Índios prometem resistir
Cerca de 350 guarani-caiovás, que invadiram fazenda no Mato Grosso do Sul, decidem não cumprir determinação judicial de deixar área
Cerca de 350 homens, mulheres e crianças guarani-caiovás bateram pé e não vão deixar a fazenda Campo Belo, no município de Dourados, região sul de Mato Grosso do Sul. A desocupação foi determinada pela juíza substituta da 2ªVara Federal, Luciana Melchiori Bezerra, no último dia 20. Os invasores são liderados pelo cacique Carlito de Oliveira. O conflito entre índios e fazendeiros na região já dura três meses.
Carlito afirma que os índios não têm para onde ir e estão dispostos a enfrentar as conseqüências da permanência no imóvel. Para o cacique, a situação que vivem atualmente não é pior do que a anterior à invasão.
Sem terra há cinco anos, a tribo monta e desmonta acampamentos em diversos lugares do município. O grupo vivia na aldeia indígena de Dourados, de onde foi expulso pelo cacique Ramão Machado, depois de vários desentendimentos com Carlito Oliveira.
Disparos
Os caiovás estão concentrados em uma parte da fazenda, longe da sede, que é vigiada por seguranças contratados pelos proprietários da área. Embora a polícia negue a existência de seguranças armados na fazenda invadida, o cacique Carlito registrou pelo menos duas queixas na Delegacia de Polícia Federal. Ele afirma que os vigilantes estão atirando contra o acampamento indígena.
De acordo com a Fundação Nacional do Índio, a fazenda, invadida há um mês, é particular, e não se trata de terra indígena. É um dos poucos casos de conflito agrário no estado que não envolve áreas remanescentes de índios.
O delegado da Polícia Federal de Dourados, Lázaro Moreira da Silva, prefere esgotar todas as possibilidades de negociação antes de utilizar força policial para o despejo. Por causa das sérias dificuldades enfrentadas pelo grupo indígena, uma investida mais rigorosa pode provocar reações imprevisíveis, argumenta o delegado. Ele acredita em solução pacífica para o caso.
Pintados para a guerra
Em 16 de fevereiro, os guarani-caiovás, que ocupavam três fazendas na região, se pintaram para a guerra e queriam vingança contra os fazendeiros. Durante confronto, o índio Décio Lemes foi atingido por um tiro. O disparo teria sido feito por um funcionário da fazenda São Jorge.
Grupos indígenas chegaram a patrulhar a estrada de terra que liga Japorã a Iguatemi. A confusão ocorreu nessa rodovia. Os índios apreenderam um ônibus, ferindo a passageira Mariana dos Santos, 58 anos. Com pedras e cassetetes, eles quebraram o pára-brisas de uma caminhonete. No tumulto, foram disparados cinco ou seis tiros, um deles acertou Leme.
A fazenda São Jorge foi a primeira a ser invadida pelos guarani-caiovás, em 22 de dezembro. Depois, outras 13 propriedades rurais foram ocupadas entre Japorã e Iguatemi. Após negociação e ações na Justiça, os invasores deixaram onze fazendas.
CB, 27/02/2004, Brasil, p. 15
PIB:Mato Grosso do Sul
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- TI Yvy Katu
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