Folha de Boa Vista - http://www.folhabv.com.br/fbv/noticia.php?id=80922 - 26/02/2010
Em menos de dois meses, mais de 100 focos de incêndios foram registrados em terras indígenas de Roraima. A devastação inclui reservas ambientais e áreas produtivas e já é considerada a terceira maior registrada no Estado.
Estima-se que o fogo atingiu entre 50 mil e 100 mil hectares de áreas de transição caracterizadas pela vegetação de lavrado e floresta amazônica.
Nos últimos dias, chuvas atípicas que caíram na região extinguiram parte das chamas, mas em um único dia de sol, como no domingo passado, 38 novos focos surgiram. Anteontem, depois de um dia de chuvas, os satélites registraram três novos focos de calor. Ontem, mesmo após uma manhã de chuvas, já eram oito focos.
Como o inverno só inicia em abril e a previsão dos órgãos de meteorologia é de intensificação do fenômeno El Niño até o final de março, as autoridades investem em trabalhos de conscientização junto aos agricultores, apesar de considerar inevitável o surgimento de novos incêndios de grandes proporções.
Desde o dia 1 janeiro deste ano até anteontem, satélites do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) registraram 1.500 focos de calor, sendo 109 só em terras indígenas. Foram 30 na Raposa Serra do Sol, 48 na São Marcos, 2 na Truaru, 1 em Santa Inês, 8 no Anaro, 10 em Araçá, 1 na Malacacheta, 7 na Yanomami, 1 na Canauanim e 1 no Aningal.
Os incêndios atingem principalmente os municípios de Mucajaí, Iracema, Alto Alegre, Amajari e Pacaraima, na região norte do Estado, que compreendem o chamado 'Arco de Fogo'.
De acordo com o coordenador do Prevfogo (Centro Nacional de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais) do Ibama, Elmo Monteiro, enquanto permanecer a cultura do emprego do fogo para o plantio, os incêndios florestais continuarão ocorrendo em Roraima. Só na comunidade do Bananal, na terra indígena São Marcos, por exemplo, as chamas destruíram 3 mil hectares da vegetação.
A líder indígena macuxi Zeneide Peres de Sousa, 27, da comunidade Curicaca, na terra indígena São Marcos, afirma que os índios perderam plantações, pastos e animais nos incêndios. Até a casa de um indígena, que trabalha como brigadista, foi queimada pelas chamas enquanto ele combatia o fogo em outra região.
Os rios estão com o nível abaixo do normal, e as lagoas estão secas. Em Curicaca, os indígenas precisam caminhar 9 km para buscar água no rio mais próximo, que ainda tem condições de abastecê-los. Cinco comunidades indígenas da Raposa Serra do Sol também sofrem com a falta de água. A Funasa (Fundação Nacional de Saúde) se comprometeu a construir poços artesianos para solucionar o problema.
Segundo informações do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), o maior incêndio registrado no Estado, entre os anos de 1997 e 1998, atingiu 12 mil km² de floresta primária (área intocável) e 20 mil km² de lavrado. Incluindo outras áreas naturais e antropizadas, a devastação chegou a 40 mil km². (A.T.)
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