Novo Progresso à beira do confronto armado

O Liberal-Belém-PA - 18/09/2003
A rodovia Santarém-Cuiabá, em Novo Progresso, no sudoeste do Pará, pode a qualquer momento virar palco de um confronto armado entre centenas de fazendeiros, madeireiros, pequenos agricultores e 40 agentes da Polícia Federal que há uma semana estão protegendo técnicos e agrimensores da Fundação Nacional do Índio (Funai) no trabalho de demarcação de 1,8 milhão de hectares da reserva Baú-Mecranotire, onde vivem 120 índios caiapós.

No dia mais agitado dos protestos contra a demarcação, ontem, a rodovia foi fechada por cerca de mil pessoas, o comércio da cidade de Novo Progresso parou e vários homens armados entraram na floresta dispostos a retirar "na bala" o pessoal da Funai. A ordem do Ministério da Justiça é que a demarcação seja logo concluída e que as cerca de 3,5 mil famílias residentes dentro de 400 mil hectares onde supostamente estaria localizada a reserva sejam indenizadas e deixem o local.

Desgraça - "Nós passamos a manhã toda em Brasília, correndo pelos gabinetes do governo, mas ninguém quis nos receber. Parece que estão querendo ver o circo pegar fogo", reclamou o deputado federal Asdrúbal Bentes (PMDB). Ele contou que 16 deputados da bancada paraense estiveram no gabinete do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e do ministro da Casa Civil, José Dirceu, para fazer um apelo para suspender a demarcação da reserva e discutir a situação das famílias sem obter nenhuma resposta.

Bentes foi ácido: "Se acontecer uma desgraça em Novo Progresso, a responsabilidade será toda do governo". O deputado disse que o impasse sobre a demarcação da área Baú já dura mais de doze anos, porém nunca atingiu tanta gravidade, com a possibilidade até de mortes, como agora.

"Sei que não se pode culpar o governo do presidente Lula por um problema que vem desde o governo Collor, mas é preciso sensibilidade para entender o drama de milhares de famílias que foram atraídas para a região, criaram seus filhos e expectativa de vida melhor na área, e agora foram intimadas pelo governo a deixar o local".

Caçador - O presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Novo Progresso, Agamenon Menezes, afirma estar cansado de "segurar a revolta" das famílias que vivem dentro da reserva. Sobre a possibilidade de um confronto armado, foi taxativo: "Caçador quando entra na mata atrás da paca já leva a arma pronta para atirar".

O empresário Luiz Darin Barzanela considera a situação no município "fora de controle", fazendo questão de dizer que ninguém na região é contra os índios. "Eles são nossos amigos, jogam futebol conosco no final de semana, e recebem da gente doações de alimentos". A revolta, observa, é contra a Funai e o governo federal, que estariam "brincando com vidas humanas".

Agamenon disse que a Polícia Federal começou a demonstrar um comportamento de hostilidade com as lideranças. "Nós vamos pedir na manhã desta quinta-feira ao pessoal da Funai e aos policiais federais para que eles saiam numa boa na região. Se eles não quiserem sair, não sei o que pode acontecer", resumiu o produtor.

Padre - Ele informou que hoje em Novo Progresso, além do comércio, que já está parado desde ontem, devem também parar as escolas e os bancos, que fecharão suas portas. "Mulheres, crianças e idosos estão na estrada lutando pelo direito de viver com dignidade e produzir nesta região", disse Agamenon.

O padre Edno Lopes, que está em Brasília tentando uma solução pacífica para o impasse, lamentou a falta de diálogo das autoridades federais com as lideranças e setores representativos de Novo Progresso. "As tentativas de negociação têm fracassado e isso é muito ruim para quem está buscando a paz e o entendimento em favor da população".
PIB:Sudeste do Pará

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