Drone e câmeras: como aldeia indígena usa tecnologia para monitorar fauna em Ubatuba

OESP - https://www.estadao.com.br/ - 04/03/2025
Drone e câmeras: como aldeia indígena usa tecnologia para monitorar fauna em Ubatuba
Equipamentos com sensores de movimento servem tanto para registrar a passagem de animais silvestres, como para denunciar eventuais invasores

José Maria Tomazela

04/03/2025

Indígenas de uma aldeia de Ubatuba, no litoral norte de São Paulo, estão usando recursos tecnológicos como um drone e câmeras com sensores para monitorar a fauna e garantir a segurança do território. A Aldeia Renascer Ywyty Guaçu ocupa uma área de 2,5 mil hectares, equivalentes a quase três mil campos de futebol coberta pela Mata Atlântica, na região do Morro do Corcovado. São cerca de 60 pessoas das etnias tupi-guarani e guarani que estão na área desde 1999.

Os equipamentos foram implantados pela Fundação Florestal, vinculada à Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil) do Estado.

A ação faz parte do Programa Guardiões da Floresta, que também remunera comunidades indígenas, incentivando a preservação das unidades de conservação - muitas delas sobrepostas a terras indígenas. No total, 14 territórios indígenas do Estado de São Paulo, demarcados ou não, participam do projeto, que é apoiado pela Coordenadoria de Políticas para os Povos Indígenas (CPPI), da Secretaria de Justiça e Cidadania.

Na aldeia de Ubatuba foram instaladas cinco câmeras do tipo trap, que servem tanto para registrar a passagem de animais silvestres, como para denunciar eventuais invasores. A reserva é visada por contrabandistas de fauna e flora e por palmiteiros - o palmito é retirado com o corte raso da palmeira juçara, espécie típica da Mata Atlântica, ameaçada de extinção.

Além de ser um aliado para a segurança, o drone ajuda na conservação ambiental, identificando ninhos de aves e espécies da flora, como orquídeas, instalados na copa das árvores. O titular da coordenadoria, Cristiano Kiririndju, diz que o drone também pode ser usado para espalhar sementes e repovoar áreas com espécies que se tornaram escassas, como a própria palmeira juçara.

É, ainda, um instrumento útil às pesquisas e para incentivar o turismo na reserva. "São ações que fortalecem as causas indígenas, promovendo a valorização dos saberes tradicionais e sua participação ativa na conservação ambiental", diz.

As câmeras são equipadas com sensores de movimento e acionadas automaticamente quando detectam a aproximação de animais, permitindo o registro de espécies que vivem na área. "Já registramos animais como a jaguatirica, a anta, o tamanduá-bandeira e o quati, além de aves como o tangará e o inambu, que são essenciais para o equilíbrio ambiental", afirmou.

Ainda segundo o coordenador, o aprendizado para o uso dessas tecnologias também capacitou os indígenas para denunciar e combater crimes ambientais e se relacionar com os visitantes. "Com esse apoio, a aldeia tem sido mais procurada por escolas e universidades que, agora, encontram mais facilidade para o diálogo com outras comunidades e com o público externo."

Os índios já criaram um centro cultural na aldeia, com imagens que destacam as belezas naturais e atividades que realçam o conhecimento tradicional dos moradores. A coordenadoria foi criada por decreto em 2023 e já realizou diagnósticos em 27 terras indígenas para implementar políticas públicas voltadas para a promoção dos direitos e a proteção das comunidades.

De acordo com a Fundação Florestal, a Aldeia Renascer Ywyty Guaçu é uma das oito comunidades indígenas incluídas na fase 1 do Programa de Pagamentos por Serviços Ambientais Guardiões da Floresta. Na fase 2, prevista para este ano, 14 terras indígenas estarão incluídas. Dessas, as que manifestarem interesse serão capacitadas para usar a tecnologia dos drones e câmeras

A Aldeia Renascer Ywyty Guaçu é uma das oito comunidades indígenas participantes da Fase 1 do Programa de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) Guardiões das Florestas, encabeçada pela Fundação Florestal, órgão vinculado à Semil. Na fase 2 do programa, prevista para este ano, 14 terras indígenas estão incluídas. Dessas, as aldeias que manifestarem interesse serão devidamente capacitadas na utilização da tecnologia com drones e câmeras, usados para ações de monitoramento territorial e de biodiversidade.

São elas:

Terra Indígena Ywyty Guaçu Renascer - sobreposta à zona de amortecimento do PE Serra do Mar - Núcleo Picinguaba, no município de Ubatuba, litoral norte. População estimada: 63 pessoas.

Terra Indígena Ribeirão Silveira - sobreposta ao PE Serra do Mar - núcleos São Sebastião e Bertioga, entre os municípios de São Sebastião e Bertioga, litoral norte. População estimada: 457 pessoas.

Terra Indígena Araribá - sobreposta à APA do Rio Batalha, no município de Avaí, região de Bauru. População estimada: 670 pessoas.

Terra Indígena Piaçaguera - sobreposta ao PESM Núcleo Itariru, no município de Peruíbe, na Baixada Santista. População estimada: 331 pessoas.

Terra Indígena Amba Porã - sobreposta à APA Serra do Mar, Núcleo Itariru e PE Jurupará, no município de Miracatu, Vale do Ribeira. População estimada: 140 pessoas.

Terra Indígena Peruíbe - sobreposta ao Parque Serra do Mar, Núcleo Itariru, no município de Peruíbe, na Baixada Santista. População estimada: 40 pessoas.

Terra Indígena Djaiko Aty - sobreposta ao Parque Serra do Mar, Núcleo Itariru, no município de Miracatu, Vale do Ribeira. População estimada: 50 pessoas.

Terra Indígena Serra do Itatins - sobreposta à zona de amortecimento do Parque Serra do Mar, Núcleo Itariru, no município de Itariri, região do Vale do Ribeira/Baixada Santista. População estimada: 41 pessoas.

Terra Indígena Paranapuã - sobreposta ao PE Xixová-Japuí, nos municípios de São Vicente e Praia Grande, baixada santista. População estimada: 77 pessoas.

Terra Indígena Peguao Ty - sobreposta ao PE Intervales e PE Carlos Botelho, no município de Sete Barras, Vale do Ribeira. População estimada: 50 pessoas.

Terra Indígena Jaraguá - parcialmente sobreposta ao PE do Jaraguá e sua zona de amortecimento, localizada na zona norte do município de São Paulo. População estimada: 790 pessoas.

Terra Indígena Boa Vista (Tekoas Yakã Porã e Akaray Mirim) - sobreposta ao PE Serra do Mar, Núcleo Picinguaba, no município de Ubatuba, litoral norte. População estimada: 58 pessoas.

Terra Indígena Tekoa Mirim - sobreposta à zona de amortecimento do PE Serra do Mar Núcleo Itutinga-Pilões, no município de Praia Grande, baixada santista. População estimada: 73 pessoas.

Terra Indígena Tekoha Nhanderu Porã - sobreposta ao PE Carlos Botelho, no município de São Miguel Arcanjo, região de Sorocaba. População estimada: 19 pessoas.

https://www.estadao.com.br/sustentabilidade/drone-e-cameras-como-aldeia-indigena-usa-tecnologia-para-monitorar-fauna-em-ubatuba/
Política Socioambiental

Áreas Protegidas Relacionadas