Funai de Tabatinga pede ajuda para tirar índios das drogas e do álcool

Portal G1 - 18/03/2008
O tráfico de cocaína em Tabatinga (AM) está trazendo conseqüências dramáticas para as comunidades indígenas na região amazônica. O administrador regional da Fundação Nacional do Índio (Funai), David Félix Cecílio, disse que parte dos índios ticuna (ou tukúna) estão viciados em cocaína e álcool. O problema é ainda maior quando os jovens indígenas são aliciados para transportar a droga em embarcações.

Tabatinga faz parte da tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru. No local, a Polícia Federal (PF) apreendeu 1,5 tonelada de pasta base de cocaína em 2007.

Segundo Félix, sete cidades estão entre os alvos principais dos traficantes. "Tabatinga, Benjamin Constant, São Paulo de Olivença, Amaturá, São Antonio do Içá, Japurá e Tonantins são os locais mais afetados. As comunidades indígenas de Umariaçu I e II são as mais próximas de Tabatinga. É onde há o maior número de jovens viciados."

A Funai de Tabatinga é responsável por 230 comunidades indígenas na região do Amazonas e compreende 54 mil índios. "Estou pedindo socorro para tirar os nossos jovens indígenas do vício da cocaína e do álcool. São crianças entre 10 e 16 anos. Isso é preocupante porque começamos a registrar casos de crimes entre índios e alguns casos de suicídio", disse Félix.

Para o dirigente indígena, o problema se intensifica quando os jovens consomem cocaína com bebida alcoólica. "Já fiz de tudo para evitar a entrada de bebida na comunidade, mas isso está acontecendo às escondidas. A Funai não tem poder de polícia e não podemos fazer muita coisa. Os pais de família estão ficando preocupados com essa situação", afirmou Félix.

Guerrilha

Para a Funai, no Alto Solimões, onde está concentrada a maior parte dos índios do Amazonas, o problema é a questão geográfica. "O batalhão das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) invade o território indígena. Não temos controle disso. Esses estrangeiros não reconhecem os caciques brasileiros como autoridades no local. As invasões são constantes e por vários pontos, principalmente pelo Peru. Fica difícil assim. A última invasão aconteceu em dezembro", disse Félix.

A Polícia Federal e o Exército em Tabatinga negam que integrantes das Farc desrespeitem a soberania territorial brasileira. "Estamos na faixa de fronteira com Santa Rosa (Peru) e com Letícia (Colômbia). Os nossos vizinhos invadem nossa terra e trazem drogas para cá. Muitos ainda usam nossos jovens para transportar a droga", disse o administrador regional da Funai.

Félix disse que as invasões em território indígena não ocorre apenas para o tráfico de drogas. "É comércio de todo tipo. Vai desde roupas a outros objetos como brinquedos e perfumes que são vendidos por aqui."

Medida social

Para coibir o acesso dos jovens indígenas às drogas, o administrador regional da Funai afirmou que projetos sociais, desenvolvidos dentro das próprias comunidades, podem ser a saída para o vício da cocaína e do álcool. "Temos de ocupar o tempo da nossa juventude com estudo. Uma proposta que julgo ser interessante é a capacitação profissional do jovem indígena. Só assim ele vai ficar distante da abordagem de traficantes", disse Félix.


Saúde

A Fundação Nacional da Saúde (Funasa) informou que o elevado consumo de álcool e droga na região já foi identificado e faz parte da estratégia de atendimento à população indígena local. "Procuramos desenvolver, em articulação com o Ministério da Saúde, um plano de saúde mental para a população indígena. Estamos desenvolvendo um centro de atendimento médico e psicólogo com diretrizes étnicas e culturais. Treinamos gestores de saúde para isso", disse Flávio Nunes Pereira, coordenador de atendimento à saúde indígena da fundação.

Ele afirmou que a Funasa realiza ações básicas, como prevenção de doenças transmissíveis, imunização, controle alimentar para evitar a desnutrição, pré-natal, pós-parto e cuidados especiais a recém-nascidos. "O fato de ser uma área de fronteira já é um problema. O agravante é ser uma população indígena com convívio social degradante e influências externas que provocam a desestruturação social dos índios", disse Pereira.
PIB:Solimões

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