Campanha Guarani em aldeia Jarará: muitas lutas e conquistas

Cimi - http://www.cimi.org.br/?system=news&action=read&id=4155&eid=352 - 28/09/2009
A aldeia Jarará, que do povo Kaiowá-Guarani, situada a poucos quilômetros da cidade de Juti, Mato Grosso do Sul, organizou nos dias 24 e 25 de setembro um encontro na comunidade para refletir sobre a campanha "Povo Guarani, Grande Povo". Aproximadamente 40 pessoas, entre professores, lideranças, mulheres, jovens e crianças, participaram das atividades que teve como eixo principal a questão da terra. A reunião possibilitou entrar num processo de reflexão, divulgação de informação e processo formativo, na perspectiva da busca de unidade e fortalecimento da comunidade.

Membros da aldeia lembraram a história das famílias Kaiowá-Guarani que pertencem ao grupo originário dessa região nos tempo do tekoha guasu e a forma como foram expulsos pelos latifundiários de suas terras tradicionais. Igualmente, a forma em que foram dispersados e obrigados a viver na periferia da cidade de Juti e outras cidades, por muito tempo. Fizeram memória dos indígenas que tombaram por "querer enfrentar o branco", pois chegou um momento em que era muita ousadia pretender voltar ao tekoha. Um dos membros na aldeia lembrou que já existiam muitos "criminosos" na região que eram matadores de índios. "Um dia -lembra o indígena- um criminoso que matou um índio me prendeu na estrada e falou que se nós entrássemos dentro de nossa terra não íamos sair vivos".

No meio da conversa lembraram que foram oito as famílias que participaram da primeira retomada da fazenda que tirou terras indígenas na beira do Rio Amambaí. A região já estava cheia de fazendas e os índios expulsos de suas terras viviam pedindo favor, trabalhando e morando muitos na rua. "Já não tínhamos onde morar. Começamos fazer barracos na beira da estrada; muitos parentes já tinham ido embora em outras regiões de Mato Grosso do Sul. Porém os Kaiowá-Guarani nunca deixam de tudo sua terra, sempre estamos voltando nela", manifestou uma das mulheres da comunidade que participou de todas as lutas de seu povo em busca da recuperação do yvy marane´y (terra sem males).

Depois de serem despejados em três oportunidades, a "ousadia" deu resultado e conseguiram recuperar uma pequena porção do que foi o território tradicional na região, que formava parte de um mesmo espaço geográfico onde também disputavam sua permanência na terra outros grupos ou núcleos de famílias extensas kaiowa-Guarani. Muitas famílias voltaram na terra. Das oito famílias que inicialmente fizeram a primeira retomada, atualmente são 85 na aldeia Jarará, ocupando 470 hectares aproximadamente já demarcada. Embora, existem outros processos no judiciário que fazem parte da reivindicação da comunidade e áreas onde os grupos técnicos de identificação (GTs) da Funai ainda deverão identificar áreas tradicionalmente ocupadas pelos vários grupos ou comunidades Kaiowá-Guarani que estão na região de Amambaí, Juti, Caarapó, e outros municípios. A aldeia Jarará, com muita luta pela terra, também conquistou escolas, luz, água e posto de saúde, com apoio do governo federal e a prefeitura local, porém, ainda luta por mais dignidade, autonomia, e sobre tudo pela restituição total do antigo território tradicional.

Cultura de múltiplas expressões

A Campanha Guarani partilha nas comunidades os conteúdos do Mapa e Caderno guarani, publicação produzida mediante uma pesquisa de vários anos na região das fronteiras entre Brasil, Argentina e Paraguai. Segundo o Mapa e o Caderno, continuam existindo na área do Brasil, Argentina e Paraguai quatro povos guarani muito semelhantes nos aspectos fundamentais de sua cultura e organização sócio políticas, porém, diferentes no modo de falar a língua guarani, de praticar sua religião, as diversas tecnologias que aplicam na relação com o meio ambiente.

Tais diferenças, que podem ser consideradas pequenas do ponto de vista do observador, cumprem o papel de marcadores étnicos, distinguindo comunidades políticas exclusivas. Esse grupos reconhecem a origem e proximidade histórica, lingüística e cultural e, ao mesmo tempo, diferenciam-se entre si como forma de manter suas organizações sócio-políticas e econômicas.
PIB:Mato Grosso do Sul

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