Passo Fundo enterra mais uma criança

Zero Hora-Porto Alegre-RS - 23/09/2003
Corpo de índio sumido havia uma semana foi encontrado em matagal, elevando para oito o número de mortes na Região Norte


A confirmação da morte do menino caingangue Júnior Reis Loureiro, 10 anos, cujo corpo foi encontrado ontem em Passo Fundo, instalou de vez o pânico na região norte do Estado, que contabiliza números trágicos contra a infância no ano: oito crianças e adolescentes mortos e dois desaparecidos.

Em Passo Fundo, as crianças olham com desconfiança para estranhos. Os pais, desesperados, procuram as rádios pedindo orientação.

Júnior foi visto pela última vez no domingo, 14 de setembro. Ontem, um operário da construção civil passava por um matagal à margem da RS-153, na saída de Passo Fundo para Soledade, e se surpreendeu com o que parecia ser um corpo, coberto por compensado. A notícia se espalhou e atraiu a atenção de moradores. Catarina Reis, mãe do caingangue, foi levada por vizinhos ao local e não resistiu à cena. Reconheceu o filho pelas roupas e passou mal.

- Quero que matem o bandido que fez isso. Se eu encontrar ele, sei o que devo fazer - gritava.

O corpo apresentava lesões no pescoço, provavelmente quebrado, indicando que possa ter sido morto por esganadura. Não havia indícios de abuso sexual.

A notícia apavorou pais e crianças de Passo Fundo, já assustados com a localização de uma ossada, provavelmente de criança, no sábado. A esse clima, somam-se outras duas mortes de crianças na cidade. As grades que cercam a escola em que Júnior estudava, no bairro Nossa Senhora Aparecida, não diminuíram a sensação de insegurança. As aulas foram suspensas, e os professores foram à casa dos pais de Júnior para prestar solidariedade. No programa A Manhã é Nossa, da Rádio Uirapuru, a comunicadora Ieda Almeida atendeu telefonemas de pais em pânico.

- Eles precisam trabalhar e têm medo de deixar as crianças irem sozinhas à escola - diz Ieda.

Uma chamada especial foi montada pela rádio orientando os pais para que cuidem dos filhos, não deixem as crianças sozinhas e as impeçam de ficar nas ruas. Os donos de churrascarias e postos de combustíveis onde Júnior costumava vender seus cestos se reuniram e pretendem contratar um vigia para ficar no local. Eles temem que o caso se repita com outros meninos pedintes. Júnior foi velado na capela do Cemitério dos Ribeiros e será enterrado hoje na Reserva de Ventarra Alta, em Erebango.
PIB:Sul

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