Karaidju é o primeiro indígena a se tornar técnico em agropecuária em Santa Catarina

Jornal de Santa Catarina - http://migre.me/6fez - 31/08/2009
Ronaldo Antônio Barbosa quer aplicar na sua aldeia, em Biguaçu, o que aprendeu em Araquari

Rogério Kreidlow | rogerio.kreidlow@an.com.br

Mexer com plantas e terra é especialidade dos antepassados de Ronaldo Antônio Barbosa, ou Karaidju, como o rapaz de 20 anos é conhecido na aldeia indígena Yynn Moroti Werá, em Biguaçu, na Grande Florianópolis. Para aprimorar esse hábito e levar novos conhecimentos a seu povo, Ronaldo resolveu ser técnico em agropecuária. No dia 10 de julho, formou-se como o primeiro índio guarani de Santa Catarina a terminar o curso.

Os estudos foram no Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), também conhecido como Escola Agrícola de Araquari, no Norte do Estado. Ronaldo deixou a aldeia no começo de 2008 e passou um ano e meio estudando e morando a 150 km de casa, em regime de internato. Aprendeu técnicas de cultivo de plantas, gado, peixes e foi até monitor de um minhocário - espaço onde minhocas produzem húmus, que aduba a terra.

Com o curso, acredita que abriu portas para seu povo.

- Estudei sempre com o objetivo de levar o conhecimento daqui de fora para minha aldeia. Também quis incentivar outros jovens de lá a estudar - sonha.

Embora o corte de cabelo, as roupas, o tênis e o telefone celular não lembrem em nada as origens indígenas, é no jeito, na fala e nas pulseiras artesanais que a personalidade guarani aparece. Ronaldo é filho de pai branco e mãe indígena, mas passou a maior parte da vida com ela em aldeias. Nelas, aprendeu a falar o tupi-guarani e a respeitar as hierarquias indígenas.

Ele nasceu em São José, viveu dez anos na aldeia do Morro dos Cavalos, em Palhoça, e hoje mora na aldeia de Biguaçu. Concluiu o ensino fundamental em escola pública. Para ser formar no ensino médio, fez supletivo em uma escola indígena. Na aldeia, ajudou na roça, onde os moradores plantam para consumo próprio.

Meta é chegar à universidade

O curso técnico em agropecuária só foi possível com a ajuda da Associação Rondon Brasil, ligada à Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e que atende a índios no Sul e Sudeste. O técnico Oswaldo Bento Filho foi quem encorajou o rapaz.

- Incentivamos o estudo para que os jovens tenham futuro e não percam sua cultura. Queremos que eles se insiram no mundo, mas sempre cultivando as raízes - explica.

Professores como Estelamares Dezen (avicultura), Jonas Espíndola (zootecnia) e Benjamim Teixeira (produção aquícola) afirmam que Ronaldo foi aluno dedicado.

- Chegou um pouco tímido. Aos poucos, começou a fazer participações pertinentes. Era de falar pouco, mas bom observador. Até comprou coelhos da escola e levou para criar na aldeia - lembra Estelamares.

Ronaldo quer continuar os estudos, tentar vestibular para agronomia na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Recebeu proposta para aplicar os conhecimentos em agropecuária na fazenda do amigo de um tio, no Rio de Janeiro.

- Quem sabe, se for bom, fique por lá durante um tempo. Mas faço tudo isso com o objetivo de voltar para minha aldeia e ajudá-los.

ALDEIAS GUARANI

Os guaranis são povos que habitavam originalmente a Costa Leste da América do Sul, indo desde o Nodeste do Brasil, até Uruguai, Argentina e adentrando o Paraguai. Com a vinda dos portugueses, acabaram aculturados (perdendo a identidade), morrendo por causa de doenças contagiosas ou de guerras com brancos. Alguns núcleos sobreviveram.

938 ÍNDIOS

É a população guarani mapeada em aldeias catarinenses. No Estado, são 18 aldeias guarani.
PIB:Sul

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