Índios vão produzir programa para a TVE
Fundação Raoni e MinC tornam-se parceiros no projeto da primeira TV indígena, que deverá ocupar horário na TV Educativa e trará produção de mais de uma década dos caiapós
Jotabê Medeiros
Deverá ser abrigada pela TV Educativa (TVE) a TV Aldeia Virtual, projeto dos índios Caiapó, do Mato Grosso. A informação é do secretário para o Desenvolvimento das Artes Audiovisuais, Orlando Senna, que acertou um acordo na semana passada com o cacique Raoni, da tribo Caiapó, para a instalação do programa.
A TV Aldeia Virtual teria, inicialmente, um horário na grade da TVE, exibindo programas produzidos pelos índios. "É um projeto com a cara do (Marshall, teórico canadense) McLuhan, a 'aldeia global', mas é principalmente um passo na luta para o Brasil ter uma primeira TV indígena.
Os Estados Unidos já têm umas 30, assim como o Canadá e a Austrália", disse o secretário Orlando Senna.
O canal de TV é uma velha bandeira da tribo Caiapó, que conta com uma população entre 12 mil e 15 mil índios, uma das maiores e mais organizadas do País. "Eles já têm inclusive acervo", diz Senna. O material será editado e produzido na Aldeia Cachoeira, Terra Indígena Kapoto/Jarina, que fica nos municípios de Peixoto de Azevedo e São José do Xingu (MT). Ali, vivem 600 caiapós.
Esse será o primeiro canal indígena do Brasil, sediado no território Caiapó, no Mato Grosso, e contará ainda com apoio técnico da TV Educativa. O MinC teria reunião com Eugênio Bucci, da Radiobrás, para conseguir apoio. O projeto todo é uma iniciativa da Fundação Raoni, instituição formada por lideranças indígenas e organismos nacionais e internacionais, e que desenvolve projetos na área de educação, cultura, agricultura e ecoturismo.
Orlando Senna considera de suma importância e urgente a instalação desse canal, na perspectiva da democratização da televisão brasileira. "Ter um canal indígena é um passo importante no sentido da diversidade cultural", afirma.
O que o MinC está fazendo até agora, informa o secretário, é facilitar o trabalho dos caiapós. "Facilitamos seu acesso às leis de incentivo e estamos dando uma assessoria para a montagem do seu canal, além de agendarmos contatos com outras áreas do governo". Os índios escolheram um horário na TVE, antes mesmo de lutar por uma concessão de TV, porque preferem a TV aberta, segundo Senna.
Os "caiapós filmadores" já fazem vídeos e filmam em 35 mm há décadas, mas ainda não tinham um espaço para exibir sua produção. Ganharam prêmios em festivais como o JVC, no Japão, e em Los Angeles, nos Estados Unidos.
Entre seus documentários, estão registrados depoimentos dos mais velhos das tribos, além da discussão de questões fundiárias e ocupações. "O material é muito artesanal no que se refere à feitura, mas é porque eles querem que seja assim", diz Senna.
Os caiapós também adotaram uma prática que faz sucesso entre os índios navajos, norte-americanos: eles dão câmeras aos índios jovens, que filmam suas experiências cotidianas, sem nenhuma determinação estética. "O conteúdo é bem diferente do que a gente conhece", afirma o secretário.
OESP, 14/11/2003, p. D4.
PIB:Sudeste do Pará
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- TI Capoto/Jarina
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