Caiovás do MS param estrada

OESP, Nacional, p. A6 - 15/01/2007
Caiovás do MS param estrada
Grupo quer que TRF permita enterro de índia em área que fora invadida

João Naves

Um grupo de 200 índios da etnia guarani-caiovás está bloqueando a Rodovia MS-289 desde sexta-feira. Eles querem autorização da Justiça Federal para transferir o corpo de Churitê Lopes, de 70 anos, e enterrá-lo na Fazenda Madama. Churitê foi assassinada na terça-feira, quando participava da invasão da propriedade, com cerca de 180 índios da Aldeia Jaquapery.

Os caiovás reivindicam a posse da fazenda, que possui 2.600 hectares e ocupa parte das terras da aldeia. A propriedade fica entre os municípios de Coronel Sapucaia e Amambaí, extremo sul de Mato Grosso do Sul, na divisa com o Paraguai.

Até sábado, o corpo de Churitê foi velado na aldeia, à espera de autorização para o enterro na fazenda. No mesmo dia, foi comunicada a decisão do Tribunal Regional Federal (TRF) de São Paulo, negando o pedido, o que deixou os índios revoltados. Ela foi então sepultada na aldeia, mas os caiovás decidiram insistir e cobrar da Justiça sua transferência para a área da fazenda. Como forma de pressão, decidiram bloquear a rodovia.

A morte de Churitê ocorreu logo depois da invasão da Fazenda Madama por 180 índios, no dia 4. Na terça-feira, eles foram expulsos do local por cerca de 40 homens armados. No confronto, Churitê levou um tiro no peito e morreu. O índio Valdeci Ximenes, de 22 anos, também levou um tiro na perna.

O grupo de caiovás invadiu a propriedade armado com flechas e facões. Durante a ocupação, o cacique Francisco Fernandes foi preso sob acusação de roubar um trator, o que aumentou a tensão no local. De acordo com os índios, cerca de 40 homens chegaram na fazenda atirando e a maioria dos caiovás fugiu para a mata. Depois da morte de Churitê, os índios protestaram pelas ruas e praças de Dourados.

Desde o assassinato, a Polícia Federal de Ponta Porã vem interrogando testemunhas, mas o responsável pelo crime ainda não foi identificado.O procurador da República na região, Charles Stevan da Mota Pessoa, acha que o crime pode ter sido cometido por milicianos contratados. O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) acredita que jagunços - "braço armado dos fazendeiros" - tenham matado Churitê.

OESP, 15/01/2007, Nacional, p. A6
PIB:Mato Grosso do Sul

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