Questões Indígenas: nossa fé também não deve ser invadida - Gilmar Curioni

Dourados Agora - www.douradosagora.com.br - 11/09/2008
A ausência de justiça que ronda os dois lados que lutam pela demarcação das áreas indígenas no Mato Grosso do Sul é tão evidente que todos os setores envolvidos, de forma surpreendente, têm demonstrado em suas manifestações um grande respeito pelos opostos.

Os produtores rurais reconhecem a forma agressiva e equivocada como aconteceu a colonização nessa região e em todo o Brasil. Concordam com o diálogo no sentido de que esse episódio seja de alguma forma reparada ou ao menos amenizado.

Por outro lado, os povos indígenas sabem da importância de viverem em paz com seus vizinhos brancos, com quem convivem em simbiose e, não desejam que os danos a eles causados pelos colonizadores sejam reparados ou repassados com a mesma ausência de critérios dos quais foram vítimas.

Não encontrei até agora ninguém ou nenhuma instituição que fosse favorável à forma injusta e, porque não dizer insana com que a legislação brasileira trata esse assunto, onde todos, sem exceção percebem que alguém, dentro do estado brasileiro, cometeu no passado um grande erro ao criar essas leis. E a classe política, que aprovou isso na época, deixou passar a oportunidade de evitar essa injustiça readequando e definindo com clareza a questão das demarcações de terras indígenas.

O resultado disso é que estamos vivendo nos últimos tempos uma insegurança nos setores produtivos e um fomento à discórdia onde todos os brasileiros, índios ou brancos, únicos que deveriam estar interessados e envolvidos no caso, nada ganham, mas perdem. Discórdia é perda.

A solução para casos como esse, onde a injustiça impera para todos os setores é a unidade dos segmentos da sociedade. Mostrando nossa insatisfação e apoiados pelos políticos que elegemos conseguiremos mudar a forma que desejam usar para corrigir a injustiça praticada contra os irmãos indígenas, sem penalizarmos a economia do nosso estado e a produção de alimento que é fundamental para o Brasil e para esse setor que tanto tem sofrido, especialmente em nossa região, sem os incentivos necessários para competir com os países desenvolvidos e, principalmente, sem uma política agrícola decente. Setor com tanta competência que precisa ser colocada em prática e estimulada, e pra isso quer ser presenteado com a paz e o sossego que qualquer cidadão necessita para trabalhar.

Esse é o momento de juntarmos todas as forças para que venha a vitória, não é momento de darmos voz àqueles que querem apenas se aproveitar dessa situação para se promoverem politicamente ou desferirem golpes contra instituições no sentido de elegerem um "culpado" tentando justificar suas frustrações como forma de amenizar seu próprio sofrimento.
Devemos continuar apoiando o povo indígena e também as idéias legítimas dos produtores rurais, grupo do qual faço parte. Mas não podemos admitir que certas pessoas venham tirar o brilho desse belo movimento pacífico, ferindo nossos princípios Cristãos e ideológicos, tentando banir a fé da vida das pessoas, colocando outros culpados para esses fatos, quando está muito claro onde, quando e porque ocorreram as falhas e quem é o único responsável por essa desastrosa demarcação: O Estado Brasileiro.

Se houveram ONGs ou outros organismos articulando demarcações foi devido a própria legislação, erroneamente aprovada pela classe política, dar legalidade à injustiça. Parte dessa mesma classe política hoje sobe nos palanques dizendo apoiar os produtores rurais.

Sem conhecimento de causa, por nunca terem estado ativamente dentro de suas comunidades religiosas ou por tê-las abandonado diante dos primeiros ventos contrários e para tentarem justificar sua ausência de fé, essas pessoas acabam, com suas irresponsáveis e falsas declarações, arrancando uma das únicas coisas bonitas, fortes e que atravessa séculos e séculos, passando por nossos avós e pais até nós: que é a nossa fé. Fé essa que temos o dever de passar para nossos filhos já que é a única herança que dura para sempre e que, de acordo com nossa crença e experiência, os levará a verdadeira felicidade.

Não entrem nessa onda caros líderes rurais, porque assim estarão ferindo justamente aqueles que nada têm contra vocês ou contra essa causa. Muitos, como eu, fazemos parte dela e todos torcem pelo nosso sucesso. Sucesso esse que será de todos.

Dando voz a pessoas desestruturadas emocionalmente vocês ferirão uma multidão que tem fé e ama a igreja. Ferir a igreja é ferir o povo que a compõe.

A igreja é mãe. Quem renuncia a igreja, renuncia a mãe e, portanto, fica sem mãe. Quem não tem mãe, não tem como ter Pai. Quem não tem Pai, não tem Deus e, portanto, não tem nada.

*Presidente da Fundação Terceiro Milênio.
PIB:Mato Grosso do Sul

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