Em meio a ataques de grupos de latifundiários contra indígenas e camponeses na Bahia (BA), a Polícia Civil e a Polícia Militar do estado, sob aprovação do governo de Jerônimo Rodrigues (PT), deflagraram hoje (20/3) uma operação contra indígenas que lutam em defesa de suas terras. Como resultado da operação, indígenas Pataxó e Pataxó HãHãHãe foram presos e baleados no Sul da Bahia, de acordo com uma denúncia da Teia dos Povos do Ceará.
A operação deve cumprir 12 mandados de prisão e 7 mandados de busca e apreensão em Prado, cidade ao sul da Bahia. De acordo com a instituição repressiva, a ofensiva será contra indígenas que supostamente atuam de forma armada nas retomadas de territórios ancestrais.
Chama atenção que a operação visa atacar os indígenas apesar dos sucessivos crimes de latifundiários na região. No dia 10/3, o jovem indígena Pataxó Vítor Braz foi assassinado por um bando paramilitar a serviço do latifúndio no território Barra Velha, enquanto a casa do cacique da TI Comexatibá, em Prado, foi incendiada.
A organização Teia dos Povos do Ceará informou que a polícia está atuando em conjunto com paramilitares "à procura de lideranças", com o uso "de carro e helicópteros". "Nós, da Teia dos Povos do Ceará, repudiamos toda ação violenta contra os povos indígenas", afirmou a organização, que disse também que o genocídio continuado contra os povos indígenas "continua em curso, de diversos modos", "agora, sendo perpetrado de forma violenta e explícita pelo governo da Bahia, de Jerônimo Rodrigues (PT)".
Latifundiários perseguem camponeses ofensiva
Enquanto a polícia mira os indígenas, desde a semana passada, latifundiários organizados no grupo União Agro Bahia (Unagro) estão atacando camponeses do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) que ocuparam latifúndios no estado.
A Unagro está convocando um ataque para amanhã (21/3), em um latifúndio improdutivo ocupado pelo MST, cujo suposto dono é um latifundiário de Feira de Santana. De acordo com o comunicado, a ideia é fazer algo "pacífico", mas essa não costuma ser a prática dos latifundiários brasileiros e nem de seus bandos pistoleiros. Em entrevista recente à revista bolsonarista Oeste, o vice-presidente da Unagro comentou sobre as mobilizações em tom de ataques. "Nós vamos combatê-los", disse o reacionário. "Com um número cada vez maior de produtores, para garantir os nossos direitos de propriedade privada".
O grupo se articula por Whatsapp e marca pontos de encontro para, depois, atacar as ocupações - os mesmos moldes aplicados pelo bando paramilitar "Invasão Zero". O bando tem inclusive atuação na Bahia, e foi lá que, em janeiro de 2023, latifundiários organizados nessa agremiação assassinaram a indígena Nega Pataxó durante um ataque à TI Catarina-Paraguaçu no município de Potiraguá (BA).
Um outro ataque de vulto organizado por este grupo ocorreu em Jaqueira, interior de Pernambuco, mas o assalto foi repelido pelos camponeses, que incendiaram barricadas e defenderam suas próprias terras com foices, pedras e outros objetos arremessados contra os invasores. Ao final do confronto, o líder do "Invasão Zero" e outros dois capangas ficaram baleados.
Os confrontos crescentes em vários pontos do Brasil são expressão do desenvolvimento da guerra entre latifundiários de extrema-direita e pobres do campo que ocorre no interior brasileiro. Os conflitos têm avançado conforme setores mais combativos do campesinato e dos povos indígenas têm organizado grupos armados de autodefesa para proteger suas terras e responder às agressões dos latifundiários. É o caso da Liga dos Camponeses Pobres (LCP), que entre 2023 e 2024 fez ao menos duas convocações reforçando a necessidade da conformação de grupos de autodefesa.
Esse pode ser o caso dos indígenas do Sul da Bahia, se é que de fato eles estão armados - a suspeita de ser uma denúncia falsa existe, visto que é uma prática comum entre latifundiários e policiais para justificar a repressão aos pobres.
https://anovademocracia.com.br/policiais-latifundiarios-atacam-camponeses/
PIB:Leste
Áreas Protegidas Relacionadas
- TI Barra Velha
- TI Comexatiba (Cahy-Pequi)
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