Escola indígena já começou a produzir cartilhas para ensinar crianças. próximo passo será o resgate da língua nativa da tribo Mura
Alcilei é coordenador do projeto e Amélia dá aulas com conteúdo voltado para a cultura local Ninguém melhor para falar em temas bélicos do que um militar. E quem entende bem da prática da pesca é o pescador. Partindo desse princípio, ninguém mais indicado para falar da cultura indígena do que os nascidos nas aldeias, moradias originais desses povos. É essa a referência que norteia o programa de educação indígena Mura-peara, implantado no Município de Autazes (a 110 quilômetros de Manaus). Vinculado ao Pira-yawara, da Secretaria Estadual de Educação e Qualidade de Ensino (Seduc), o projeto tem como propósito habilitar professores de origem indígena para eles próprios lecionarem nas suas respectivas aldeias. Com isso, as novas gerações participam do processo de ensino e aprendizagem de alguém da mesma etnia, sem mais participação direta do homem branco. E a conhecida etapa da identificação com o professor acaba se tornando uma vantagem para a reafirmação de suas culturas, afirma o coordenador pedagógico do projeto, o índio mura Alcilei Vale Neto. Em Autazes, atualmente estão sendo treinados 42 professores de nível médio que recebem aulas sobre legislação indígena, noções de antropologia e sociologia, entre outras disciplinas. Todos já são professores nas 12 escolas indígenas existentes, destinadas principalmente para a etnia mura, que é predominante no Município. Um dos exemplos é professora Amélia Braga, que há cinco anos dá aulas na aldeia Murutinga. Atualmente, na turma dela estudam 45 alunos de várias séries diferentes, com os quais ela usa o método interdisciplinar aprendido no curso. Por meio de um mesmo exemplo como a construção de uma canoa, posso falar em matemática ao abordar dimensões como comprimento e largura, também ciência, citando as árvores mais adequadas para a fabricação, disse ela, exemplificando que o modelo pode ser utilizado também nas disciplinas como geografia, história e português. De acordo com o coordenador pedagógico do projeto, Alcilei Vale Neto, a elaboração dos próprios livros, que já estão produzindo obras que contam a história da tribo, suas tradições e mitos. Há espaço ainda para a produção em temas mais atuais como o que está sendo escrito por Alcilei sobre bebida alcoólica, um dos maiores problemas enfrentados pela etnia. O livro busca a conscientização sobre um assunto que causa muita mortalidade entre nós, explica. Os muras são considerados pelos colonizadores como um povo bravo e muito hostil, cuja população atual está estimada em 1,4 mil pessoas, habitando a região de Autazes, no baixo rio Madeira, mas seus remanescentes não falam mais a língua original. Com a consolidação do Mura-peara, Alcilei acredita que vão estar sendo impregnados os valores nos jovens que hoje se envergonham e até negam serem índios. Alguns, segundo ele, recusam-se a aprender o nheengatu, a língua geral. Em algumas aldeias, os jovens usam preferencialmente o português por causa de pressões e apelos externos. O pira-yawara é um programa da Seduc que funciona desde 1999 e em cada aldeia e tribo nos quais está implantado recebe um nome diferente. Em Borba (a 150 quilômetros), por exemplo, é chamado de Kabia-ra, que significa Estrela do Amanhecer na língua mundurucu. De acordo com a docente dos professores indígenas cursistas, Romy Cabral, o programa permite a construção de um currículo escolar específico, diferenciado, bilingüe e multicultural, diz. A pedagoga cita o exemplo do projeto que está desenvolvido pela tribo sateré-maué, localizado no Alto do Purus. Nas aulas realizadas na aldeia já estão sendo utilizados os livros didáticos que os próprios índios elaboraram.
PIB:Tapajós/Madeira
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- TI Capivara
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