Lideranças indígenas reclamam que escolas estão em situação precária

CIR - http://www.cir.org.br/noticias.php?id=695 - 09/03/2010
Faltam material didático, carteira escolar e professores, além de os prédios de várias escolas estarem ultrapassados e não atenderem mais as demandas
A manhã de segunda-feira, terceiro dia da 39ª Assembleia dos Povos Indígenas de Roraima, realizada desde sábado na Comunidade do Araçá, região do Amajari, foi dedicada ao debate sobre a educação indígena. Embora tenha havido avanços no acesso à educação superior, ensino da língua materna e formação profissional de jovens indígenas, a avaliação geral é de insatisfação com a qualidade de ensino oferecido nas comunidades.
Os relatos são inúmeros sobre a falta de estrutura dos prédios das escolas, falta de material didático, transporte escolar e da falta de compromisso de professores não indígenas. Representantes das Coordenações Regionais de Educação Indígena, da Divisão de Educação Indígena da Secretaria Estadual de Educação, expuseram os problemas enfrentados por ele.
Jaime Lima Araújo, coordenador regional do Centro de Educação da Região do Baixo Cotingo, em Normandia, denunciou que existem alunos levando carteira escolar para casa, depois das aulas, para que no dia seguinte não estudem em pé, pois faltam carteiras para a maioria das turmas.
"Falta material didático. Enquanto a Secretaria de Educação diz que tem que preparar professores para dar ensino de qualidade, isso fica difícil porque falta material. Na cidade existem alunos apresentando trabalho com data-show, mas lá [em escolas indígenas] existem professores procurado quadro-negro para trabalhar em sala de aula", disse Jaime Lima.
Ele disse que a comunidade reivindica, mas as resposta é de que o governo está resolvendo, mas sem que os problemas sejam solucionados ao longo dos anos. Não desistimos e estamos tentando parceria com lideranças e organizações. É um trabalho difícil e não vamos desanimar", comentou conclamando as lideranças indígenas a elaborarem um documento a ser entregue para a Secretaria de Educação pedindo resolução de todos os problemas.
O diretor do Centro Regional Indígena da Serra da Lua, Gerson Raposa Felipe, relatou que falta pessoal de apoio, como zeladores, além de transporte para equipe de apoio pedagógico ir até as escolas, além de material permanente. Disse ainda que naquela região também falta carteira escola e citou que existem escolas com 450 alunos e apenas 40 carteiras escolares.
Ele fez uma denúncia grave sobre o Censo Escolar. Segundo afirmou, em 2009 vários alunos ficaram fora do censo, porque os técnicos da Secretaria de Educação não consideraram a sala de aula de professores voluntários, os quais tiveram o contrato temporário encerrado, mas decidiram permanecer voluntariamente para não deixar os estudantes sem aula.
Felipe ainda relatou as dificuldades que as comunidades enfrentam para que adolescentes e adultos estudem. Ele lembrou que uma portaria baixada pela secretária Ilma Xaud impede a criação de novas modalidades de ensino em área indígena até segunda ordem. Várias comunidades cobram implantação de Ensino Fundamental e de Educação de Jovens e Adultos (EJA).
Assim como em várias outras regiões, ele citou a falta professores em algumas disciplinas, principalmente de língua materna de 1ª a 4ª série. "Nosso desafio é o fortalecimento dos centros regionais, que é o elo da comunidade com a Secretaria de Educação. Precisamos ter uma proposta elaborada de fortalecimento e reconhecimento dos centros, principalmente com a garantia da língua materna onde há escola indígena com ensino diferenciado", disse.
Representando a Coordenação Regional Indígena do Amajari, a professora Sandra da Silva cobrou também a implantação de modalidades de ensino e apontou problema na Comunidade de Aningal, onde o transporte escolar para o ensino médio está sendo feito de forma irregular.
"É um caso sério, pois nossos filhos chegam lá duas ou três horas da tarde e estudam somente três horas, porque o transporte escolar não atende no horário certo. É uma falta de respeito com o povo Sapará", criticou.
Ela afirmou também que os pais estão exigindo a implantação do Ensino Médio na Comunidade do Ouro, mas já receberam resposta de que a implantação de qualquer modalidade está suspensa. A comunidade está decidida a implantar o ensino de qualquer forma, mesmo que os idealizadores estejam sendo ameaçados de processo.
Ela reclamou ainda da inexistência de obras de reforma e ampliação nas escolas indígenas. "De 2008 a 2010 foi só uma escola reformada e uma em processo de construção. Em outra a reforma já iniciou", disse acrescentando que há problemas na construção da proposta pedagógica de várias escolas.
CONCURSADOS - Sandra da Silva também falou como representante da Organização dos Professores Indígenas (Opir), entidade da qual é tesoureira. Ela lembrou da mobilização que as lideranças indígenas fizeram contra o concurso público realizado pelo Estado, permitindo que as vagas fossem ocupadas por não indígenas.
Sandra disse que muitos professores não índios concursados abandonaram a sala de aula, outros mudaram de municípios ou se transferiram para Boa Vista, deixando as escolas indígenas sem professor. "As comunidades os receberam bem, deram acolhida, mas não teve jeito. Avisamos que não ia dar certo e infelizmente a maioria deixou a desejar", lamentou.
Ela disse que o pedido para cancelamento do concurso público ainda está nas mãos do Ministério Público e a organização espera um posicionamento daquele órgão para o final de março.
A secretária estadual de Educação, Ilma Xaud, foi convidada para participar da Assembleia dos Tuxauas, mas não compareceu nem enviou representante. Uma representante da Divisão de Educação Indígena esteve presente e disse que vai levar os questionamentos para a secretaria.

Representante Yanomami pede socorro
para escolas criadas pelo governo

O representante do povo Yamomami, Huti Valdomiro, falou das dificuldades que as comunidades enfrentam na terra indígena. Ele é professor e representante da Hutukara Associação Yanomami. As condições das escolas na reserva são muito mais difíceis que as enfrentadas nas escolas das cidades e do interior.
Além da precariedade na estrutura física, falta material escolar e merenda, pois o Governo do Estado sempre alega que não tem avião para levar os alimentos para as aldeias aonde só se chega por via aérea. "Todos os anos, os yanomami estão falando dos problemas da educação, mas não está resolvendo", disse para os participantes da assembleia.
No mês de março do ano passado, segundo ele, o Governo do Estado criou algumas escolas na terra yanomami, mas não tem dado apoio mínimo a essas unidades. "Temos 33 regiões e 252 comunidades. Em quase todas essas comunidades temos escolas, algumas nunca foram reconhecidas, outras em 2009 foram paralisadas, outras criadas e mesmo assim não estão recebendo apoio", afirmou.
Na sexta-feira passada, representantes da Hutukara estiveram no Ministério Público Federal para denunciar os problemas e pedir apoio para que interceda pelos índios yanomami a fim de melhorar a qualidade de educação.


Alunos e professores da escola Santa Luzia
pedem reforma do prédio e mais segurança

A comunidade de Três Corações, no Município de Amajari, está cobrando reforma e ampliação urgente da escola estadual Santa Luzia. Alunos e professores denunciaram que o prédio da unidade não suporta mais a demanda nem tem estrutura para garantir um ensino de qualidade.
Eles disseram que as salas não têm sequer ventilador para amenizar o calor na hora da aula, principalmente no período da tarde, quando os estudantes são obrigados a estudar no calor, que prejudica a concentração e o rendimento escolar.
Os 400 estudantes do Ensino Fundamental, Ensino Médio e Educação de Jovem e Adulto (EJA) reclamam dos banheiros precários e da falta regular de limpeza porque a escola não dispõe de pessoal de apoio.
Os professores confirmam a denúncia e dizem ainda que eles e a direção da unidade são obrigados a limpar o único banheiro e a varrer as salas toda a manhã porque não há pessoal para fazer a faxina. "Vamos para a sala de aula cansados", reclamou uma das professoras.
Os educadores afirmam que há mais de quatro anos vem sendo solicitada da Secretaria Estadual de Educação a obra de reforma e ampliação do prédio, mas sempre os agentes do governo vêm fazendo promessas que irão atender a reivindicação, mas que nunca são cumpridas.
Eles alegam que a situação é tão crítica que a comunidade decidiu desocupar uma sala que servia de depósito de material de construção de um muro que nunca chegou a ser concluído para servir de sala de aula.
O corpo docente e discente reclama ainda da falta de segurança, pois não há servidores para controlar a entrada e saída de pessoas no portão da escola. Os educadores relatam que já houve o caso de um pai de aluno que invadiu a unidade para espancar um professor.
Como a escola fica localizada na RR-203 (acesso à serra do Tepequém), próximo do entroncamento com a BR-174 (acesso à Venezuela), duas estradas de grande movimentação, a falta de segurança deixa a comunidade escolar vulnerável.
Outra reclamação diz respeito à infestação de morcegos no forro do teto da escola. Os riscos são principalmente às crianças, que estudam pela manhã, que ficam expostos aos excrementos dos animais que ficam espalhados pelo chão.
Os professores reclamam ainda da falta de biblioteca, sala de reforço e sala para os professores. "Somos uma das escolas maiores da região e pedimos socorro para que a gente possa oferecer uma educação de qualidade", disse uma professora.

Conselho Indígena de Roraima
Índios:Educação

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