Incêndio consome aldeia indígena e deixa 500 índios sem comida

TVCA / Diário da Notícia - 19/10/2007
Há três dias a alimentação de aproximadamente 500 índios de Mato Grosso está comprometida. Um incêndio acidental destruiu toda a aldeia Halataikwa, do povo indígena Enawene Nawe, localizada às margens do rio Iquê, região noroeste do Estado. Quatro pessoas ficaram feridas no incêndio. Duas mulheres - uma senhora de mais de 50 anos e uma jovem - sofreram queimaduras mais graves e ainda estão internadas no Hospital de Brasnorte, cidade nas imediações da aldeia.

O incêndio acidental começou por volta das 23h de segunda-feira (15), quando uma moradora tentava matar insetos com uma rama de palha. Uma fagulha atingiu uma casa de palha e deu inicio ao fogo, que se espalhou rapidamente por toda a aldeia. Não foi possível conter as chamas e em poucos minutos as 12 grandes casas foram atingidas.

O povo Enawene Nawe tem como costume armazenar dentro das casas os mantimentos, as flautas de rituais e utensílios domésticos que foram consumidos pelas chamas. No momento do acidente, poucas pessoas se encontravam na aldeia e por isso não foi possível salvar quase nada.

A falta de alimentação preocupa entidades ligadas ao povos indígenas. Os Enawene estão em um período de entressafra e, nessa época do ano, os estoques de comida são armazenados nas casas. Com o incêndio esses estoques foram todos queimados juntamente com os utensílios domésticos utilizados para preparação dos alimentos. E ainda: a queimada do material de pesca dificulta a obtenção da principal fonte protéica da alimentação enawene.

Na sexta-feira (19) uma equipe formada por membros de Organizações Não-Governamentais (ONGs), Funai, governo estadual, Funasa, entre outros, vão chegar na cidade de Brasnorte. Depois a equipe vai seguir levando alimentos para as famílias indígenas. Mas este atendimento emergencial demanda tempo e um grande volume de combustível para o transporte dos itens necessários até à aldeia, que fica distante das cidades do entorno e o acesso é feito unicamente por via fluvial.

De acordo com a Operação Amazônia Nativa (OPAN), os Enawene encontram-se em uma situação de calamidade. Eles estão dormindo no chão ao relento, ameaçados pelas fortes chuvas características deste período do ano. Foi elaborada uma lista com as demandas emergenciais e outra com os recursos necessários para a reconstrução das casas.

Reconstrução

É grande a quantidade de material utilizado para a reconstrução das casas e a distância entre a aldeia e o local onde fica o material, demanda grande quantidade de combustível para o transporte. A perda quase total das ferramentas e utensílios inviabiliza a reconstrução da aldeia que, em condições normais, levaria cerca de dois meses para ser realizada.

Segundo a OPAN, outro agravante é o fato de que a área onde foi construída Halataikwa (veja na foto) é pobre em recursos materiais utilizados para a cobertura das casas e a sua construção - finalizada em dezembro de 2006 - exauriu todo material disponível na região.

Além de seus objetos de uso cotidiano, os Enawene Nawe perderam praticamente todos os seus documentos e por isso eles não conseguem acessar os pequenos recursos financeiros oriundos das aposentadorias e dos auxílio maternidade. Muitos, por não possuir conta bancária, guardavam suas economias em casa e parte destas também foi consumida pelo fogo.

O fogo também consumiu roupas e indumentárias de rituais. No momento do incêndio muitas mulheres estavam na roça de mandioca ou tinham saído para buscar água - uns dos poucos momentos do dia em que elas tiram o konete, uma saia de uso ritual - e por isso muitas delas ficaram sem este traje de uso cotidiano e obrigatório.

Outro caso

Não é a primeira vez que os Enawene Nawe enfrentam esta situação. Em setembro de 2003 um outro incêndio, também acidental, queimou toda a aldeia. No entanto, nesta ocasião, mais pessoas estavam no local e foi possível salvar grande parte dos pertences, o que facilitou a posterior reconstrução.

Saúde

A saúde também está em risco uma vez que no momento existem inúmeros casos de gripe na aldeia e nestas condições isto fatalmente vai evoluir para pneumonia. É nesse sentido que se dá o esforço para aquisição de materiais para as adequações emergenciais.

Custo de vida Enawene

Mesmo os Enawene Nawe tendo um sistema relativamente autônomo, cada casa Enawene custa uma média de R$ 12.800, sem pensarmos valores de mão de obra e material que são de responsabilidade dos Enawene Nawe. Se pensarmos os valores por família para reconstrução das casas temos uma média de R$ 1.618, já que várias famílias moram em uma mesma casa. Os dados foram divulgados pela Opan.

Atenção

A FUNAI, FUNASA, Casa Civil, além de pessoas individualmente já estão entrando em contato e se mobilizando para contribuir com os Enawene Nawe. A OPAN disponibilizou uma conta bancária para receber contribuições que serão integralmente utilizadas para resolver as conseqüências provocadas pelo grave acidente. Quem quiser colaborar pode ligar para a Opan no telefone (65) 3322 2980.

As necessidades materiais imediatas são as seguintes:

Lonas para abrigos (cerca de 32 rolos - 50x08); 100 machados; 150 facas; 120 facões; 12 Cavadeiras; 50 enxadas;200 limas; 200 redes; panelas de alumínio de 50 e 100 litros; galões de 20 e 50 litros; bacias médias e grandes de alumínio; milho (base alimentar fundamental para eles) e material de pesca (anzóis e linhadas) e combustível (óleo diesel, gasolina e óleo náutico) para transporte e construção da nova aldeia.

PIB:Oeste do Mato Grosso

Áreas Protegidas Relacionadas

  • TI Enawenê Nawê
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