O desembargador do Tribunal Regional Federal (TRF-1ª região), Fagundes de Deus, suspendeu a liminar de Interdito Proibitório concedida pelo Juiz Jeferson Scheneider da 2o Vara Federal da Seção Judiciária do Mato Grosso, que impedia aos indígenas da etnia Enawene Nawe a realização de sua pescaria ritual no rio Preto, região de Juína-MT.
A área em questão encontra-se fora da Terra Indígena Enawene Nawe, no entanto como consta do despacho do desembargador "pelo menos desde 1999 um grupo de Enawene Nawe tem se dirigido pelas águas do rio Preto com a finalidade de realizar o seu ritual Yankwa, que conforme esclarece trecho de tese de doutorado sobre a referida etnia, além de possuir cunho religioso constitui-se em fonte de alimentação de toda a comunidade indígena da reserva".
Mesmo antes da suspensão da liminar os Enawene já se encontravam no rio Preto, tendo em vista que para eles trata-se se uma obrigação com os espíritos Yakariti e o não cumprimento desse dever poderia acarretar em mortes e doenças para a comunidade indígena.
No dia 06 de março, os Enawene foram surpreendidos pela visita de agentes da Polícia Civil e o proprietário da área onde estavam acampados. Segundo relatos dos Enawene, as pessoas chegaram com suas armas em punho ao acampamento, onde só havia crianças, o que causou grande correria e alvoroço, chamando a atenção dos adultos que trabalhavam na barragem de pesca.
Segundo o indígena Lalowalohiene, que estava no local, os Enawene questionaram o fato de eles estarem armados, pois os Enawene estariam só pescando. "Ele disse, que era o trabalho dele. Eu disse para ele que não queremos problema com ninguém, só queremos pescar. Enawene só fica no rio, estamos trabalhando pro nosso ritual, só isso. Para que revólver? Não somos bandidos".
Outro indígena que presenciou a cena, Kameroseene, demonstra sua indignação ao relatar os fatos. "Que isso, mostrar revólver para criança? Isso é muito errado. Criança pequena corre, se machuca, pai dela fica muito triste. Todo mundo fica triste". Ainda segundo os relatos dos indígenas, após quatro horas que essas pessoas saíram do acampamento de pesca foi possível ouvir vários disparos com as armas de fogo.
"Nós escutamos muito tiro, eles atiraram bastante. Enawene não fica com medo, mas criança fica. Meu filho pediu para ir embora, mas eu disse que não podia, pois temos que trabalhar pro Yankwa", contou Lalowalohiene.
Espera-se que agora, não haja mais hostilidades contra os indígenas na região, tendo em vista o caráter pacífico dos Enawne e seu desejo exclusivo de realizar o seu ritual, salientado no despacho do Desembargador Fagundes de Deus: "De se observar que as narrativas das testemunhas e documentos oferecidos aos autos demonstram que, até o momento a conduta dos índios tem sido pacífica, com observância das suas tradições".
PIB:Oeste do Mato Grosso
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- TI Enawenê Nawê
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