Índios consomem água suja em Amambai

A Gazeta News - www.agazetanews.com.br - 15/11/2008
Há cerca de 40 dias praticamente sem água potável, índios guarani-kaiowá da Aldeia Limão Verde em Amambai estão recorrendo a bebedouros de gado de uma fazenda vizinha a reserva e até poças de água da chuva no interior da aldeia para matar a sede, tomar banho e cozinhar.

De acordo com a Funasa (Fundação Nacional de Saúde) responsável pelo abastecimento de água nas aldeias indígenas da região, o desabastecimento na reserva que tem uma população superior a 1.100 habitantes, segundo a Fundação Nacional do Índio (Funai) foi por conta de pane na bomba do único poço artesiano que abastece a reserva indígena.

"Nesse período de 40 dias quatro bombas foram trocadas e as quatro acabaram queimando, uma delas por conta de descarga elétrica e as outras três devido a problemas no transformador que causou oscilação de energia", informou Davi Pereira, chefe do Pólo Base da Funasa em Amambai, ao relatar que medidas já estão sendo adotadas e nessa segunda-feira (17) uma equipe do órgão de Campo Grande deverá vir a Amambai para tentar solucionar o problema.

Situação de calamidade- Apesar de a Funasa anunciar que está buscando solução para o problema, nesse período de aproximadamente 40 dias onde praticamente toda a reserva indígena de 668 hectares pereceu com falta de água, um dos bens mais precioso para a manutenção da vida, toda a população da aldeia, inclusive mulheres e crianças estão vivendo em verdadeira situação de calamidade pública, buscando água em lagoas e bebedouros contaminados.

Na tarde dessa sexta-feira (14) nossa reportagem acompanhou a situação desespero que as donas de casa indígena estão passando para dar de beber aos filhos e fazer os alimentos.

Sem terem onde buscar água, as mulheres estão apanhando água para todos os fins, beber, cozinhar e lavar, em dois reservatórios de água destinados ao abastecimento do gado em uma fazenda vizinha a aldeia.

Segundo o proprietário da fazenda, que também é empresário em Amambai, a água utilizada pelos indígenas, que por si só já seria imprópria para o consumo humano, já que os reservatórios estão expostos a céu aberto e não recebem nenhuma espécie tratamento de purificação, também apresenta outro problema, para chegar até os reservatórios de concreto, a água é retirada de um "açude seco" ou seja, água da chuva represada onde o gado bebe, pisoteia, urina e defeca diariamente.

"É uma água completamente sem condições de ser consumida por um ser humano", disse o dono da propriedade que além de arcar com prejuízos, já que com a freqüente presença de seres humanos o gado não se aproxima dos bebedouros, também tem outra preocupação.

"Um dos reservatórios mais usados pelos indígenas tem capacidade de 50 mil litros. Muitas crianças brincam no local e até adentram no reservatório de água para tomar banho o que coloca em risco a vida delas próprias tendo em vista o risco de afogamento", disse com preocupação o produtor rural ao relatar que chegou a construir um cerca ao redor do reservatório para tentar impedir as crianças de entrar na água, mas os próprios indígenas danificaram a cerca.

Capitão aponta morosidade- Procurado pela nossa reportagem o capitão da Aldeia Limão Verde, Nelson Castelão ressaltou que os problemas de falta de água na reserva indígena estão sendo freqüentes nos últimos tempos e as reclamações para a construção de um novo poço para aumentar a demanda no fornecimento não têm sido atendidas.

"Logo que começou o problema de falta de água na aldeia procuramos a Funasa, mas o atendimento está demorando a acontecer. Também procuramos a Prefeitura de Amambai para pedir o envio de caminhões pipa com água para atender a população da aldeia, mas a resposta que tivemos é que a Prefeitura não dispõe de um caminhão compatível para o transporte de água potável e, portanto não poderia atender sem que alguém assinasse um termo de compromisso se comprometendo pela saúde de quem consumisse a água trazida. Diante dessa situação ficamos sem ter a quem recorrer e a população passou a correr risco de saúde ainda maior, consumindo águas de represas formadas pela chuva e de bebedouros de gado", disse o líder indígena.

Aulas também foram prejudicadas- Como toda a população da aldeia, a falta de água também acabou prejudicando as aulas na Aldeia Limão Verde.

Segundo o diretor da escola local, professor Aurélio de Oliveira, desde o mês de outubro, quando começou o problema, a escola tem liberado os alunos na metade das aulas por conta da falda de água potável para consumo.

Solidariedade- Na manhã dessa sexta-feira, após detectarem o problema, integrantes do SAVE (Serviço de Atendimento Voluntário a Emergências) com o emprego de um caminhão pipa da Prefeitura de Amambai cedido ao Corpo de Bombeiros local, apanharam água potável na Sanesul e distribuíram para várias famílias da reserva indígena.

No período da tarde, também dessa sexta, outra viagem, desta vez realizada por funcionários da Prefeitura, levou água em algumas caixas de água na aldeia, entre elas, na caixa de água da escola da reserva indígena, paliativo que pouca coisa resolveu, tendo em vista a grande demanda e o forte calor que faz.

Funasa vai estudar implantação de mais um poço

Por telefone o chefe do Pólo Base da Funasa em Amambai, Davi Pereira, informou que o poço existente na Limão Verde, quando em pleno funcionamento é auto-suficiente para atender toda a comunidade local, mas o órgão deverá realizar estudos para a implantação de mais um poço artesiano na reserva indígena.

Segundo Davi, a reivindicação para a construção do novo posto partiu do "Conselho Indígena" da aldeia durante reunião realizada na quarta-feira passada (12) e o pedido será encaminhado à direção da Funasa em Campo Grande para ser analisado.

Para a comunidade indígena local a construção de outro poço artesiano, além de garantir a expansão dos serviços, também irá garantir o abastecimento permanente, mesmo caso uma das bombas apresente problemas como está ocorrendo agora.

O serviço de abastecimento de água prestado pela Funasa às comunidades indígenas nas aldeias é totalmente gratuito para os consumidores.
PIB:Mato Grosso do Sul

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