Fazer um estudo detalhado da terra indígena, identificando áreas sagradas, de pesca, de caça e de outras riquezas naturais que podem ser explorada de forma sustentável, para planejar o melhor uso do lugar.
Essa é a principal tarefa do etno-zoneamento, uma palavra que aos poucos vem sendo discernida no vocabulário das comunidades indígenas do Acre, e agora está sendo discutida também com outros Estados, mostrando a forma de atuação daqui, avanços, conquistas e propostas de melhorias.
O evento que está possibilitou essa troca de experiências com outras ações também segmentadas aos povos indígenas, é o seminário "Troca de Experiências em Levantamento Participativo em Terras Indígenas" que aconteceu por dois dias, e encerrou ontem, em Rio Branco.
Realizado pela coordenadoria de Zoneamento Ecológico-Econômico da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, o seminário foi promovido através do Projeto de Gestão Ambiental Integrada (PGAI), que tem como uma de suas diretrizes o zoneamento no Estado.
Coordenado por Magaly Medeiros, participaram também do seminário, o secretário Francisco Pinhanta, da Secretária Indígena do Estado, e diversos representantes de comunidades indígenas do Acre, representantes do Instituto Social Ambiental (Isa), da ACT Brasil, o prefeito de Macuxi, de Roraima e outros.
Arquivo histórico - Na primeira fase do zoneamento no Acre, quando começaram a surgir os primeiros resultados, desde 2000, iniciou também a discussão do etno-zoneamento, que é específico às comunidades indígenas. Isso foi colocado em prática inicialmente, em uma parceria com o BID, e agora o trabalho continua com os recursos do PGAI.
Os índios Katukina do Capina e da cabeceira do Acre, foram os primeiros a escutarem e assimilarem o etno-zoneamento através do trabalho da Sema. Em 2004 foi a vez dos índios Manchineri e Kaxinawá, do Mamoadate, e para 2005, o trabalho se estende aos índios Yawanawá e Katukina do rio Gregório, Kaxinawá do Caucho e da Colônia 27 e os Kaxinawá Katukika, de Feijó.
Mapa participativo - Magaly explica que as terras indígenas do Mamoadate estão em fase de conclusão do trabalho de etno-zoneamento. E foram as atividades realizadas nela, o principal exemplo do sucesso do trabalho durante o seminário.
Pinhanta diz que o etno-zoneamento está sintetizado em três fases nas aldeias. A primeira é de levantamento geral dos dados, depois é verificado se todos da comunidade indígena estão de acordo com o que foi definido e por fim, é feito à entrega dos mapas.
Magaly diz ainda que os técnicos do projeto apenas auxiliam na produção dos mapas, mas são os próprios índios quem definem tudo que serão colocados nos mesmos.
Troca de experiência - Ensinar e aprender, essa foi a grande troca durante o seminário. O antropólogo da Ong ACT Brasil, por exemplo, Júlio Borges, mostrou a experiência realizada com os povos indígenas do Parque do Tumucumaque, no Amapá, em que fizeram o mapeamento cultural do lugar.
O prefeito Orlando Oliveira, de Macuxi, cidade de Roraima que fica na reserva Raposa Serra do Sol, conhecida pelos polêmicos conflitos, veio ao Acre mostrar o trabalho que realiza no município, mas afirma que a visita é mais de aprendizado. "Aprender com o modelo acreano é a chance de melhorar o que fazemos", diz. Para os organizadores, o seminário foi uma grade troca de experiências que serve para intensificar o etno-zoneamento e melhorar as ações que ele realiza.
Frutos colhidos - Presidente da Organização de Povos Indígenas (OPI), Manoel Kaxinawá diz que o zoneamento permite o uso adequado e sem destruição da terra indígena.
Representando as 14 etnias do Acre, mais três do sul do Amazonas e uma do noroeste de Rondônia, ele diz que esse processo há muito tempo vem sendo discutido nas aldeias, e que agora, tudo está mais claro. "Na prática o etno-zoneamento é novo, mas há tempos o discutimos. E só foi possível iniciá-lo nessa política atual de gestões do Estado."
Durante o seminário Toya Manchineri falou da experiência do etno-zoneamento na aldeia dos Manchineri, no Mamoadate, em que detectaram em suas terras, a copaíba como grande produto. Hoje, com apoio da Secretaria de Assistência Técnica e Extensão Florestal (Seater), eles estão fazendo oficinas para exploração da copaíba, e também de plano de manejo. "A gente precisa saber usar o que temos sem destruir", diz o índio.
http://pagina20.uol.com.br/19112005/c_0919112005.htm
PIB:Acre
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