Legistas chegam para necropsiar corpos de 3 homens mortos por índios

Correio do Tocantins-Palmas-TO - 13/12/2001
Requisitado pela Fundação Nacional do Índio (Funai), para efetuar a necropsia e a identificação e determinar a causa da morte de três homens assassinados há cerca de 15 dias na reserva Apyterewa, dos índios Parakanã, chegou neste final de semana a Marabá o legista Eualt Oliveira, 66, do Instituto Médico Legal Renato Chaves, de Belém. Ele veio acompanhado do odontolegista Jones Mota e até o fechamento desta edição, aguardava a chegada dos corpos.

Desde domingo, segundo informou o superintendente da Polícia Federal no Pará, Geraldo Araújo, agentes da PF, acompanhados de funcionários da Funai, se deslocaram para São Félix do Xingu, onde se localiza a reserva, a fim de resgatar os cadáveres dos posseiros Nilson Ferreira Dias, Joel Cardoso de Oliveira e Edval de Jesus do Nascimento, mortos a tiros pelos índios durante confronto na mata.

Eualt Oliveira, o mesmo legista que periciou os corpos dos 19 sem-terra mortos em 1996, acredita que os cadáveres sejam removidos para o Centro de Perícias Científicas de Marabá, onde será feita a perícia. Porém, ele supõe que será um trabalho difícil, uma vez que as mortes aconteceram há cerca de duas semanas e os corpos já estão em estado de decomposição muito adiantado. "Se foram abandonados na mata, talvez já tenham sido semidevorados pelos animais", disse ao CORREIO DO TOCANTINS.

A área onde se deu o conflito tem extensão de 980 mil hectares e ali vivem 304 índios cujas terras foram invadidas por mais de duas mil famílias de trabalhadores rurais. O superintendente Geraldo Araújo disse acreditar que seus policiais e outros agentes do governo federal encontrariam muitas dificuldades, mas garante que eles estavam preparados para cumprir a Liminar de Reintegração de Posse concedida à Funai em junho passado pelo juiz federal de Marabá, Francisco Alexandre Ribeiro, da Subseção Judiciária Federal de Marabá.

O maior problema, para Araújo, será retirar do local os invasores, muitos dos quais andam armados e se negam a sair das terras indígenas. Se resolverem sair pacificamente, os invasores não têm para onde ir e aí surge mais um problema social, como tantos que envolvem a ocupação de terras no sul do Pará.

O conflito entre índios e posseiros deveria ter sido resolvido há muito tempo se houvesse maior entrosamento entre as autoridades federais e estaduais. Elas foram avisadas desde o início da invasão, no começo deste ano. A primeira investida na terra parakanã ocorreu no lado oeste da reserva, às margens do rio Xingu. Depois, veio a decisão do juiz Francisco Ribeiro, que até hoje não foi cumprida pela polícia.

Falhas

A visita de agentes da Funai na região do igarapé Taboca, em São Félix do Xingu, para avisar os invasores da decisão da Justiça, também não surtiu nenhum efeito. As polícias Militar e Civil, além da Polícia Federal, alegaram poder jurisdicional específico e ausência de meios técnicos e financeiros para não intervir no conflito. Isto acabou deixando frente a frente os dois grupos armados.

Não é de hoje e nem a primeira vez que a terra Apyterewa é invadida. No lado leste, ao norte de Tucumã, a primeira invasão começou em 1986, com a entrada na área das madeireiras Perachi e Maginco. É verdade que, na época, a área não era ainda reconhecida como terra indígena. Porém era terra da União. Isto é, propriedade do Estado brasileiro. E não terra privada, disponível para qualquer um ou para qualquer negócio, como a exploração ilegal do mogno, por exemplo.

De 1986 a 1992 os madeireiros não deixavam ninguém entrar na área. Queriam, com isso, explorar o mogno com mais tranqüilidade. Mas, a partir de 1992, data da promulgação do decreto do presidente da República da época, Itamar Franco, que reconhecia a área como terra indígena, mudaram-se as estratégias: os madeireiros levantaram as barreiras e incitaram a entrada de pequenos e médios produtores na área, criando assim um gigantesco problema social.
PIB:Sudeste do Pará

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