O ex-prefeito de Pedro Afonso, Antero Batista de Abreu Cordeiro,
95 anos, em depoimento histórico e exclusivo ao Jornal do Tocantins,
disseca o massacre dos Krahô, 62 anos depois, como um protagonista
que testemunhou um dos momentos mais dramáticos dessa nação
indígena e da história tocantinense, um fato que vem sendo resgatado
do limbo e ganhando a atenção de estudiosos e de pesquisadores.
O massacre já foi citado em vídeos, recentemente foi destacado na dissertação de mestrado do advogado tocantinense Jorge Carneiro que conquistou o título de mestre em direito agrário pela Universidade Federal de Goiás (UFG) enfocando a trajetória do povo Krahô. Carneiro analisou desde a imigração desse povo das margens do Rio Farinha, em Carolina (MA), nos meados do século XIX até sua chegada no Porto do Vau, hoje Itacajá, na época distrito de Pedro Afonso. Carneiro abordou o massacre com detalhes e com conhecimento de causa porque é natural de Itacajá e cresceu brincando com crianças Krahô.
Ele conta que no massacre desferido por fazendeiros e por policiais morreram 26 índios e um cidadão de Itacajá chamado Sebastião Pereira. E aponta que quem encabeçou a chacina foi o fazendeiro Mundico Soares, filho de Agostinho Soares que era amigo dos Krahô e que lhes dava reses para comer como complemento alimentar. Agostinho Soares também tinha vindo do Maranhão e da região do Rio Farinha como os Krahô e havia aportado no Porto do Vau onde estabeleceu a Fazenda Ventura. Mundico Soares assumiu o controle da fazenda em meados da década de 1930 com a morte de Agostinho Soares e mudou o modo de se relacionar com os índios e chegou a um confronto com os mesmos por causa das reses que eles matavam. Juntando-se a outros fazendeiros e com ajuda da policiais partiram para o massacre.
Depois da dissertação de mestrado de Jorge Carneiro, a Editora da Universidade Federal de Goiás (UFG) em parceria com a Unitins acaba de colocar no mercado a coletânea A (Trans) Formação Histórica do Tocantins, organizada por Odair Giraldin, com artigos de 13 professores tocantinenses, goianos e norte-americanos e que também enfoca o massacre dos Krahô em 1940. Segundo comentários veiculados pela mídia, quem também já se debruça sobre o tema do massacre dos Krahô para escrever um livro é o escritor Moura Lima, um especialista em trazer para o mundo das letras mitos, fatos e personagens da história tocantinense.
O massacre aconteceu, mas poderia ter terminado em um genocídio com a extinção do povo Krahô se não tivesse entrado em ação o então prefeito de Pedro Afonso, Antero Batista Cordeiro (Doca) a quem os índios recorreram em busca de refúgio e cuja ação provocou uma intervenção federal, prisão dos fazendeiros, a instalação de um posto de proteção aos índios e fez com que o Interventor Federal de Goiás, Dr. Pedro Ludovico Teixeira, baixasse um decreto-lei que criou a Reserva Indígena Kraolândia nas terras de Mundico Soares.
Ao longo de várias décadas, Antero Batista Cordeiro tem evitado discutir abertamente o assunto, seja por temer um possível atentado por parte dos fazendeiros, seja para evitar aborrecimentos ou porque ficou marcado pelo incidente ao ver muitos dos seus amigos na prisão. Todavia, agora, aos 95 anos, por insistência do Jornal do Tocantins, ele aborda o início da amizade dos índios com Agostinho Soares, segundo relatos que ouviu de velhos Krahô, analisa as causas que levaram ao massacre, discute sua participação no episódio, fala sobre a ajuda que recebeu do CAN (Correio Aéreo Nacional) e a atuação corajosa que evitou o genocídio desse povo.
PIB:Goiás/Maranhão/Tocantins
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