram convidados para o momento, o coordenador geral do CIR, Edinho Batista, o advogado indígena e coordenador do departamento Jurídico, Junior Nicacio, o assistente administrativo no Distrito Leste de Roraima, Daniel Sampaio, o ex-coordenador de juventude das Serras e membro Conselheiro da Coiab, Joseilson Bezerra, e a jornalista e consultora em comunicação, Mayra Wapichana.
O coordenador geral do CIR, Edinho Batista, um dos primeiros que iniciou as discussões sobre o movimento da juventude indígena a partir do I Encontro em 2011, realizado em Boa Vista, disse que criaram o movimento da juventude para ter lideranças corajosas e que assumam a responsabilidade. "Quando criamos esse momento foi para ter lideranças corajosas e que assumam a responsabilidade", disse, ao refletir que o movimento passa de geração e geração.
Outro idealizador do movimento da juventude indígena de Roraima é Junior Nicacio Farias, originário da comunidade indígena Pium, na terra indígena Manoá-Pium. Advogado e coordenador do departamento Jurídico do CIR, Junior relembrou os atos de violência contra os povos indígenas de Roraima, como ocorreu no auge da demarcação da terra indígena Raposa Serra do Sol, o incêndio do Centro Indígena de Formação e Cultura Raposa Serra do Sol, ataque a comunidade 10 Irmãos, como ficou conhecida, e outros, onde a maioria que esteve na linha de frente e participando das atividade eram os jovens.
" O movimento da juventude é a garantia dos territórios, longe das ameaças", refletiu Nicacio, ao incentivar a participação da juventude no movimento.
O debate se expandiu com o tema " trajetória da juventude indígena" a partir da criação do Núcleo da Juventude no âmbito da estrutura organizacional do Conselho Indígena de Roraima (CIR). Participaram do debate, as lideranças jovens e referência nessa construção, Enock Taurepang, Paulo Ricardo, Cirilo Macuxi, Lázaro Wapichana, Ariene Sussui, Raquel Wapichana, Ingrid e demais jovens.
O coordenador da juventude da Raposa, Paulo Ricardo, ao compartilhar sobre a trajetória da juventude da sua região, ressaltou que o movimento é uma escola, onde aprendem sobre as lutas dos povos indígenas e fez o chamado. " O primeiro passo acontece dentro da gente. Temos que ser ousados, não podemos ficar contente com aquilo que temos, precisamos avançar", refletiu Ricardo. " Na escola aprendi que o Brasil foi descoberto. No movimento aprendi que o Brasil foi invadido. Você tem um brilho, você tem uma história a construir e contar", completou, ao deixar a sua mensagem à juventude indígena de Roraima.
Buscando valorizar a língua materna, a coordenadora regional da Juventude do Surumu, professora Ingrid de Sousa, falou da importância da língua materna e a valorização da identidade. " Precisamos valorizar a nossa língua materna, a nossa identidade. Isso deve estar sempre em primeiro lugar", frisou.
Uma das jovens que participou ativamente do movimento foi Ariene Sussui, da comunidade Truaru da Cabeceira, região Murupu. Formada em jornalismo e mestre em Comunicação, Sussui, atualmente, faz parte da organização Greenpeace. Ao lembrar da trajetória, Sussui destacou que, como fruto da luta das antigas lideranças, são os espaços conquistados.
"O estado de Roraima é o berço das grandes lideranças indígenas do Brasil", destacou Ariene.
O vice-coordenador da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), Alcebias Constantino, o primeiro coordenador do Núcleo da Juventude, compartilhou sua trajetória e reforçou a importância da juventude na construção de um movimento consolidado.
Fortalecendo a participação das mulheres na assembleia, a secretária do movimento de mulheres indígenas do Cir, Kelliane Wapichana, que compõe a coordenaçaõ executiva da instituição e a ex- secretária, consultora e profesora, Maria Betânia estiveram na abertura do evento.
A Assembleia também teve a participação do presidente da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN), Marivelton Baré, da coordenadora do Fundo Indígena do Rio Negro (FIRN) Josinara Baré e o assessor técnico do Instituto Socioambiental (ISA), João Luis.
A programação segue nos próximos dias, com pautas voltadas ao fortalecimento da juventude, políticas públicas e planejamento das ações. Na sexta-feira, 13, os jovens indígenas aguardam a presença da presidenta da Fundação Nacional dos Povos Indígenas, Joenia Wapichana.
https://cir.org.br/site/2023/10/11/em-assembleia-estadual-jovens-indigenas-de-roraima-debatem-saude-mental-politicas-publicas-e-fortalecimento/
Índios:Política Indígena
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