Cacique vende madeira nobre da tribo a R$ 4,00 cada árvore

O Liberal - Belém - PA - 14/11/2000
A reserva dos índios Arnanayé, situada na margem do rio Capim, está sendo saqueada por madeireiras de Paragominas e Ipixuna, municípios do nordeste do Pará. Apesar da localização geográfica, os Amanayé estão sob a tutela da administração regional da Funai de Marabá, a mais de 300 quilômetros de distância. A reserva, de cerca de 18 mil hectares, ainda está em fase de identificação e delimitação da área, rica em madeira nobre.

O saque conta com a conivência do próprio cacique da aldeia, Domingos Amanayé, segundo foi constatado pelo administrador da Funai, Eimar Araújo. O cacique vendeu cada árvore pelo valor irrisório de R$ 4,00, segundo ele mesmo confessou no escritório da Funai em Marabá. Na venda de 350 unidades derrubadas na semana passada, ele recebeu em troca motor de popa e material de pesca, como malhadeira e outros utensílios.
De acordo com o dirigente da Funai, desde dezembro do ano passado que os Amanayé Vêm tendo problemas com madeireiros. Na época, uma equipe composta por agentes da Funai, Ibama e Polícia Federal, apreendeu de 39.700 metros cúbicos de madeira. Seis madeireiras foram notificadas. Um mês depois dessa apreensão, porém, parte da madeira sumiu misteriosamente. A informação, não confirmada pela Funai, é de que a madeira teria sido roubada.

O dirigente da Funai questiona o fato de que as árvores apreendidas tiveram como fiel depositário uma das madeireiras que estava saqueando a reserva. "Um fato muito estranho", disse Eimar Araújo. O escritório do lbama de Paragominas foi quem autorizou, segundo Eimar, que essa madeira apreendida ficasse no pátio da serraria, cujo nome ele não lembra.

No episódio da semana passada, o Ibama identificou o comprador" da madeira dos Amanayé: Renato "Gaúcho", da madeireira Santa Teresa. A serraria fica no quilômetro 12 da BR-010, em Paragominas. De acordo com Eimar, já tinham sido derrubadas mais de mil árvores nobres. O fato já foi levado ao conhecimento do Ministério Público e da Delegacia da Polícia Federal, em Belém. O dirigente da Funai acredita que os índios, principalmente o cacique Domingos, estão sendo induzidos pelos madeireiros da região a vender-lhes a madeira por preço irrisório. O preço pago a cada árvore, de apenas R$ 4,00, foi considerado absurdo pelo dirigente da Funai. Ele lembra que no projeto piloto de manejo na reserva dos Xicrin do Cateté, em São Félix do Xingu, o metro cúbico da madeira de lei está avaliada em 1,5 mil dólares. O que leva uma árvore a valer entre U$ 3,5 mil a 4 mil dólares no mercado internacional, dependendo do tamanho. "Os Amanayé estão sendo ludibriados", ressaltou Eimar Araújo. Na reserva vivem apenas 80 famílias dessa etnia.

Vicinal- Uma estrada vicinal de 60 quilômetros de extensão, que liga a rodovia PA-150 à reserva dos índios Guarany, em Jacundá, pode ser prejudicada pelo tráfego pesado que passa por ali diariamente. Principalmente caminhões madeireiros que puxam madeira da mata para as serrarias da cidade.

A denúncia está sendo feita também por Eimar Araújo. Ele disse a O LIBERAL, em Marabá, que recentemente a estrada passou por serviço completo de terraplenagem e compactação, através do 5o núcleo regional da Secretaria de Transportes (Setran) sediado em Marabá. Todo o trabalho, no entanto, pode ser prejudicado pelo vai-e-vem intenso dos caminhões. Eimar lembra que foi feito também serviço de bueiros em vários trechos, numa obra de qualidade. "Mas tudo pode se perder".

Ainda de acordo com Eimar Araújo, a estrada vicinal atende não apenas a aldeia dos Guarany, mas serve também aos colonos que vivem na zona rural. Se a estrada não for conservada, lembra o administrador; no inverno a vicinal pode cortar; trazendo sérios problemas não apenas para os índios mas também para a comunidade agrícola da
região. Munido de relatório da Setran e de fotografias da estrada, Eimar vai denunciar o fato junto ao Ministério Público Federal.
PIB:Sudeste do Pará

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