Ação humana causou 100% do fogo em maio e junho no Pantanal

FSP - https://www1.folha.uol.com.br/ - 02/07/2024
Ação humana causou 100% do fogo em maio e junho no Pantanal
Os cinco municípios com mais área queimada em 2024 estão entre os 10 com mais desmatamento no ano anterior

Daniela Chiaretti

02/07/2024

O Pantanal está enfrentando a seca mais grave dos últimos 70 anos. A dificuldade de controle de incêndios com base na situação climática é a pior desde 2003. Em maio e junho todos os focos de calor no bioma foram causados por ação humana. Não há nenhum registro de incêndios causados por raios neste primeiro semestre.

De 1o de janeiro a 27 de junho foram registrados 3.451 focos de calor no Pantanal, sendo quase 80% em Mato Grosso do Sul, e o restante, em Mato Grosso.

Corumbá, em Mato Grosso do Sul, concentra 66,2% dos focos de calor em 2024, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Cáceres, em Mato Grosso, responde por 12,5% dos focos e Poconé, no mesmo Estado, vem em terceiro lugar, com 9,1%.

Os dados são do boletim "Combate aos incêndios florestais no Pantanal" a ser divulgado às sextas-feiras pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA). Trata-se do esforço da sala de situação coordenada pela Casa Civil e as pastas da Justiça, Integração/Desenvolvimento Regional, Defesa e MMA.

O boletim informa que o período de junho de 2023 a maio de 2024 foi o mais quente já registrado no planeta. Os cinco primeiros meses de 2024 foram os mais quentes já registrados para o período, segundo o Programa Copernicus, da União Europeia, e o NOAA, dos Estados Unidos.

As altas temperaturas e a precipitação abaixo da média devem se manter neste trimestre. Os gráficos indicam que os níveis médios anuais de umidade do solo no Pantanal estão em níveis alarmantes. "O Pantanal está secando. Literalmente, secando", disse Tasso Azevedo, coordenador geral do MapBiomas à jornalista Miriam Leitão, em "O Globo". O Pantanal é a maior área úmida do planeta.

Dados como temperatura, chuva, umidade e vento compõem o CDSR, índice climático que mede a dificuldade de controle de incêndio. A evolução do índice, entre 2003 e 2024, mostra que, com base na situação climática, o cenário no Pantanal é o pior desde 2003, segundo gráficos do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (Lasa) do Departamento de Meteorologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

De 1o de janeiro a 27 de junho, a área queimada no Pantanal foi de 688.125 hectares, ou 4,56% do bioma. O problema, entre outros, é que o drama está se iniciando muito antes - usualmente o avanço dos focos de incêndio ocorria a partir do fim de agosto, com pico em setembro e outubro. Do total desta área queimada, mais de 85% correspondem a áreas privadas.

O Pantanal está secando, literalmente secando"
- Tasso Azevedo

Outros 7% acontecem em terras indígenas, e 4,5%, em unidades de conservação federais - a com mais danos é a Estação Ecológica Taimã, segundo o ICMBio. A Terra Indígena Kadiwéu, em Mato Grosso do Sul, é a mais afetada.

Dos 42 mil hectares queimados na TI Kadiwéu, mais de 16 mil hectares correspondem a ações de queima prescrita. Trata-se de um método preventivo de combate a incêndios, que, em 2024, aumentou 1.900% na comparação com 2023. Esta técnica de manejo integrado do fogo busca reduzir a quantidade de material combustível em determinadas áreas.

Corumbá é o município com mais focos de incêndio e também o que mais desmatou, no Pantanal, segundo o Prodes, do Inpe. "Os cinco municípios com mais área queimada em 2024 estão entre os dez com mais desmatamento no ano anterior", diz o texto.

As ações de combate estão em 34 frentes de incêndio, sendo oito já controladas e duas já extintas. O governo federal atua em 23 frentes de incêndio. São 285 profissionais do governo em campo. "O uso do fogo está proibido no Pantanal. Quem descumprir a lei poderá ser punido com multa, apreensão de bens e prisão", diz o texto.

"O governo do Estado [de Mato Grosso do Sul] fez o mínimo. E demorou para pedir apoio. O governo federal poderia ter antecipado o auxílio. Ambos mantiveram a retórica de que aumentaram os investimentos, mas sabiam que não iam dar cabo da seca extrema", diz uma fonte de Mato Grosso do Sul que prefere não se identificar. "O dispositivo de manejo do fogo alardeado pelo governo do Estado é insuficiente porque os fazendeiros ficam impunes. O estado de emergência foi decretado só uma semana atrás."

https://valor.globo.com/brasil/noticia/2024/07/02/acao-humana-causou-100-do-fogo-em-maio-e-junho-no-pantanal.ghtml
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