Queimadas, fumaça e ameaças contra os indígenas
Cidades amazônicas estão há dias cobertas por fumaça
Txai Suruí
Coordenadora da Associação de Defesa Etnoambiental - Kanindé e do Movimento da Juventude Indígena de Rondônia
16/08/2024
Junto com o Pantanal e com o cerrado, a Amazônia bate recordes de queimadas.
A mudança do clima tem acirrado a seca, que aumenta a cada temporada, favorecendo ainda mais os incêndios e deixando grande quantidade de animais mortos, carbonizados. Com o calor intenso, o aquecimento das águas dos igarapés leva à morte de peixes.
As plantações também sofrem. A mandioca plantada na aldeia Ricardo Franco não vingou; a que foi plantada na Terra Indígena Capoto/Jarina "cozinhou" dentro da terra.
No Rio Grande do Sul, a fumaça encobriu a capital, Porto Alegre. Vindo da Amazônia, a tendência é que esse corredor de fumaça continue sufocando o estado pelos próximos dias.
Cidades amazônicas como Manaus e Porto Velho há dias estão cobertas por fumaça, trazendo problemas e doenças respiratórias para a população.
Em Porto Velho, alguns relatos são de dificuldade para respirar, ardência nos olhos e aumento de crises de asma. Porto Velho é a capital que mais emite CO2 na atmosfera per capita e a segunda pior em desmatamento. O Madeira, rio que banha a cidade, chegou ao seu nível mais baixo em quase 60 anos, com recomendações da prefeitura para que as pessoas façam uso essencial da água, evitando o desperdício.
Manaus passou uma semana sob fumaça , chegando ao ranking de pior qualidade do ar do mundo. Outras cidades do estado também sofrem com isso, como Apuí, Lábrea e Novo Aripuanã. O sul do Amazonas, de onde provêm a fumaça que atinge o Sudeste, faz parte do arco do desmatamento, região que inclui o norte de Rondônia e o leste do Acre, Mato Grosso e sul do Pará.
As queimadas ilegais na Amazônia já tornaram o Brasil o quinto país com o ar mais poluído do mundo, segundo a plataforma World's Air Quality Index. A queimada é crime ambiental e pode render multa de R$ 7.500 por hectare e até seis anos de prisão.
Em Rondônia, o povo oro nao, da Terra Indígena Igarapé Lage, sofreu um ataque violento em sua aldeia por invasores encapuzados que incendiaram suas casas e os ameaçaram, obrigando-os a deixarem o local. Outro ataque foi convocado contra os guarani-kaiowás, em Mato Grosso do Sul, por meio de fake news no Instagram. Líderes continuam sendo perseguidos e ameaçados.
Uma passageira que ia para Porto Velho e cujo voo foi desviado para Manaus devido à baixa visibilidade por conta das queimadas filmou a reação de deputados federais e estaduais que estariam no voo; fingiam que aquilo não tinha nada a ver com eles. Foram para seus hotéis descansar enquanto todos aguardavam cansados no aeroporto.
Eleitor, pense muito antes de votar.
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/txai-surui/2024/08/queimadas-fumaca-e-ameacas-contra-os-indigenas.shtml
Amazônia:Queimadas
Áreas Protegidas Relacionadas
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- TI Igarapé Lage
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