Entre o ruim e o menos pior

Folha de Boa Vista - http://www.folhabv.com.br/ - 23/03/2010
Quem conhece a região do Amajari sabe que ali existem várias comunidades indígenas que vivem em contato permanente com a sociedade envolvente. A maioria delas é formada por uma população muito jovem que vive na simplicidade, mas feliz.

A Comunidade do Araçá é uma delas, onde há muitas crianças e jovens que sonham com uma vida muito melhor do que seus pais tiveram. Evidente que isso só será possível por meio da educação diferenciada que a escola proporcionar, dentro da realidade que eles vivem.

Mas a felicidade estampada no rosto das pessoas contrasta com a tristeza estampada no semblante da escola. No Araçá, a realidade da única escola, Tuxaua Raimundo Tenente, há muito tempo pede por melhorias nas condições de trabalho e também do prédio.

Lá a internet chega. Com dificuldade de conexão, mas chega. No entanto, o laboratório de informática, há duas semanas, teve que ser fechada para que a direção pudesse guardar a merenda escolar, pois não havia espaço para armazenar os alimentos, colocados com razão como prioridade acima dos computadores.

Afinal, a alimentação é essencial para que os alunos possam estudar com tranquilidade. Mas não era para ser assim. O governo tem a obrigação de proporcionar estrutura para a escola, a fim de que a direção do estabelecimento não tivesse que escolher entre alimentação e a informática.

Embora garantir a qualidade da merenda seja essencial, também é imprescindível que essa geração atual esteja incluída digitalmente, pois o futuro melhor que crianças, adolescentes e jovens sonham passa por essa educação de qualidade.

As escolas do interior, em especial as das áreas indígenas, sobrevivem aos solavancos, tendo que escolher entre o ruim e o menos ruim. A direção dessas unidades está cansada de enviar ofícios e outros documentos pedindo reforma, pessoal de apoio, professores e melhores condições de trabalho.

Até quadro negro os professores vivem cobrando, mas a resposta que recebem é por meio de indagação que na verdade trata-se de uma ironia: "Mas por que vocês querem uma lousa?", como se fosse um absurdo pedir um quadro para ministrar aula para os alunos.

Professores, alunos e direção reclamam da falta de estrutura, da falta de material, do dinheiro do próprio bolso gasto para comprar material de expediente ou didático. Enquanto os institucionais falam de uma educação de primeiro mundo, em Boa Vista, no interior a realidade é bem cruel.

A campanha eleitoral se aproxima. Quase que diariamente vai algum candidato "visitar" essas comunidades. Nova-velhas promessas aparecem, mas ninguém vai às escolas para saber como a educação está. Prometem mundos e fundos, mas ninguém se preocupa com a qualidade da educação.

Seria bom que agentes do governo fossem ao Araçá para saber o que está ocorrendo por lá. Lá vive uma comunidade jovem e alegre, mas tem uma escola triste que precisa de socorro urgente.

* Jornalista - jesse@folhabv.com.br - Twitter: www.twitter.com/jessesouza - Blog: www.pajuaru.blogspot.com

http://www.folhabv.com.br/fbv/noticia.php?id=82643
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